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ID: 2690

1 Reis 19.15-16, 19-21 - 3º Domingo após Pentecostes - 26/6/2022

Auxílio Homilético

26/06/2022

Prédica: 1 Reis 19.15-16, 19-21
Leituras: Lucas 9.51-62 e Gálatas 5.1, 13-25
Autoria: Marivete Kunz
Data Litúrgica: 3º Domingo após Pentecostes
Data da Pregação: 26/06/2022
Proclamar Libertação - Volume: XLVI

Cumpra a missão: deixe o arado para trás

1. Introdução

O relato do texto de hoje, de 1 Reis 19, deu-se no período do reinado do rei Acabe, o qual era casado com Jezabel. Jezabel tinha uma missão: destruir todos os profetas de Javé. Foi por esse motivo que o profeta Elias fugiu, sendo por isso criticado por muitos comentaristas. Diante do pavor, devido à perseguição de Jezabel, Elias fugiu primeiro para a cidade de Berseba e depois para a montanha de Horebe, conhecida como montanha de Deus. Esse profeta não foi covarde, mas diante da realidade fez sua avaliação, a tal ponto que não se considerava mais importante do que seus antepassados (1Rs 19.4) e então decidiu fugir.

O sentimento de Elias e sua vivência evidenciam a situação deplorável do povo que rejeitava a aliança com Javé e adorava deuses estranhos, serviam e adoravam a Baal. Mas em meio a essa situação, Javé visitou seu servo fiel, não num forte vento ou em um terremoto, mas em meio a um sussurrar suave de uma brisa passageira. Elias obedeceu, voltou e dentre suas tarefas convidou Eliseu para ser seu seguidor e discípulo. Eliseu foi um personagem de grande importância na sequência da história. Foi o sucessor de Elias, homem de coragem, fiel e responsável pela realização de muitos milagres.

É impressionante como Deus vai ao encontro de seus servos fiéis, revelando que não adianta fugir. Se a missão não foi finalizada, é preciso voltar, porque Deus vai buscar, pois parece que de alguns indivíduos ele não abre mão. Entretanto, ele mesmo será o sustento para que tenhamos coragem e capacidade de concretizar aquilo que for preciso. Para cumprir uma missão, é preciso fazer algumas considerações. Essas serão os destaques na meditação.

2. Exegese

V. 15 e 16 – Elias recebeu a ordem para voltar a Damasco, lugar distante que ficava a cerca de 640 km ao norte de Israel. Lá ele deveria ungir Hazael como rei da Síria, que no futuro seria aquele que castigaria Israel. Aquilo que Hazael não destruísse, Jeú o faria, sendo que a unção de Jeú também foi uma incumbência que Elias recebeu. Além de Hazael e Jeú, Elias ainda ungiria seu sucessor Eliseu, e embora não haja indicações no texto de como isso aconteceu, é possível que Elias o fez quando Eliseu assumiu seu lugar. Todas essas unções gerariam muitas mudanças para a história de Israel. A expressão “ungirás” que aparece no v. 15 não significa que somente Jeú foi ungido pelo profeta Elias. Esse verbo pode indicar uma nomeação que tinha a unção como símbolo (BRUCE, 2009, p. 596). A expressão hebraica ungir (māsaḥ) também indica autorização. Conforme Wiseman, somente aqui nesse texto esse termo é usado a respeito de um profeta, designando sucessor (WISEMAN, 2011, p. 153). Elias precisou ir à cidade de Abel-Meolá para ungir Eliseu. Essa cidade ficava aproximadamente a 240 quilômetros do Sinai.

V. 19 – Eliseu, filho de Safate, é apresentado no texto como alguém de uma família que possuía muitos bens. Isso pode ser evidenciado pelo número de bois que tinha na lida do campo, ou seja, o campo precisava de 12 juntas para ser lavrado. Além disso, ele pode oferecer uma junta para celebração. Lançar a capa, ação que Elias teve para com Eliseu e que aparece nesse verso, é simbolicamente um convite para que Elias o seguisse e fosse seu discípulo. Eliseu não procurou Elias e se ofereceu a ele, mas foi chamado por Elias. Lançar a capa representa um símbolo de adoção e aqui pode representar que Eliseu se tornou filho de Elias no aspecto espiritual. Conforme Champlin, acredita-se que o poder espiritual foi transferido ao profeta por meio do manto (CHAMPLIM, 2001, v. 2, p. 1.445) Aquilo que foi designado para Elias fazer, ou seja, ungir seu sucessor, cumpriu-se aqui.

