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ID: 2690

Isaías 6.1-13

Auxílio Homilético

27/05/2018

 

Prédica: Isaías 6.1-13
Leituras: João 3.1-17 e Romanos 8.12-17
Autoria: Hans Alfred Trein
Data Litúrgica: 1º. Domingo após Pentecostes (Trindade)
Data da Pregação: 27/05/2018
Proclamar Libertação - Volume: XLII


 Profecia para corações engordurados

1. Introdução

A visão de Isaías pode ter ocorrido dentro do átrio do templo em meio ao público presente, como um sonho diurno. “O profeta participa conscientemente da visão, olhando, confessando, ouvindo, dispondo-se, protestando” (Schwantes, 2008, p. 49). Recomendo acrescentar os v. 9-13, pois uma vocação sem uma tarefa histórica clara, por mais espetacular que seja, não faz sentido! De fato, a vocação não é algo que ocorre apenas em nossa alma e que nos engrandece e nos torna mais autoconfiantes. É compromisso público! A vocação de Isaías nos interpela: como é que nós recebemos a nossa vocação para o ministério e o que estamos fazendo com ela?

A proposição deste domingo também pode ser entendida como de conversão seguida de uma missão. Isaías é convertido, antes de qualquer coisa. A impureza sentida por Isaías, nos textos neotestamentários previstos, aparece como a essência da carne em contraposição ao renascimento no Espírito. Nicodemos tem dificuldades em entender que nascer de novo é metanoia. Não viver segundo a carne, mas segundo o Espírito nos faz herdeiros e herdeiras de Deus junto com Cristo, de modo que podemos nos dirigir a Deus como Aba.

As mensagens proféticas são históricas, sendo a palavra de Deus para aquele momento sem um valor atemporal. Entretanto, para nós não interessa apenas o que Isaías quis dizer em seu tempo, mas o que cabe dizer agora, para a nossa situação, à luz de Isaías. Manter a tradição é atualizá-la. É passar adiante brasas vivas e não apenas cinzas. Essa também é a nossa tarefa de pregação.

2. Exegese

Nossa perícope está dividida em três partes: os v. 1-5 contêm o espetáculo da visão, contracenando com o emudecimento do profeta de lábios impuros; os v. 6-8 focam a purificação do profeta e preparam seu envio; os v. 9-13 contêm a tarefa profética e a resistência da classe dirigente de Jerusalém a ela. A visão/purificação/audição/vocação/envio ocorre no átrio central do templo (os pinos do pórtico estremeceram, os serafi ns trazem a brasa com um utensílio [espevitadeira/tenaz], a sala se enche de fumaça), possivelmente até durante um culto. Diante da proximidade de Deus, o mundo estremece. Lembra o terremoto, o véu do templo na divisa entre o santo e o profano rasgando por ocasião da morte de Jesus (Mt 27.51s). O relato de Isaías 6.1-13 tem uma estrutura semelhante à de 1 Reis 22.19-28.

A Assíria, por anos uma aliada, começa a insinuar-se como iminente invasora de Judá. A visão deve ser do ano 738 ou 736, data da morte de Uzias, que havia ilegalmente invadido o templo. Não é apenas uma data, é um começo com morte. “Foi um momento de crise; terminou um ‘século de ouro’ (veja 2Cr 26.1-15) e começou uma época de agitação e declínio” (Van de Kamp, 1987, p. 28). Isaías vê Javé como SENHOR, um rei em toda a sua majestade, enchendo o templo com seu manto (o templo terrestre não comporta mais do que as bainhas de sua vestimenta), a terra com sua glória/energia/carga/peso (do hebraico kabod) e a casa/templo com fumaça, possivelmente de um pequeno “altar do incenso de  oferendas vegetais” (Schwantes, 2008, p. 62) que oportunamente se faziam nesse átrio. Uma teofania que se move da esfera divina para a esfera humana, do santo para o profano. A fumaça encobre a visão e a devolve à esfera do mistério. Toda a terra está cheia de energia salvífica. Mas ela não é para “este povo”!

Em sua visão, Isaías participa de um conselho celestial, obtém conhecimento dos planos de Deus. Os serafins (do hebraico sarap/serapim, remonta às serpentes abrasadoras que mordiam o povo no deserto [Nm 21.6,8] e como verbo significa “queimar”. A serpente fazia parte dos símbolos do culto de Jerusalém, figuras cultuais pagãs integradas ao culto javista. Os serafins seriam, então, como no Egito, seres mistos com traços de gente [rosto, pés, mãos], de serpente [corpo] e de aves [asas]), provavelmente mais do que só dois (a formulação é plural e não al), a Bíblia só fala neles em Isaías 6, “devem ser entendidos como divindades vencidas” (Schwantes, 2008, p. 55) que rodeiam o Senhor, os elohim, o exército dos céus estão em postura de serviço. Voam, cobrem os olhos (para não ver Deus) e as genitais (do hebraico réguel, cf. Êx 4.25 e Is 7.20) por causa da santidade de Javé e cantam o triplo santo – o máximo da santidade –, que representa sua exclusividade para Israel. Isaías utiliza muito “o Santo de Israel”. Ele é o outro, separado, totalmente apartado (do hebraico qadosh) do mundo pecaminoso.

