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ID: 2690

Hebreus 7.23-28

Auxílio Homilético

28/10/2018

Carlos Musskopf
Paulo Sérgio Macedo dos Santos
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Prédica: Hebreus 7.23-28
Leituras: Jeremias 31.7-9 e Marcos 10.46-52
Autoria: Paulo Sérgio Macedo dos Santos e Carlos Musskopf
Data Litúrgica: 23º. Domingo após Pentecostes
Data da Pregação: 28/10/2018
Proclamar Libertação - Volume: XLII


 1. Introdução

Pouco se pode acrescentar ao estudo sobre Hebreus 7.23-28 realizado por Verner Hoefelmann na edição 36 de Proclamar Libertação. Tanto as questões a respeito da autoria, desconhecida do texto, sua origem e a quem se destinava são tratadas no estudo, assim como as interconexões com os outras leituras previstas para o dia: Jeremias 31.7-9 e Marcos 10.46-52.

Tanto no texto de Jeremias como no Evangelho de Marcos, a esperança que provém de um auxílio externo perfaz a temática central. Se no texto de Jeremias essa esperança vem da boca do profeta, no texto de Marcos a esperança vem do cego sentado à beira da estrada que, ao sentir que o Messias passa por ali, pede que tenha misericórdia dele.

Os dois textos criam uma moldura para o que vai ser lido em Hebreus. No Primeiro Testamento, os sacerdotes eram necessários para que houvesse a conexão entre o povo e Deus. No texto de Marcos, um cego que pede esmolas à beira da estrada, marginalizado e invisível em sua cegueira, é capaz de enxergar a única maneira verdadeiramente efi caz de se chegar a Deus: através de Cristo.

2. Exegese

Também para a exegese remetemos ao estudo de Verner Hoefelmann no
PL 36.

3. Meditação

a) O sacerdote como representação

A função sacerdotal entre os hebreus é hereditária e também essencial não só para prestar culto, como na organização social. O sacerdote representa tanto a presença de Deus no meio do povo, como também representa o povo na presença de Deus. Somente através desse é possível o diálogo entre o Criador e a criação. Ele atua nessa fronteira e delimita as ações tanto sociais como religiosas.

Essa dupla atuação reporta a outras manifestações sacerdotais de que temos notícia. Para John Gassner, teórico do teatro, o primeiro sacerdote foi o primeiro ator, pois emulou em sua representação a necessidade de seu povo, e de forma poética externou e criou em sua figura a ideia do “representante” do sagrado entre os seres humanos.

Jung afirma que para o “primitivo não basta ver o Sol nascer e declinar; esta observação exterior deve corresponder – para ele – a um acontecimento anímico, isto é, o Sol deve representar em sua trajetória o destino de um deus ou herói que, no fundo, habita unicamente a alma do homem. Todos os acontecimentos mitologizados da natureza, tais como o verão e o inverno, as fases da lua, as estações chuvosas etc., não são de modo algum, alegorias destas experiências objetivas, mas sim, expressões simbólicas do drama interno e inconsciente da alma, que a consciência humana consegue apreender através de projeção – isto é, espelhadas nos fenômenos da natureza” (2000, p. 18).

A base humana do conhecimento é a imitação. Representando, o humano pode compreender tanto o nascer e declinar do sol apontado por Jung, como sua própria existência. Ao ator-sacerdote cumpre dar “voz” àqueles que são incapazes de falar com Deus, de maneira que possam ser compreendidos. Na postura mais antagônica possível, o sacerdote, quando diz que está dizendo o que os outros dizem, e que não compreendem, emudece os dois lados.

Nessa busca pela representação, que oferece respostas às dúvidas humanas mais primordiais, o sacerdote ganha espaço na vida. Espaço para a libertação ou para um aprisionamento ainda maior que o desconhecimento pode provocar. Aos poucos o assustador desconhecido recebe respostas que o sacerdote oferece. E aquilo que se passa por resposta nem sempre pertence à dúvida de todos. Assim como o ator faz com que o público sofra por algo que nunca viveu, o sacerdote oferece respostas para dúvidas que nem sempre são essenciais para a vida humana.