V. 20 – Wiersbe afirma que

A conduta de Eliseu parece contradizer as palavras de Jesus em Lucas 9:57-62, mas não é o caso. Eliseu seguiu Elias com obediência sincera, enquanto os homens no registro do Evangelho estavam hesitantes e tinham suas reservas, e Jesus sabia disso. Eliseu provou seu compromisso matando dois dos bois e usando a madeira dos implementos agrícolas como lenha para cozinhar a carne para um banquete de despedida. Em termos contemporâneos, estava “queimando as pontes atrás de si”. Uma vez tendo tirado as mãos do arado, não tinha intenção alguma de voltar atrás (WIERSBE, 2006, p. 475).

Eliseu recebeu permissão para despedir-se dos pais, mas em seguida juntou-se a Elias em uma nova jornada. Em Lucas 9.61-62, o Senhor não aceitou uma petição semelhante, possivelmente por saber que o retorno para casa, naquele caso específico, redundaria em abandono ao chamado. Nesse sentido, Eliseu foi decidido e voltou para seguir com sua nova missão.

A prontidão de Eliseu remete aos discípulos de Cristo, que da mesma forma abandonaram as redes e seguiram o mestre (Mt 4.20). Sem hesitar, eles deixaram para trás sua vida e o seguiram.

Com relação à decisão tomada por Eliseu, o texto não apresenta indícios da reação da sua família. Elias voltou, sem demora, pelo caminho por onde havia vindo e retomou seu posto de trabalho.

V. 21 – Antes da partida, Eliseu vivenciou um momento de comunhão com os seus, possivelmente como forma de consolo aos que agora estariam distantes dele. A festa também simbolizou a alegria de ter sido chamado. Agora Eliseu passou a seguir o profeta Elias, sendo seu servo e aprendiz, e depois assumindo seu lugar. Ele foi o escolhido para ser instrumento em um momento de muitas dificuldades do povo.

3. Meditação

Se entendo que tenho uma missão (e na verdade todos têm uma missão), preciso avaliar, refletir sobre algumas questões, a saber: a fuga do chamado; o que preciso deixar; o resultado da obediência.

a) Tenho fugido do chamado

Muitas coisas podem conduzir à fuga ou ao adiamento no cumprimento da missão. Mas é incrível ver como Deus, mesmo em meio às fugas, não abandona os seus, mas continua os protegendo. O texto de 1 Reis mostra que Deus enviou um anjo para cuidar do profeta Elias, independente desse anjo ser interpretado como alguma pessoa normal ou um ser celestial, Deus cuidou de seu servo quando esse se encontrava cansado. Enquanto Elias dormia (1Rs 19.5), Deus enviou um anjo que lhe trouxe pão cozido sobre pedras e uma botija de água. Novamente, num segundo momento de sono de Elias, Deus enviou um anjo que o acordou e pediu para Elias comer porque longa seria a jornada.

Não adianta fugir, na verdade, nunca fuja, porque a jornada ainda pode ser longa. Mas independente se tenhamos que ir até “Horebe” ou outro lugar, o importante é que saibamos que nessa caminhada Deus estará conosco. Ele não vai nos abandonar. Nem que seja por meio do envio de seus anjos ou de outras formas, ele nos concederá forças e experiências de forma que possamos prosseguir.

Por vezes, não faltam motivos para o nosso Deus desistir e nos deixar. Que bom! Ele não age assim com seus filhos. Ele sempre olha para nós enxergando que há esperança. Por isso ele nos chama para voltar. Por vezes, o nosso Deus faz a mesma pergunta que fez para Elias (1Rs 19.9), a saber: Que fazes aqui?. Se o trabalho não foi concluído, como foi o caso de Elias, talvez Deus poderá nos fazer a mesma pergunta. Somos tentados a fugir diante das dificuldades e nossas limitações. Mas ao ouvir a voz de Deus dizendo “volte”, vamos perceber que estamos no caminho errado! Obedeça! Volte, pois muitas vezes é necessário retornar ao caminho certo.

