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ID: 2690

João 16.12-15

Auxílio Homilético

16/06/2019

 

Prédica: João 16.12-15
Leituras: Provérbios 8.1-4,22-31 e Romanos 5.1-5
Autoria: Jilton Moraes
Data Litúrgica: 1º. Domingo após Pentecostes (Trindade)
Data da Pregação: 16 de junho de 2019
Proclamar Libertação - Volume: XLIII

Alguém para nos acompanhar sempre

1. Introdução

O texto de prédica (João 16.12-15) focaliza o momento em que Jesus falou aos seus discípulos da realidade da vinda do Espírito Santo. Eles enfrentariam dificuldades, mas o Espírito os guiaria a toda verdade, estaria ao lado deles, tornando-lhes conhecido o que recebesse do Pai.

O texto de Provérbios 8.1-4,22-31 focaliza a sabedoria, apresentando o Deus Criador e sua infinitude: Quando ele estabeleceu os céus, lá estava eu [...] (v. 27); Eu estava ao seu lado, e era o seu arquiteto; dia a dia eu era o seu prazer e me alegrava continuamente com a sua presença. Eu me alegrava com o mundo que ele criou, e a humanidade me dava alegria (v. 30-31).

O texto de Romanos 5.1-5 focaliza a justificação pela fé, que, graças à mediação de Jesus, nos traz paz com Deus e nos firma na esperança da glória de Deus, enrijecendo-nos para triunfar nas tribulações, sendo perseverantes, aperfeiçoando nosso caráter na esperança da glória de Deus, certos de que essa esperança não nos decepciona, porque Deus derramou seu amor em nossos corações por meio do Espírito Santo, que ele nos concedeu.

O estudo permite reflexão sobre o papel do Espírito Santo na vida de cada um de nós, seguidores e seguidoras de Jesus, e no conteúdo da comunicação apresentada no púlpito nos dias atuais. Sendo essa pregação o meio de transmissão da Palavra, a unção do Espírito é indispensável para que nós, pregadores e pregadoras, comuniquemos o que o Pai tem a ser revelado e nos dá a conhecer pelo seu Espírito. Daí a atualidade e importância do Espírito Santo no púlpito.

2. Exegese

Lançamos mão de leitura comparativa a partir da Nova Versão Internacional (NVI), mais as traduções de Almeida Revista e Atualizada (ARA), Melhores Textos (MT), Bíblia de Jerusalém (BJ), Tradução Interconfessional (TI), A Mensagem (M), e a Tradução Brasileira (TB), visando ampliar o conhecimento e a visão do texto. A perícope enfoca o momento em que Jesus apresentava importantes ensinamentos, visando ao fortalecimento dos discípulos para as duras experiências que se aproximavam.

V. 12 – Tenho ainda muito que lhes dizer, mas vocês não o podem suportar agora.

O contexto histórico é marcado por um tempo de tristeza e despedida. O cenário apresenta Jesus preparando os discípulos para os próximos episódios a serem vivenciados. Eles precisavam estar prontos para enfrentar a tristeza, sem desfalecer, a seguir firmes no amor, apesar de todo ódio que sobre eles adviria. E a firmeza nesse amor os capacitaria a cumprir a missão de compartilhar o amor de Cristo. Perseguidos e angustiados, ainda assim eles viveriam e propagariam a paz que Jesus lhes legara. Havia muito a ser comunicado, mas a tristeza que inundava o coração desses ouvintes impedia o Mestre de transmiti-las de modo completo.

V. 13 – Mas quando o Espírito da verdade vier, ele os guiará a toda a verdade. Não falará de si mesmo; falará apenas o que ouvir, e lhes anunciará o que está por vir.

No capítulo anterior, Jesus já se referia à realidade da vinda do Espírito Santo (15.26): Quando vier o Conselheiro, que eu enviarei a vocês da parte do Pai, o Espírito da verdade que provém do Pai, ele testemunhará a meu respeito. O conteúdo do versículo 15.26 é próximo ao de 16.13. Ambos falam de alguém singular que viria com uma missão específica: 1) quem virá (16.13): o Espírito da verdade (15.26), o Conselheiro; 2) sua missão (16.13): guiará a toda a verdade (15.26), testemunhará a meu respeito; 3) sua singularidade (16.13): Não falará de si mesmo, falará apenas o que ouvir, anunciará o que está por vir (15.26) – enviado por Jesus; provém do Pai.

