Prédica: 1 Coríntios 15.1-11
Leituras: Salmo 118 e Marcos 16.1-8
Autor: Jilton Moraes
Data Litúrgica: Domingo da Páscoa
Data da Pregação: 05/04/2015
Proclamar Libertação - Volume: XXXIX
Cristo vive: comuniquemos sua história
1. Introdução
Hoje – Domingo da Páscoa – é um dia especial no calendário litúrgico cristão. Os nossos textos enfatizam a bondade de Deus e a realidade do Cristo vivo. O Salmo 118.1-2,14-24 inicia desafiando à prática da gratidão diante da bondade e do amor do Senhor. O salmista menciona o que Deus é: a minha força e o meu cântico; ele é a minha salvação; menciona sua alegria, porque a mão direita do Senhor age com poder e é exaltada (v. 15 e 16). Diz que o sentido da vida está em anunciar os feitos do Senhor (v. 17); que até sendo castigado sentiu a bondade de Deus (v. 18). Ele quer andar pela justiça e seguir agradecido (v. 19), como devem fazer os justos (v. 20). Ele é grato a Deus, que responde e salva (v. 21); ele rejeitado pelos homens, mas exaltado pelo Eterno (v. 22-23). Termina
com o desafio de vivermos alegres o dia que o Senhor nos dá (v. 24).
O texto de Marcos 16.1-8 – uma das narrativas da ressurreição – começa com a preocupação de três seguidoras de Jesus com a remoção da grande pedra do sepulcro (v. 1-3). Mas elas encontram a pedra removida e um jovem com roupas brancas que lhes informa que Jesus não está mais ali (v. 4-6). Elas recebem a ordem de comunicar a mensagem aos discípulos; contudo, dominadas pelo medo, saíram caladas (v. 7-8).
1 Coríntios 15.1-11 começa com Paulo lembrando os primórdios de sua experiência em Corinto. O evangelho que ele anunciou foi a mensagem do Cristo que morreu e venceu a morte. Nesse evangelho devemos perseverar.
2. Exegese
Em 1 Coríntios 15, encontramos “o mais antigo relato extenso escrito sobre a ressurreição de Jesus e o mais antigo testemunho cristão preservado, concernente à ressurreição dos crentes” (BROWN, p. 446). A perícope abre com o apóstolo Paulo repassando sua experiência inicial com os irmãos em Corinto.
V. 1 – Irmãos, quero lembrar-lhes o evangelho que lhes preguei, o qual vocês receberam e no qual estão firmes.
Ele apresenta essa lembrança em etapas que se completam: 1) o anúncio – Paulo anunciou-lhes o evangelho: “Quero lembrar-lhes o evangelho que lhes preguei”; 2) a aceitação – De bom grado eles firmaram um compromisso com Jesus: “O qual vocês receberam”; 3) a perseverança – Eles continuavam firmes no compromisso que haviam firmado: “No qual estão firmes” (v. 1). Enquanto no verso inicial temos o desafio da perseverança, o verso seguinte apresenta a justificativa:
V. 2 – Por meio deste evangelho vocês são salvos, desde que se apeguem firmemente à palavra que lhes preguei; caso contrário, vocês têm crido em vão. Somos salvos pela fé (Ef 2.8-9), e “a fé vem pelo ouvir a mensagem que é pregada mediante a Palavra de Cristo” (Rm 10.17). Os que creem firmam-se na palavra, uma vez que essa perseverança é fundamental para a salvação: “Aquele que perseverar até o fim será salvo” (Mc 13.13). A mensagem do Cristo vivo tem base na experiência pessoal.
V. 3 – Primeiramente lhes transmiti o que recebi: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras.
A pregação de Paulo não resultava de seus próprios pensamentos, mas da realidade que ele havia recebido: o conteúdo de sua pregação era a história do Cristo que o comissionara a pregar. Vale lembrar que, apesar de ter iniciado o trabalho cristão em Corinto, Paulo sofrera terrível oposição de algumas pessoas que se opunham a seu trabalho, considerando-o em plano inferior. A resposta do apóstolo apresenta a filosofia de sua pregação. Sua presença entre eles objetivava unicamente anunciar o evangelho, o que ele soube fazer com simplicidade, no poder do Espírito Santo, para que a fé que eles tinham fosse firmada no poder de Deus (1Co 2.1-5).
Nos versos seguintes, ele sintetiza a essência dessa história, ao mesmo tempo em que especifica as aparições do Cristo ressurreto.