Quem sabe essa é a hora de refletir o que pode conduzir à fuga. No caso de Elias, foi o medo, pavor. Por vezes, pelo fato de fugir, o caminho de volta pode ser longo. Elias, para ungir Eliseu, precisou voltar e caminhar cerca de 240 quilômetros, até a cidade de Abel-Meolá, mas o resultado valeu.

Diferentemente de Elias, Eliseu, ao ser chamado para ser seu seguidor, imediatamente entendeu e aceitou. Ele não foi à procura de Elias ou a ele solicitou ser seu seguidor, mas foi por Elias chamado. Eliseu possivelmente abriu mão de bens que poderia ter para assumir sua missão. Mas é incrível como ele não hesitou em momento algum. Sua convicção e forma de agir chama a atenção.

b) O que preciso deixar

Talvez de forma diferente de Elias, Eliseu precisou abrir mão de muitas coisas para cumprir sua missão. O texto o apresenta como alguém de família de posses (v. 19). Eliseu precisou deixar seus bois, seu arado, literalmente queimou tudo para não olhar e quem sabe ter a tentação de voltar. Quem sabe hoje seja o dia em que precisemos avaliar: temos que deixar algo para seguir e cumprir a missão que por ele a nós foi entregue?

Aos que estavam junto com Cristo e queriam segui-lo, ele nem mesmo deu permissão para sepultar os pais, que significa que eles queriam esperar os pais morrerem para então seguir a Cristo. O chamado para missão é para hoje, não é possível adiar ou fazer algo antes. Por vezes, queremos fugir da missão que nos foi entregue, mas Deus vai atrás como foi com Elias.

c) O resultado da obediência

Elias tinha várias coisas nessa missão, conforme o v. 15. Primeiro, precisaria ungir Hazael como rei da Síria, depois Jeú como rei de Israel (na realidade Eliseu foi quem o ungiu, mas pela autoridade que lhe foi concedida por Elias, nesse caso, quando Eliseu ungiu Jeú, era como se Elias estivesse fazendo) e ainda Eliseu como seu sucessor. Possivelmente muitas dessas tarefas alguns acharão estranhas. Mas não importa, porque quem controla tudo é Deus, inclusive os líderes, mesmo entre os gentios, como no caso do rei da Síria. Ungir dois reis e um profeta: que grande missão Elias ainda tinha! Como pode ter pensado em desistir, ter ficado desanimado?

Elias não ungiu grandes nomes. Haveria pessoas de mais destaque. Entretanto, Hazael, o servo do rei Bem-Hadade, Jeú o capitão do exército e Elias, um agricultor, também tinham sua tarefa. De forma específica, Jeú (2Rs 10.18-31), que exterminou muito da adoração aos profetas de Baal, ainda que por motivações políticas e não por ser adorador de Javé, e Elias, no seu enfrentamento com os profetas de Baal (1Rs 18) foram os personagens que mais conseguiram destruir os profetas de Baal.

Os resultados aparecem quando o ser humano para de fugir de sua missão, obedece ao seu Deus e vive de forma a contemplar o futuro. Como dito anteriormente, às vezes o caminho de volta é longo, como no caso de Elias, que precisou voltar por um longo caminho, cerca de 240 quilômetros, para ungir Eliseu. Mas o resultado valeu muito, porque esse homem foi grandemente usado por Deus para abençoar os filhos de Israel.

Conclusão: O texto de 1 Reis mostra que Elias fugia de Jezabel por medo. Tinha a intensão de salvar a sua vida, mas isso levaria tantos outros a perderem a sua vida. No caso específico dos textos de hoje, o cumprimento da missão mostra-se urgente. Não tem como fugir, não é possível levar nada junto (Eliseu). Ao final, a vontade de Javé foi soberana, e o próprio Javé restaurou a vida de Elias, o trouxe ao serviço e foi o seu sustento. Elias voltou, Javé foi maravilhoso e o profeta acabou sendo o recrutador de outras pessoas para o serviço do Senhor. Olhemos para o essencial: a obra do nosso Deus continua e nós podemos estar com ele, mas talvez esse seja o tempo de deixar o nosso “arado” para assumir um projeto maior, que traga muitos frutos para a eternidade.