Em todas as versões consultadas, a tradução do vocábulo designativo da pessoa do Espírito Santo (Jo 16.13) é Espírito da verdade. A Bíblia Mensagem acrescentou o qualificativo “amigo”: Quando, porém, o amigo chegar, o Espírito da verdade. A expressão utilizada no original grego é pneuma tēs alētheias, Espírito da verdade.

Em João 15.26, a palavra utilizada no original grego é paraklētos, alguém ao lado de outro para ajudar. Esta é a missão do Espírito Santo: ele está ao nosso lado como consolador, advogado, defensor, protetor, sustentador; é ele quem nos assiste, é o nosso conselheiro, aquele que aponta o caminho em que devemos andar e que por nós intercede. Os tradutores utilizaram diferentes vocábulos para paraklētos: NVI: Conselheiro, Espírito da Verdade; A21 e NR: Consolador, Espírito da verdade; BJ e TB: Paráclito; ARA: Consolador; BKJ: Advogado, Espírito da verdade; CNBB: Defensor, Espírito da verdade; M: Amigo, Espírito da verdade; MT: Ajudador; NTLH: Auxiliador, Espírito da Verdade.

Todos os vocábulos apontam para a missão do Consolador: estar com os seguidores de Jesus, dando-lhes a assistência e o encorajamento de que tanto careceriam, agora sem a presença física do Mestre. Ao longo da caminhada haveria momentos de solidão, mas eles haveriam de prosseguir, na certeza de que não estavam sós. O Consolador estava com eles e Jesus haveria de voltar (cf. Jo 14.15-18).

V. 14 – Ele me glorificará, porque receberá do que é meu e o tornará conhecido a vocês.

Ainda que a tarefa do Espírito Santo seria capacitar os seguidores de Jesus para vivenciar novas experiências a serem feitas, o trabalho que ele realizaria não seria novo. Hull afirma: “A tarefa do Paracleto era preparar o povo de Deus para enfrentar as novas coisas, que certamente sobreviriam ao longo da  caminhada. Por outro lado, ele anunciaria uma palavra relevante, baseada não em si mesmo, mas numa atualização daquilo que Jesus já revelara acerca do Pai”. Hull é ainda mais contundente ao declarar: “O Espírito Santo não seria a fonte de novos caprichos que impusesse à igreja a tirania do temporário; antes, ele é a fonte que capacita a igreja à compreensão e ao encorajamento para aplicar estas verdades que recebera” (1983, p. 394).

V. 15 – Tudo o que pertence ao Pai é meu. Por isso eu disse que o Espírito receberá do que é meu e o tornará conhecido a vocês.

Esse verso conclui a perícope 16.12-15, sumariando o que Jesus já afirmara sobre a vinda do Consolador: “Precisamos de um guia hábil que nos possa ensinar (cf. At 8.31), que nos possa ajudar a levar a cabo as profundas implicações do evangelho que tanto desejamos compreender e colocar em prática”. Menoud afirma: “A ressurreição de Jesus desencadeia o cumprimento das promessas relativas ao dom do Espírito à humanidade. Jesus ressurreto envia aos apóstolos o Espírito, que ele mesmo havia prometido (Jo 14.16). Doravante o Espírito está presente no mundo como o poder de vida que tirou Jesus da sepultura, ele está agindo na igreja e por meio dela, faz dos crentes novas criaturas, desarraigadas desse mundo passageiro e dirigidas para o reino de Deus que vem” (1972, p. 131).

3. Meditação

O Espírito Santo no púlpito – Qual é o papel do Espírito Santo na vida do cristão? Qual é o papel do Espírito no púlpito? O que é pregação ungida? A qualificação é utilizada, mas a significação nem sempre explicada. Deve ser conhecida pelos resultados na vida do pregador, da pregadora, dos e das ouvintes. Não há prédica ungida sem que a vida de quem a proclama seja ungida. Unção no púlpito resulta da atuação do Espírito na vida do pregador O Espírito do Senhor está sobre mim (Lc 4.18); Deus o ungiu com o Espírito Santo (At 10.38). A atuação do Espírito deve ser vista pela produção dos frutos do Espírito (Gl 5.22).

