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ID: 2690

Isaías 40.21-31

Auxílio Homilético

07/02/2021

 

Prédica: Isaías 40.21-31
Leituras: Marcos 1.29-39 e 1 Coríntios 9.16-23
Autoria: Manoel Bernardino de Santana Filho
Data Litúrgica: 5° Domingo após Epifania
Data da Pregação: 07/02/2021
Proclamar Libertação - Volume: XLV

A vinda do Senhor

1. Introdução

A mensagem do Segundo Isaías é, na verdade, um evangelho. Depois do anúncio do desastre da nação vem a mensagem de consolo. É um evangelho, porque o propósito é anunciar boas novas, dizer ao povo que o tempo da solidão, do sofrimento, da dor passou. Várias figuras estão presentes nessa segunda parte do livro (40-55). Aqui aparece o Deus que intervém, que se revela como o pastor--guerreiro, que aparece para libertar as ovelhas do jugo opressor.

Isaías é um profeta que faz uma severa crítica social. O que ele pretende é que haja a conversão de toda a nação para que haja temor do Senhor e justiça social. Por isso ele inicia comunicando o castigo, para depois apresentar a promessa de salvação. Segundo ele, o sistema vigente beneficiava uns poucos e oprimia a maioria do povo, o que não é diferente do nosso tempo. As autoridades legislam em causa própria. Isaías, porém, denuncia que Deus não tolera esse sistema e que agora agirá contra a classe dominante. As imagens que apresenta são: o escravo torna-se um vitorioso; o verme torna-se um debulhador e o necessitado é assistido no deserto.

Por isso o Dêutero-Isaías é conhecido como o Evangelho do Primeiro Testamento. Sua mensagem é de paz, de conforto para o mundo e não apenas para Israel. Um dos textos que acompanham essa reflexão (Mc 1.29-39) apresenta o Messias na prática da cura e libertação das pessoas. Ele não só vê o clamor da nação, como observa a necessidade da pessoa individualmente. Ele cura os que lhes são apresentados e se dirige a muitas regiões com o propósito de anunciar a salvação. No texto de 1 Coríntios 9.16-23 encontramos a missão que Jesus deixou para a igreja. Precisamos dizer como Paulo: a justiça de Deus apresentada por Jesus Cristo precisa ser anunciada por nós, que somos sua igreja.

2. Exegese

A partir do capítulo 40 de Isaías muda tudo. A linguagem é outra. Ele é o profeta do sul, de Judá. Atuou entre 740 a 701 a.C. Foi uma época difícil e complexa. Aquilo que Amós viu como uma ameaça – a invasão Assíria – Isaías viu como realidade. Sua mensagem manifesta a todo instante a preocupação com a justiça. Aqui começa a segunda parte do livro.

Está em pauta a predição da libertação dos judeus do exílio babilônico. Isaías retrata essa libertação como iminente. Ele faz referências a Ciro como agente da libertação e como instrumento de Javé para salvação do povo. A mensagem agora é de consolo. As primeiras palavras expressam, com ternura e urgência, a maravilhosa mensagem que está reservada a Israel. É uma profecia que anuncia a libertação de um estado de angústia, que teve início cem anos depois da morte de Isaías. Ele previu que Judá seria deportada (capítulo anterior). Aqui ele é transportado para um período próximo ao fim do período do exílio, quando Jerusalém já havia experimentado muito sofrimento. Assim, ele se dirige a esse povo para lhe dizer que a libertação está próxima de acontecer.

Tão logo chegou a mensagem do desastre, vem a seguir a mensagem de consolo. É isso que caracteriza a palavra enviada a partir do capítulo 40 do profeta Isaías. O Dêutero-Isaías destaca a salvação de Javé. O profeta levanta-se para proclamar que, embora o desastre da nação possa indicar que os infiéis tenham que cair e pagar pelos seus feitos, ainda assim existe a realidade terrena, a ser chamado de “meu povo”, para quem o Senhor é o Deus que vem ao seu encontro para mudar a sua sorte. As promessas podem ter sido confiscadas por um tempo, mas é certo que elas não podem perecer.

Isaías, na perícope escolhida para nossa meditação, afirma que há apenas um Deus criador. Ele é o que mantém tudo, controla tudo e prepara tudo para o objetivo designado. Portanto acreditar nele é ser assegurado de estar protegido em seu mundo e saber que o presente e o futuro estão seguros nas mãos do Senhor. O profeta destaca que o Senhor é aquele que conhece a maneira certa de moldar o mundo e preside a história mundial com a mesma tranquilidade consumada.