Embora a Trindade não fosse ainda um conceito de Deus, no tempo veterotestamentário a ideia de conselho é mais adequada; alguns a veem já embutida no triplo santo de Isaías 6. De qualquer forma, Deus é comunitário e não solitário. O “Santo, Santo, Santo” do culto terreno entra em sintonia com a liturgia celeste. Não deveríamos esquecer essa raiz ou substituí-la por qualquer inovação.

Isaías se dá conta do “beco sem saída em que está metido” e emudece apavorado. “Quisera acompanhar os gritos de louvor dos serafins; porém, teve que ‘silenciar’ (!dmh) porque seus lábios eram úteis para o ‘grito de angústia’, contudo imprestáveis e ‘impuros’ para o louvor” (Schwantes, 2008, p. 61), como, aliás, são os nossos. E não só por causa de sua culpa individual, mas por causa da culpa coletiva. Ele vê o Santíssimo, sendo de lábios impuros, participante de um povo de lábios impuros, e tem consciência de que isso significa sua morte. Seu dilema é resolvido por um dos serafins que traz uma brasa viva do altar, toca os seus lábios, sana sua impureza e perdoa o seu pecado, consagra (torna santa, ou seja, elimina a diferença que o angustiava). Sua boca agora falará por Deus. A pergunta de Deus, em seguida, chama a atenção, por referir-se a si mesmo no plural: quem há de ir por nós? Nessas alturas, Isaías não tem escolha. Deus já o escolheu. Ele não é porta-voz do povo, mas mensageiro de Deus.

Chama a atenção também que Deus não se refere a Israel como “meu povo”, mas a “este povo”, denotando distância. “Este povo” é a elite de Jerusalém que se regala, os dirigentes “que enchem de gordura os seus corações” (Schwantes, 2008, p. 34). E eles vão ouvir, mas não vão entender, vão ver e não perceber. E mais ainda: o próprio profeta é encarregado de tornar insensível o coração “deste povo”, embotar o coração que já estava empedernido, tornar ainda mais pesados os ouvidos, tapar ou colar ainda mais os olhos.

A recepção neotestamentária da profecia de Isaías 6.9-10 é considerável (Mt 13.13-15; Mc 4.12; Lc 8.10; Jo 12.40). O apóstolo Paulo aplica-a aos judeus romanos, dos quais uma parte não aceitou sua pregação a respeito de Jesus Cristo (At 28.26-27) e que, por isso, a salvação de Deus foi enviada aos gentios (28).

“Através de sua ação, o profeta torna ‘este povo’ incomunicável (olhos e ouvidos) e incapaz de pensar (coração – ‘órgão da compreensão entre semitas’” (Croatto, 1989, p. 60); “para o hebraico sede do ‘entendimento’ [não da emoção!]” (Schwantes, 2008, p. 40). Quando fica sabendo do que deve dizer e das consequências, o profeta grita desesperado: Até quando, Senhor? Até a desolação total. Os v. 11 e 12 confirmam que se trata dos governantes (“os homens” são os governantes e não “os habitantes” (Almeida) ou a população em geral, Schwantes, 2008, p. 41). A finalidade última dessa ação profética é que este povo não se converta e seja salvo (v. 10). Enquanto Isaías vê, ouve e dialoga com a esfera divina, a classe dirigente se fecha. Assim como no endurecimento de faraó reside a catástrofe do Egito, a incomunicabilidade e o endurecimento da classe dirigente têm consequências desoladoras.

“Até que estejam desertas:
as cidades sem governante,
e as casas sem “chefe”
e a roça está se desolando em deserto” (Schwantes, 2008, p. 34).

3. Meditação

A tarefa profética é incômoda. Dá a impressão de que sua profecia é apenas confrontação improdutiva, pois “este povo” vai ouvir e não entender, ver e não perceber. O encargo de ainda potencializar o endurecimento do coração vai às raias do absurdo. Não se trata de sentimentos negativos, mas de resistência ao entendimento, por isso seu vínculo com ver e ouvir. Mais dura ainda é a conclusão: não suceda [...] que ele [este povo] se converta e consiga a cura. Então, por que ainda pregar? Quando o coração já está endurecido, a palavra profética serve para evidenciar o endurecimento. Para que não pareça apenas uma diferença de opinião. Lembra, de um lado, a atitude de Javé com Faraó e a missão de Moisés, para furar o seu bloqueio com as pragas do Egito, e lembra também de quando Jesus se refere ao porquê dele falar em parábolas (Mt 13.13-15; Mc 4.12; Lc 8.10; Jo 12.40).