A razão imutável, a base inabalável, a ênfase incomparável e o alvo inigualável comprovam o papel do Espírito Santo no púlpito.

O Espírito Santo dá à prédica uma razão imutável – A razão de ser da prédica é guiar pessoas à verdade: Mas quando o Espírito da verdade vier, ele os guiará a toda a verdade (16.13a). Somos instrumentos do Espírito para a comunicação dessa verdade. A razão da pregação é sempre apresentar a palavra de Deus. O pregador aprovado maneja bem a Palavra da verdade (2Tm 2.15); reparte sabiamente. E esse trabalho começa na compreensão, interpretação e transporte adequados do texto básico, mas não termina aí, buscamos o Senhor para que a palavra pregada seja fiel à razão imutável da prédica: conduzir pessoas à verdade. A razão para pregar é proclamar a verdade que, pelo Espírito Santo, conhecemos.

O pregador que não apresenta com clareza a verdade do evangelho deixa de ajuntar para a glória do Senhor e passa a vulgarizar a mensagem. Além dessa razão imutável, o Espírito Santo dá à prédica uma base inabalável. O propósito da pregação há de ser sempre apresentar Jesus. O texto é claro: Mas quando o Espírito da verdade vier, ele os guiará a toda a verdade (16.13a).

Não falará de si mesmo; falará apenas o que ouvir – O papel do Espírito Santo é conduzir pessoas a Jesus. Isso fica claro no contexto: Quando ele [o Conselheiro] vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo. Do pecado, porque os homens não creem em mim; da justiça, porque vou para o Pai, e vocês não me verão mais; e do juízo, porque o príncipe deste mundo já está condenado (Jo 16.8-11).

A esse respeito, Paulo declara: Não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê (Rm 1.16). A base da prédica é inabalável porque está firmada no Cristo vivo. O hino de Lutero afirma:

O Verbo eterno vencerá as hostes da maldade.
As armas o Senhor nos dá: Espírito, Verdade.
Se a morte eu sofrer, se os bens eu perder:
que tudo se vá! Jesus conosco está.
Seu Reino é nossa herança!

(HPD 1, 97 / Livro de Canto da IECLB, 481, verso 4).

O Espírito Santo dá à prédica uma ênfase incomparável – A mensagem que proclamamos é a boa nova ao alcance de todos. Pregar é anunciar boas notícias: falar da ação de Deus no passado e suas maravilhas no presente. Mas o que dá singularidade à prédica é o fato de o seu conteúdo não estar ligado só ao passado e presente, mas projetar-se no futuro. O Espírito da verdade [...] lhes anunciará o que está por vir (Jo 16.13).

Não apenas as experiências por eles vivenciadas, mas a volta de Jesus ao mundo: a dimensão escatológica. O anúncio feito logo após a ascensão de Jesus foi claro: Este mesmo Jesus, que dentre vocês foi elevado ao céu, voltará [...] (At 1.11b). Paulo proclamou: O Senhor descerá dos céus [...] E assim estaremos com o Senhor para sempre (1Ts 4.16-17). Pedro manteve essa ênfase escatológica: O dia do Senhor, porém, virá como ladrão. Os céus desaparecerão com um grande estrondo, os elementos serão desfeitos pelo calor, e a terra, e tudo o que nela há, será desnudada (2Pe 3.10). Não é fácil manter a ênfase escatológica na prédica, mas ela torna a pregação incomparável.

O Espírito Santo dá à prédica um alvo inigualável – A pregação ungida proclama Jesus, Senhor: Ele me glorificará, porque receberá do que é meu e o tornará conhecido a vocês (v. 14). Sem que o pensamento de Jesus se torne conhecido, nenhuma pregação será autêntica. A singularidade da pregação está na proclamação de que Deus exaltou Jesus a mais alta posição e lhe deu um nome acima de todo nome que, diante dele todo joelho se dobrará e toda língua confessará que ele é Senhor (Fp 2.9-11). O alvo da pregação não é a exibição do pregador nem o crescimento da igreja, pregamos para glorificar a Jesus e proclamar seu senhorio; o pregador desaparece para que ele apareça – isso torna a pregação inigualável.

Somente a pregação tem razão imutável, base inabalável, ênfase incomparável e alvo inigualável. Sejamos porta-vozes fiéis. Amém.