A soberania de Deus nos atos da criação e da preservação da criação é apresentada como uma forma de responder a todos aqueles que põem em dúvida esse domínio de Deus sobre a criação. As pessoas são, para o profeta, como “gafanhotos”, como criaturas pequenas diante da majestade gloriosa do Deus, que está no céu, mas também se apresenta como companheiro do ser humano. O mundo é como a sua tenda. Ele cuida e abriga todas as pessoas debaixo de suas asas.

O profeta destaca que as decisões que os governantes tomam parecem que são decisões autônomas. No entanto, elas estão totalmente sob o poder de Deus. Ele, em seu próprio tempo, determina o que há de ser: destrona os governantes por mais poderosos que pareçam ser e tira a autoridade dos juízes que ele marcou para que não tenham mais relevância na vida de uma nação. O Senhor, em seu poder soberano, sopra e esses poderosos murcham, marcando assim o fim do seu período de prosperidade. Tornam-se como palha por causa da rápida ação do julgamento divino.

O mal vem e se alastra na terra. Esse pode vir com várias “caras”: por meio de um governo despótico, por corrução desenfreada, pela desigualdade social, pela pobreza extrema da população, por meio de epidemias, catástrofes naturais ou causadas pela má administração humana, enfim, o mal pode dominar a terra por várias razões. Alguns desses males parecem que não têm fim. Seus mentores dizem a si mesmos que o que eles criaram irá dominar a terra por um longo tempo. E, no entanto, o Deus que intervém em favor do humilde, do fraco, do injustiçado, entra em cena e com um sopro leva para longe a sua maldade.

Ele se apresenta como “Santo”, sem artigo definido, como se fosse outro nome para o Senhor. Ele age não apenas pelo seu poder, pela sua sabedoria, dignidade, soberania e autoridade. O mais relevante de tudo é sua incontestável perfeição moral. Isaías mostra que ele, o Senhor, responde por todas as coisas, no sentido de nada fugir ao seu controle. Sua ação de condução da realidade não é apenas para os acontecimentos cósmicos, para a criação do céu e da terra, para o controle sobre os elementos da natureza, mas também para o individual. Isaías mostra que esse Deus, que criou um exército de estrelas, conhece pelo nome cada item em sua complexa criação. Desta forma, como pode ele, o Deus de Israel, ser acusado de esquecer seu povo?

A última parte da perícope (27-31) procura levar a pessoa do desânimo à renovação. A solução para o problema é reaprender o que já sabem e abrir os ouvidos para o que lhes já foi dito. Significa dizer que o povo de Deus já possui a verdade. Ela foi dada por profetas enviados pelo Senhor. Nosso Deus é o Eterno, o Criador, aquele que não se cansa nem se abala diante das adversidades. Portanto nenhum deles devia duvidar de sua capacidade, pois sua sabedoria é infinita. Ele nunca abandona seus propósitos. Não há nada que seja irrealizável para ele, que compartilha a força e a sabedoria.

Isaías termina dizendo que a força do ser humano, por mais forte que pareça ser, tem seu limite. Mesmo aqueles que são mais jovens, em plena força física, se cansam diante das agruras da vida. Mas os que esperam no Senhor renovam suas forças. Continuam lutando com uma força que não vem deles mesmos, uma força que os renova, os reanima e os leva a lugares altos, como se ganhassem asas, graças à renovação da vida que nos vem por intermédio do Deus que não nos desampara.

3. Meditação

Enquanto escrevo esta meditação, o mundo vive momentos de tensão, desespero e morte. A incerteza está às portas. O mundo está mais triste porque o ser humano, em toda parte, foi privado de sua liberdade. Os templos foram fechados por causa das leis de reclusão e distanciamento preventivo para se evitar o contágio pelo coronavírus. Nós, pastores, pastoras e igrejas, estamos passando por um momento que nunca imaginamos. Foi preciso que, em questão de dias, nos integrássemos a novas formas de comunicação. Os mais velhos precisaram gastar mais horas, aprendendo como lidar com a tecnologia da comunicação, YouTube, Facebook, Instagram, Skype e todo tipo de rede para comunicação da mensagem do Evangelho.

Depois de mais de dois meses de confinamento e de perda de parentes, amigas, amigos e membros de nossas igrejas, estamos mais tristes, mais vulneráveis, mais sensíveis, precisando ouvir palavras de ânimo, de consolação, de alento, para crer que a tempestade vai passar, crer que essa situação já dura demais e que Deus há de intervir para por fim a essa calamidade.