V. 4-7 – Foi sepultado e ressuscitou no terceiro dia, segundo as Escrituras, e apareceu a Pedro e depois aos doze. Depois disso apareceu a mais de quinhentos irmãos de uma só vez, a maioria dos quais ainda vive, embora alguns já tenham adormecido. Depois apareceu a Tiago e, então, a todos os apóstolos.
A citação prepara o leitor/ouvinte para a realidade maior: Paulo não apenas ouvira a mensagem do Cristo, mas com ele se encontrara, sendo comissionado para ser um pregador em uma das experiências de conversão mais dramáticas de toda a história. Isso fica claro na continuação da narrativa.
V. 8-9 – Depois destes apareceu também a mim, como a um que nasceu fora de tempo. Pois sou o menor dos apóstolos e nem sequer mereço ser chamado apóstolo, porque persegui a igreja de Deus.
A lembrança de haver sido um forte perseguidor do ensino de Jesus conferia maior realce ao fato de haver se tornado um pregador da Palavra. A ideia de ele se tornar um pregador nasceu no coração de Deus. Foi isso que ele deixou claro a Ananias quando o enviou a discipular o perseguidor Saulo: “Vá! Esse homem é meu instrumento escolhido para levar o meu nome perante os gentios e seus reis e perante o povo de Israel. Mostrarei a ele o quanto deve sofrer pelo meu nome” (At 9.15-16). “O importante é que o evangelho fala da atividade de Deus na morte e ressurreição de Cristo para a salvação dos homens. Esse evangelho apostólico é o que Paulo pregou” (BROWN, p. 451).
Paulo completa o arrazoado baseado em sua experiência pessoal, realçando a grandiosidade da graça divina.
V. 10 – Mas, pela graça de Deus, sou o que sou, e sua graça para comigo não foi inútil; antes, trabalhei mais do que todos eles; contudo, não eu, mas a graça de Deus comigo.
O reconhecimento maior do apóstolo Paulo é que tudo é dom da graça. Sem a graça de Deus não haveria evangelho. Foi essa graça que o buscou e, tendo toda a razão para detestá-lo, elevou-o à condição de proclamador das boas-novas. Paulo unicamente fez a sua parte trabalhando arduamente, a ponto de doar-se sem reservas ao Cristo que o chamou (Gl 2.20; Fp 1.21, 3.7-11).
A perícope encerra com a evidente declaração da unicidade do evangelho.
V. 11 – Portanto, quer tenha sido eu, quer tenham sido eles, é isto que pregamos, e é isto que vocês creram.
A autenticidade da mensagem não está na eloquência do pregador, mas na sua dependência do Senhor da pregação. Não importa quem prega, mas o que prega e o modo como vive a mensagem pregada. A verdade do evangelho é única, independente de quem a pregue. Paulo tinha tal convicção dessa realidade que chegou a declarar: “Mas ainda que nós ou um anjo dos céus pregue um evangelho diferente daquele que lhes pregamos, que seja amaldiçoado” (Gl 1.8).
3. Meditação
O Domingo da Ressurreição é propício para refletirmos sobre a autenticidade da nossa fé e da nossa pregação. Cristo vive! Sem essa certeza, a nossa fé de nada valeria (1Co 15.17). Paulo principia afirmando: Quero lembrar-lhes o evangelho que lhes preguei, o qual vocês receberam e no qual estão firmes (v. 1). Envolve: anúncio, aceitação e perseverança.
A pregação autêntica tem um conteúdo redentivo (v. 2): Por meio deste evangelho vocês são salvos, desde que se apeguem firmemente à palavra que lhes preguei; caso contrário, vocês têm crido em vão.
A pregação autêntica apresenta o Cristo Vivo, capaz de salvar os que nele creem. Sem conteúdo salvífico, a prédica deixa de ser pregação evangélica. O que é evangelho? “Poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê.” Tão essencial à fé cristã que Paulo completa: “Não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê” (Rm 1.16).
Esse conteúdo redentivo não tem a ver com autoajuda; entretanto está firmado na ajuda do alto. Jesus deixou a sua glória e assumiu a forma humana. Como tão bem descreveu João: “Aquele que é a Palavra tornou-se carne e viveu entre nós” (Jo 1.14). E Paulo completa falando da humilhação e da exaltação do Cristo (Fp 2.6-11).
O que torna a nossa palavra válida é que por meio dela Deus realiza maravilhas: o evangelho que pregamos transforma vidas. Além desse conteúdo redentivo...
A pregação autêntica tem fundamento bíblico (v. 3): ... o que primeiramente lhes transmiti foi o que recebi.