O ato íntimo e pessoal de construção de diálogo é substituído pela impessoalidade, pela interferência, dominação e distanciamento.

O texto de Hebreus, como Klaus Berger salienta, é de uma erudição gigantesca, que leva à incompreensão em certos momentos. Para Berger, essa ritualística aprimorada que a erudição provoca possui duplo caráter: pode por vezes ser libertador, outras vezes provoca uma escravidão inebriante.

b) A continuidade da fé

O próprio Berger afirma que por mais que o texto de Hebreus busque romper com a mediação proposta pelo sacerdote no diálogo com Deus, o autor não visa à extinção da representação e do culto, pois “ a carta aos Hebreus não é o fim do pensamento cultual, mas sua fixação para a fé cristã” (2005, p. 82).

Não se trata de romper com modelos apenas, trata-se de atribuir novos significados a esses modelos, fazer com que possam ser verdadeiros a partir  daquele que atua. E comparando ao teatro, não se trata mais do teatro tradicional, com atores treinados e capazes de expressar todas as emoções que a plateia é considerada incapaz. Agora, todos são capazes de representar, como no teatro de improviso, onde todos são capazes de “colocar para fora” suas emoções, desencantos e alegrias.

A religião, no campo simbólico, continua a construir sentido para a vida. No ritual o símbolo ganha visibilidade; quando verdadeiro, a vida ganha sentido. Não existe uma incompatibilidade entre o culto e o rito. O que segue é o verdadeiro sacerdote, o Cristo, este não encena sua morte como expiação  dos humanos; ele a experimenta verdadeiramente. Já não há a necessidade de um “astro” para encenar e criar um mito.

3. Imagens para a prédica

Sugerimos introduzir uma dança de roda durante o culto ou preparar o salão paroquial para após o culto. Música suave e um aparelho de som serão sufi cientes. Essa sugestão se baseia no sacerdócio universal de todos os crentes, que foi tão caro a Lutero. A graça do sacerdócio mostra toda a sua grandeza aqui. Como numa dança de roda, todos podem participar, mesmo que exista um que “conduz” a dança, não é ele quem a determina. Existe um espaço para a dança, mas não é o espaço que a determina. A dança é a capacidade de dançar, de ouvir a música e se inebriar com isso. A representação dá sentido, não é o sentido. O próprio Cristo, que redime toda a criação na sua paixão e morte, compreende a necessidade da representação quando pede: façam isto em memória de mim. Não é o rito que é colocado de lado, e sim a cena é aberta, todos podem participar daquilo que dá significado à vida.

4. Subsídios litúrgicos

Oração de coleta: Querido Deus, graças te rendemos por podermos agora, saindo das agitações da semana que passou, chegar a ti, e diante de ti ficar em sossego e silêncio. Dá que essa quietude se torne tão profunda a ponto de silenciar as vozes fortes da angústia e das preocupações. Dá que ouçamos nas palavras da pregação a tua Palavra; que ela fale a nós a partir desse silêncio, pois tu tens as palavras que consolam e curam. Por nosso Senhor Jesus Cristo, na unidade do Espírito Santo. Amém.

Bibliografia

JUNG, Carl Gustav. Os arquétipos e o inconsciente coletivo. Petrópolis: Vozes, 2000.
BERGER, Klaus. Para que Jesus morreu na cruz? São Paulo: Loyola, 2005.


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Autor(a): Paulo Sérgio Macedo dos Santos e Carlos Musskopf
Âmbito: IECLB
Área: Celebração / Nível: Celebração - Ano Eclesiástico / Subnível: Celebração - Ano Eclesiástico - Ciclo do Tempo Comum
Área: Governança / Nível: Governança - Rede de Recursos / Subnível: Governança-Rede de Recursos-Auxílios Homiléticos-Proclamar Libertação
Natureza do Domingo: Pentecostes
Perfil do Domingo: 23º Domingo após Pentecostes
Testamento: Novo / Livro: Hebreus / Capitulo: 7 / Versículo Inicial: 23 / Versículo Final: 28
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 2017 / Volume: 42
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 50208

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