Quando hoje assumimos nossos púlpitos solitários, com a equipe técnica que nos ajuda na edição do culto transmitido, o que nos vem a mente é: o que dizer a tantas famílias sofridas, sem recursos financeiros, dependentes muitas vezes de uma pequena ajuda do governo, com os filhos e as filhas fora da escola, sem a merenda escolar tão importante para a alimentação da criança pobre desse imenso país? Que palavra devemos pregar para aquelas pessoas que, a essa altura, já perderam um ente querido e sofrem pela perda de ver alguém querido indo embora sem sequer ser possível uma despedida digna? É como diz o apóstolo Paulo em Romanos 8.31: Que diremos, pois, a vista dessas coisas?

Falar ao coração de Jerusalém, como diz Isaías, é a maneira de dizer que se vai falar com ternura. É uma mensagem de consolo para dizer que é chegado o tempo em que sua iniquidade foi perdoada. O trabalho árduo, a servidão, agora acabou. A medida que Deus havia estabelecido para eles havia se enchido. A dívida foi paga. A miséria acabou.

O profeta ouve uma voz e anuncia um novo tempo. Alguém clama que o caminho do Senhor precisa ser preparado no deserto. É a voz do arauto que precede o rei. Anuncia que o rei se aproxima. É necessário, pois, preparar o caminho para o Deus de Judá, porque a sua rota passa pelo deserto, pelo ermo. Essa ideia do mensageiro que preparará o caminho do Senhor está presente em profetas como Malaquias (3.1). No Novo Testamento, esse profeta é João Batista, aquele que prega uma mensagem contundente de arrependimento para a nação. A essência de sua mensagem é a necessidade de arrependimento e do batismo, que expressa o estado de espírito de cada um.

A mensagem que precisamos anunciar hoje é que todo o orgulho deve ser deixado de lado. Os vales aterrados significam que as profundezas do desânimo e do desalento daqueles que estavam no exílio agora precisam ficar para trás. Assim, o Senhor se aproximará de seu povo e virá para curar suas feridas. Ele virá e se manifestará a toda pessoa.

O Senhor sabe da fragilidade do ser humano. Somos fracos, somos pó, somos nada. Aqui se expressa a transitoriedade da vida. Tudo passa e tudo seca e morre. A única coisa que permanece e não passa é a palavra do Senhor.

Somos chamados, nesses dias de pandemia, a assumir o lugar de mensageiros de Deus, de porta-voz daquele que anuncia, por meio de seus profetas, as boas novas de salvação. O que precisamos dizer é que nenhum de nós deve perder a esperança, porque o nosso Deus caminha conosco. Precisamos dizer que ele está próximo, que sabe das dificuldades pelas quais passamos, dos medos que nos assaltam, e que suas promessas nunca falham. Ele é o Todo-Poderoso, virá em seu poder real e trará recompensas para seu povo. Virá para apascentar suas ovelhas, para cuidar de cada uma delas. Vai pôr cada uma no seu colo para que elas estejam protegidas.

O profeta Isaías exalta a majestade de Deus, seu poder triunfante. Ele é incomparável. Está acima de todas as coisas, mas também se faz presente na vida da mais humilde das criaturas.

A mensagem de Isaías 40 termina com a descrição do Deus que é forte e, portanto, é aquele que torna forte o cansado. Até os mais jovens se cansam e ficam fatigados. A força humana é limitada. Nossa capacidade de reação é um nada diante de Deus. Mas aqueles que esperam no Senhor, esses serão revigorados pela força do seu poder. Esperar é uma forma de exercer fé. Essa disposição é solicitada a todos aqueles que querem ver as maravilhas de Deus em suas vidas. Esperem nele. O Senhor nos dá a promessa e precisamos esperar confiantemente que ela vai se cumprir.

Os que confiam são como as águias que vão aos lugares mais altos da terra. Aqueles que esperam no Senhor superarão seus limites, porque o Senhor é aquele que sustenta seu povo e o prepara para uma vida vitoriosa!