Enquanto escrevo este auxílio, estamos vivendo uma situação de desemprego em massa (14,2 milhões); de flexibilização profunda na legislação  trabalhista em favor do capital; de uma reforma, talvez necessária, mas muito suspeita, por ser inoportuna e sem transparência, da previdência social; de rumores sobre uma reforma política de blindagem de políticos investigados; escancaramento do país ao investimento estrangeiro (terra, empresas, aviação, pré-sal, redes...) ou melhor seria dizer “a venda do país”, e perguntar: por ordem de quem?; de congelamento do orçamento da União por 20 anos, o que terá seus reflexos mais contundentes justamente nas políticas públicas de cunho social. Tudo isso vem acompanhado: a) de uma justiça descaradamente partidarizada; b) de um congresso com sua maioria envolvida em denúncias e investigações de corrupção; c) de uma mídia que não prima pelo jornalismo independente, mas atua corporativamente no interesse próprio, disseminando versões e pós-verdades; d) e de uma polarização rasa e odiosa nas assim chamadas redes sociais. Como louvar a Deus nessa situação?

De ontem para hoje (18.05.17), mais uma delação com provas está implodindo o governo impostor e escancarando toda a quadrilha que vem, há anos, dilapidando o Estado. Estão absolutamente seguros de que vão permanecer no governo. Os que bateram panelas e vestiram verde-amarelo para destituir o governo anterior estão quietos. A população está cansada de ir para a rua, pois percebe as manipulações e observa que nada muda. A democracia está na UTI, arfando pesadamente e agonizando.

O desvio de dinheiro público, a corrupção, as propinas não são delitos de cavalheiros que provocam sorrisos constrangidos; são crimes que têm consequências nefastas concretas. O povo não recebe mais atendimento de saúde. Um exemplo concreto: no Rio de Janeiro, do ex-governador corrupto Sérgio Cabral, uma mulher esperou mais de uma hora no táxi até que fosse liberada uma cadeira de rodas para levar sua mãe para dentro do hospital, sendo que esta estava tendo um AVC; lá dentro esperou mais horas para ser atendida, pois não tinha médico disponível. Bem comentou um jornalista: o governador responsável por essa calamidade não deve ser apenas julgado por roubo e desvio de dinheiro, mas por assassinato! Isso não é má gestão, é crime. E crimes têm consequências perversas. Agora, imagine o profeta Isaías criticando a classe dirigente encastelada no Estado. Não lhe parece óbvio que estão vendo e não percebem, estão ouvindo e não entendem, e que seu coração se endurece ainda mais, executivo, legislativo e judiciário, todos com os corações engordurados por salários indecentes, agarrando-se ao poder e ao seu exercício, cegos, surdos e endurecidos às críticas ou aos alerta do movimento social ou de agremiações e conselhos? Não parece óbvio que tudo isso resultará em desolação? Até quando, Senhor?

Como a situação política, social e econômica mudou muito rapidamente nos últimos meses, cabe perguntar: como está agora, quando você se prepara para a pregação dominical? O desemprego diminuiu? As reformas passaram? O que estão provocando? Estão a serviço do capital e do funcionalismo público de salários indecentes ou das pessoas trabalhadoras, pensionistas, aposentadas, empobrecidas? Mudou alguma coisa no congresso, na justiça, na mídia? As eleições diretas estão garantidas? Quem são os candidatos? O que representam? Há alguma luz no fim do túnel, ou tudo está a indicar desolação contínua? Essa é a desolação do qual fala Isaías. Até quando, Senhor? 

Qual será o efeito a médio e longo prazo de toda essa indecência que grassa no meio político, jurídico e midiático de nosso país? A que cenário nos conduzirá a recusa de nossa classe dirigente em ver, ouvir e entender o que se passa no país? Certamente não seremos mais vítimas de uma deportação ou exílio para outro país. Mas não está fora da realidade pensar que nos tornaremos exilados no próprio país ou que a paciência popular possa chegar aos seus limites e desencadear um conflito civil.

A despeito de sua mensagem profética e de crítica severa a “este povo” e ao reinado, o broto de esperança do toco, ao final, permanece. Javé não retira seu compromisso com todo o povo, por causa da iniquidade de uma geração. Quando a opressão tiver cessado, quando a devastação tiver terminado e os que espezinham a terra tiverem desaparecido, o trono será firmado sobre o amor e sobre ele, na tenda de Davi, se assentará um juiz fiel que buscará o direito e zelará pela justiça (16.4-5).