4. Imagens para a prédica

Não é por um pretenso poder que a pregação é ungida. Alguns recursos são usados para impressionar: mudança de voz para parecer mais angelical; dar ordens ao Senhor para mostrar autoridade; usar chavões para falar da intimidade com Deus. Há até quem ache que a duração do sermão está ligada à unção: quanto mais longo, mais ungido. Pobres ouvintes! O pregador ungido e a pregadora ungida vivem uma vida de oração: a unção depende da nossa dependência e comunhão com o Senhor da pregação. A verdadeira unção não se limita ao púlpito: começa em casa, no trato com a esposa, o esposo, filhos e filhas, e determina o modo como nos relacionamos com as pessoas. O pregador ungido e a pregadora ungida não podem ser convencidos: somos simples porta-vozes, a mensagem é do Senhor; não há por que nos vangloriarmos.

O pregador ungido e a pregadora ungida são constantes estudiosos da Bíblia. Essa é a base e precisa passar por nós para poder alcançar a vida das pessoas ouvintes. O pregador ungido e a pregadora ungida, quanto mais pregam, mais ideias têm para pregar: não nos esgotamos quando vivemos em comunhão com o Senhor. Spurgeon declarou: “Se falamos como embaixadores de Deus, nunca precisaremos nos queixar de falta de assunto, pois a nossa mensagem chega a transbordar de tão cheia”.

O pregador ungido e a pregadora ungida valorizam o ministério da pregação e pregam com satisfação. Paulo afirmou: Ai de mim se não pregar o evangelho (1Co 9.16). Ele sabe que a mensagem ungida aponta para Jesus (1Co 1.23): Nós pregamos a Cristo crucificado [...].

5. Subsídios litúrgicos

(D – dirigente; T – todos; M – mulheres; H – homens)

D: Quando o Espírito da verdade vier, ele os guiará a toda a verdade. Não falará de si mesmo; falará apenas o que ouvir, e lhes anunciará o que está por vir.

T: Vem, Espírito divino, grande ensinador, vem e revela às nossas almas Cristo, o Salvador. Santo Espírito, ouve com favor! Em poder e graça insigne, mostra o teu amor.

M: A sabedoria está clamando, o discernimento ergue a sua voz;

H: nos lugares altos, junto ao caminho, nos cruzamentos ela se coloca;

T: ao lado das portas, à entrada da cidade, portas adentro, ela clama em alta voz:

D: A vocês, homens, eu clamo; a todos levanto a minha voz.

T: Vem, destrói os alicerces do viver falaz, aos errados concedendo salvação e paz!

D: Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo, por meio de quem obtivemos acesso pela fé a essa graça na 
qual agora estamos firmes; e nos gloriamos na esperança da glória de Deus.

T: Vem, reveste a tua igreja de poder e luz! Vem, atrai os pecadores ao Senhor Jesus!

D: E nos gloriamos na esperança da glória de Deus.

T: E nos gloriamos na esperança da glória de Deus.

D: Não só isso, mas também nos gloriamos nas tribulações, porque sabemos que a tribulação produz perseverança; a perseverança, um caráter aprovado; e o caráter aprovado, a esperança.

T: Maravilhas grandiosas outros povos têm; bênçãos venham semelhantes sobre nós também!

D: A esperança não nos decepciona, porque Deus derramou seu amor em nossos corações, por meio do Espírito Santo que ele nos concedeu. (Jo 16.13; Hino 85 [HPD 1]; Pv 8.1-4; Rm 5.1-5)

Bibliografia

HULL, William E. João. In: ALLEN, Clifton J. (editor). Comentário Bíblico Broadman. Rio de Janeiro: JUERP, 1983. v. 9.
MENOUD, Pk. H. Espírito Santo. In: ALLMEN, J. J. von. Vocabulário bíblico. São Paulo: ASTE, 1972.


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Autor(a): Jilton Moraes
Âmbito: IECLB
Área: Governança / Nível: Governança - Rede de Recursos / Subnível: Governança-Rede de Recursos-Auxílios Homiléticos-Proclamar Libertação
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 2018 / Volume: 43
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 50297

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É totalmente insuportável que em uma Igreja cristã um queira ser superior aos outros.
Martim Lutero
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