4. Imagens para a prédica

Podemos usar várias imagens para a prédica. Vem-me à mente a figura que nos avisa que, sem horizonte, a vida perde o rumo. Israel quase perdeu o rumo, apesar dos profetas enviados por Deus para sinalizar o caminho da salvação. É preciso ouvir os profetas de Deus, homens e mulheres que falam da parte dele, porque trazem mensagens de esperança. Os pastores do povo, aqueles que são enviados pelo Senhor, mesmo em meio às crises da vida, terão sempre uma palavra de ânimo, porque o Deus que servimos é aquele que vê o sofrimento e o desamparo da vida, mas põe sempre sua palavra nos lábios de mulheres e homens que levem adiante essa mensagem para animar os cansados. Os canais de televisão, salvo uma ou outra exceção, querem que nos percamos no medo. Por isso, não se prenda tanto a esse meio de comunicação. Ouça o Espírito que fala por meio de apóstolos e profetas. Leve o povo a buscar o Senhor cheio de esperança, porque os dias tristes que vivemos haverão de passar, porque o Senhor é o Deus da vida, e vida nele é alegria.

Outra figura, que devo a Milton Schwantes, é a do milagre e das pragas. Na vida encontramo-nos com as pragas, pestes, doenças incuráveis. Quem viveu no início do século XX conviveu com a gripe espanhola, que matou milhares de pessoas no Brasil e no mundo. E um dia Deus fez com que ela parasse de matar. Deu-se o milagre. A vida é feita de pragas e milagres, de gemidos de dor e gritos de alegria. Sim, milagres aconteceram e acontecem. Deus é o mesmo. Ele se faz presente no cotidiano. Quando ele quer, levanta aquele que não tinha mais esperança alguma. Ele cura aquele de quem os médicos desistiram. Quantos de nós, pastores de ovelhas, já nos encontramos nessa situação, de ver bem de perto a intervenção de Deus na vida de uma ovelha querida, um ente amado, morto para o mundo, para a medicina, mas não uma causa perdida para Deus.

5. Subsídios litúrgicos

Aproveite esse espaço e fale você mesmo de experiências que você conhece, de casos vividos em sua paróquia, de situações tidas como perdidas e, de repente, a intervenção de Deus mudou tudo.

Aqui a comunidade pode abrir o coração e falar de seus medos e apreensões. É oportunidade para se mostrar a riqueza do Evangelho, do Segundo Isaías, do Novo Testamento, que nos ensina sobre a esperança cristã. Fale que a igreja é a comunidade chamada a vencer o medo, porque Jesus, o nosso Pastor, é o Senhor da vida!

A congregação pode consagrar alguns momentos para ouvir esses testemunhos, ao mesmo tempo em que se cantam louvores que exaltam o poder que há no nome de Jesus. Vêm-me a mente Johann e Christoph Blumhardt, pai e filho, que passaram por experiências incríveis em suas vidas ao se depararem com o poder do mal na vida de uma mulher de sua paróquia. Por meio da oração incessante, viram a libertação daquela vida e puderam exclamar: “Jesus ist Sieger!” (Jesus é vencedor!). O velho Blumhardt lidou com o caso da menina Gottliebin Dittus por dois anos, vivendo, nesse meio tempo, momentos de angústia e desânimo. Mas, por fim, a menina foi curada, e a pequena aldeia de Mötttlingen tornou-se conhecida pelo grito de vitória que ecoou por toda a Alemanha: Jesus é vencedor!

Sim, precisamos acreditar nessa verdade! Precisamos cantar e orar sabendo que somos ouvidos por um Deus Todo-Poderoso que nos alcança em meio às crises da vida e nos leva para um lugar seguro.

Bibliografia

MOTYER, J. Alec. O Comentário de Isaías. São Paulo: Shedd Publicações, 2016.
SCHWANTES, Milton; SANTOS, Rosileny Alves dos. Figuras e Coisas; meditações e ensaios para viver. São Leopoldo: Oikos, 2011.


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Autor(a): Manoel Bernardino de Santana Filho
Âmbito: IECLB
Área: Governança / Nível: Governança - Rede de Recursos / Subnível: Governança-Rede de Recursos-Auxílios Homiléticos-Proclamar Libertação
Área: Celebração / Nível: Celebração - Ano Eclesiástico / Subnível: Celebração - Ano Eclesiástico - Ciclo do Natal
Natureza do Domingo: Epifania
Perfil do Domingo: 5º Domingo após Epifania
Testamento: Antigo / Livro: Isaías / Capitulo: 40 / Versículo Inicial: 21 / Versículo Final: 31
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 2020 / Volume: 45
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 64833

AÇÃO CONJUNTA
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Ele, Deus, é a minha rocha e a minha fortaleza, o meu abrigo e o meu libertador. Ele me defende como um escudo, e eu confio na sua proteção.
Salmo 144.2
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