4. Imagens para a prédica

Apenas o ato “sacramental” purificador de Isaías o dispõe para ser enviado e cria as condições para sua tarefa profética. Isaías não é um herói. Sua disposição é consequência da ação sacramental. Cabe a nós, ministros e ministras, resistir à idealização e à sublimação de qualquer experiência de vocação que possamos ter tido. Em primeiro lugar, cabe-nos descobrir a nossa pequenez e perdição em meio à nossa gente. Estamos integrados no pecado de nosso povo. Cabe-nos humildade, o que não signifi ca carência de verdade.

O texto fornece uma imagem fantástica. Descrevê-la em detalhes pode enriquecer a compreensão e impregnar a visão de Isaías na mente de ouvintes. A atualização da profecia de juízo deverá tomar a realidade do poder e de seus abusos em consideração. Nesse ponto, cabe uma análise da conjuntura política, econômica e social em oração, buscando ver e ouvir o que Deus à luz de Isaías 6 tem a dizer.

Nossa tarefa é pregar o evangelho, a boa notícia, para uma comunidade cristã. Entretanto, o texto não permite maquiar a realidade, nem perfumar o que está apodrecido. O evangelho que temos a tarefa de pregar nunca o será, se estiver escamoteando ou encobrindo a realidade que necessita de uma palavra profética. O evangelho não anula o juízo de Deus, mas o cumpre. A verdade tem de ser dita. Queima e dói como uma brasa nos lábios. Flagrar-se do que está acontecendo também pode ser evangelho, na medida em que é o primeiro passo para uma transformação. O profeta fez a sua parte, nós vamos fazer a nossa parte. Deus faz a sua parte! Há que se tomar cuidado para não resvalar para algum partidarismo pífio. Nesse ponto, todo cuidado com a linguagem é decisivo.

5. Subsídios litúrgicos

Hinos: Santo, Santo Santo – HPD 1, 125 (refere-se a Isaías 6), poderia ser o hino de entrada ou parte da liturgia da Eucaristia. Uma costura litúrgica é a comunidade entrando em sintonia com o coro celestial. Outro santo litúrgico breve para a Eucaristia encontra-se em HPD 2, 364: Antes que te formasses dentro do seio de tua mãe (refere-se a Jeremias).

Salmo: Considerar a leitura em responsório do Salmo 29, previsto para este domingo.

Kyrie: Compartilhar três questões que estão afligindo na economia/ecologia, na política, na sociedade e nas ideias. Até quando, Senhor? poderia ser o lamento em coro da comunidade, repetindo o desespero de Isaías.

Confissão de pecados: Costumamos pensar os nossos pecados como carências morais, omissões ou falhas; de fato, não podemos negá-las, mas elas são criações culturais. Diante de Deus, porém, a nossa situação de pecado é muito mais grave. Estamos em pecado porque nossa relação com Deus está interrompida. Só diante de Deus estamos em condições de reconhecer a nossa verdadeira situação. Como pecadores não suportamos a proximidade de Deus. Não podemos falar de Deus com lábios impuros. Nosso pecado é não participar da política, pois se a deixarmos apenas para os eleitos, vamos colher o que está escancarado. Só uma sociedade organizada é capaz de garantir a continuidade da democracia. Temos que participar da comunidade, das reuniões de condomínio, de associações, de partidos políticos, envolver-nos quando vereadores convocam para reuniões periódicas com eleitores.

Bibliografia

CROATTO, José Severino. Isaías – O profeta da justiça e da fidelidade. Petrópolis: Vozes; São Paulo: Imprensa Metodista; São Leopoldo: Sinodal, 1989. v. 1: 1-39.

VAN DE KAMP, Peter W. O Profeta Isaías – comentário a Isaías 1-39. São Leopoldo: Sinodal, 1987.

SCHWANTES, Milton. Da Vocação à Provocação – estudos e interpretações em Isaías 6-9 no contexto literário de Isaías 1-12. São Leopoldo: Oikos, 2008.


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Autor(a): Hans AlfredTrein
Âmbito: IECLB
Área: Celebração / Nível: Celebração - Ano Eclesiástico / Subnível: Celebração - Ano Eclesiástico - Ciclo do Tempo Comum
Área: Governança / Nível: Governança - Rede de Recursos / Subnível: Governança-Rede de Recursos-Auxílios Homiléticos-Proclamar Libertação
Natureza do Domingo: Pentecostes
Perfil do Domingo: 1º Domingo após Pentecostes - Domingo da Trindade
Testamento: Antigo / Livro: Isaías / Capitulo: 6 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 13
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 2017 / Volume: 42
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 50182

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