4. Imagens para a prédica

Os relatos das imagens para prédica são provenientes do livro que tem por título “Coletânea de Ilustrações”, das edições Vida Nova.

a) A voz delicada às vezes parece vir de longe, mas está tão perto que se assemelha a um murmúrio ao ouvido. Um jovem tenente do exército britânico fora enviado para o sul da África com o seu regimento. A mãe, pegando sua Bíblia, deu-a ao jovem, que a guardou bem no fundo da mala. Um dia, sentado em frente à barraca, observava as operações de uma companhia de soldados. Escutava as ordens dos oficiais e notava a obediência das tropas. Subitamente, pareceu ouvir uma voz que lhe dizia haver um Grande Comandante a quem as pessoas devem obedecer. Levantou-se depressa, foi à mala, tirou dali a Bíblia que lhe fora entregue pela mãe e, à proporção que lia, entregava-se a Deus. A consciência é a voz de Deus chamando as pessoas para uma vida melhor. Para ouvirmos a voz mansa e de um suave silêncio como Elias ouviu, devemos estar atentos, e se vamos acatá-la, devemos ficar quietos.

b) Abraão, um dos grandes heróis da fé, perdeu seu arrimo em Deus e ficou tão desanimado, que recorreu ao subterfúgio e à mentira. Davi, homem que vivia segundo o coração de Deus, encontrou-se, certa vez, tão desalentado que bradou: “Ora, ainda algum dia perecerei pela mão de Saul”. Elias, aquele homem de Deus capaz de fechar e abrir os céus, um dia se lançou em terra e desejou a morte. Sim, mesmo aqueles gigantes da palavra de Deus experimentaram tempos de desapontamento e desânimo, por causa do “caminho”. O desânimo é um dos instrumentos mais eficientes de Satanás. Conta-se a história de que, um dia, Satanás, estando à beira da bancarrota, colocou à venda todos os seus instrumentos de tentação. Um pequeno objeto, em forma de cunha, tinha o preço mais alto. Quando lhe perguntaram o que continha, Satanás respondeu: “Este é o desânimo. Quando consigo introduzi-lo no coração da pessoa cristã, sei que em breve a terei ao meu lado”. O preço era tão elevado que Satanás ainda tem consigo o pequeno instrumento em forma de cunha e dele se serve em sua atividade no coração das pessoas.

Bibliografia

ALMEIDA, Natanael de Barros. Coletânea de ilustrações. São Paulo: Vida Nova, 1987.
BRUCE, F. F. Comentário bíblico NVI Antigo e Novo Testamento. Trad. Valdemar Kroker. São Paulo: Vida, 2009.
CHAMPLIN, Russel Norman. O Antigo Testamento interpretado: versículo por versículo. 2. ed. São Paulo: Hagnos, 2001. v. 2.
WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo. Antigo Testamento. Trad. Suzana E. Klassen. Santo André: Geográfica, 2006. v. 2: Históricos.
WISEMAN, Donald J. 1 e 2 Reis: introdução e comentário. Trad. Emirson Justino, Vicente de Paula dos Santos, James Reis. São Paulo: Vida Nova, 2011.
 


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Autor(a): Marivete Kunz
Âmbito: IECLB
Área: Celebração / Nível: Celebração - Ano Eclesiástico / Subnível: Celebração - Ano Eclesiástico - Ciclo do Tempo Comum
Área: Governança / Nível: Governança - Rede de Recursos / Subnível: Governança-Rede de Recursos-Auxílios Homiléticos-Proclamar Libertação
Natureza do Domingo: Pentecostes
Perfil do Domingo: 3º Domingo após Pentecostes
Testamento: Antigo / Livro: Reis I / Capitulo: 19 / Versículo Inicial: 15 / Versículo Final: 21
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 2021 / Volume: 46
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 68622

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