Paulo não criava uma nova doutrina; sua pregação era firmada na Palavra, o Antigo Testamento, e no testemunho daqueles que haviam convivido e aprendido com Jesus. Na versão de Almeida Revista e Atualizada (RA), a declaração é ainda mais incisiva: Antes de tudo vos entreguei o que também recebi. Vivemos dias difíceis: alguns pregadores, abandonando a fundamentação bíblica, baseiam sua pregação em discursos autopromocionais. A pregação alicerçada nas Escrituras é uma fiel abordagem da ação divina em nosso favor. O que Paulo havia recebido?
(…) Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, foi sepultado e ressuscitou no terceiro dia, segundo as Escrituras, e apareceu a Pedro e depois aos doze. Depois disso apareceu a mais de quinhentos irmãos de uma só vez, a maioria dos quais ainda vive, embora alguns já tenham adormecido. De- pois apareceu a Tiago e, então, a todos os apóstolos (v. 3b-7). Esse foi o conteúdo recebido e transmitido. Pregação não é invento humano, mas recurso divino para alcançar e redimir as pessoas: “agradou a Deus salvar aqueles que creem por meio da loucura da pregação” (1Co 1.21).
Após citar pessoas que estiveram com o Cristo Vivo e ouviram sua voz, Paulo menciona sua própria experiência: Depois desses apareceu também a mim, como a um que nasceu fora de tempo. Pois sou o menor dos apóstolos e nem sequer mereço ser chamado apóstolo, porque persegui a igreja de Deus (v. 8-9).
O fundamento da pregação de Paulo não era a sua vida, mas o Cristo que mudara o seu modo de viver. Seu passado perdera toda importância; a preciosidade do seu viver era Jesus: tudo o mais podia ser considerado perda (Fp 3.7-11).
Além de conteúdo redentivo e fundamentação bíblica, a pregação autêntica é conhecida por seu alvo.
A pregação autêntica tem propósito gracioso: Mas, pela graça de Deus, sou o que sou, e sua graça para comigo não foi inútil; antes, trabalhei mais do que todos eles; contudo, não eu, mas a graça de Deus comigo (v. 10).
A partir de sua experiência Paulo ressalta a atuação da graça divina: a salvação acontece pela ação graciosa de Deus; ele é rico em misericórdia; ele nos ama e nos deu vida em Cristo! Deus ressuscitou-nos com Cristo; pela graça somos salvos (Ef 2.4-9).
Deus continua trabalhando em nosso favor. Somente no Cristo Vivo encontramos vida. Ainda que as piores provas aconteçam: aflição, dor, perseguição, fome, perigo, guerras. Estamos certos de que “em tudo somos mais que vencedores” (...) Nem morte nem vida, anjos ou demônios; presente ou futuro, nada será capaz de nos afastar do amor de Deus que está em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 8.35-39).
Paulo conclui seu pensamento afirmando que não importa quem prega, mas o conteúdo e os resultados da pregação: “Portanto, quer tenha sido eu, quer tenham sido eles, é isto que pregamos e é isto que vocês creram”. O desafio é vivermos de tal modo que as pessoas vejam em nossas palavras e atitudes que Cristo realmente vive em nós.
4. Imagens para a prédica
A historicidade do Cristo Vivo deve fazer-nos refletir o quanto esse fato é real em nosso dia a dia e o quanto estamos ou não identificados com ele: as nossas ações no dia a dia evidenciam se seguimos os passos do Mestre ou seguimos distantes dele.
Para impactar com a mensagem da ressurreição, precisamos primeiramente ser impactados pelo Cristo Vivo de tal modo que o ensino dele seja visto em nossas palavras e ações.
O Domingo da Ressurreição constitui uma excelente oportunidade para avaliarmos nossas relações com o Cristo ressurreto. À semelhança de Paulo, o nosso anelo deve ser: 1) desejar conhecer Cristo, o poder da sua ressurreição; 2) firmar o propósito de participar de seus sofrimentos; 3) tornar-nos como ele em sua morte (Fp 3.10).
A mensagem do evangelho não conclui apresentando um Jesus pregado na cruz, mas apresentando o Cristo Vivo, que nos comissiona e nos assegura a sua presença todos os dias. Pela cruz as pessoas são atraídas a ele e por ele são salvas porque, ressurreto, ele é Senhor de todos quantos creem nele.
“A fé cristã tem uma qualidade permanente. A fé cristã nunca devia permanecer estática. Porque o nosso Senhor é o Cristo Vivo, há sempre novas maravilhas e novas verdades esperando ser descobertas” (William Barclay).
O túmulo vazio fez a história do carpinteiro atravessar o tempo e alcançar o mundo inteiro. O nome de Jesus confessado há de ser por todos como único Senhor, sendo salvo todo aquele que nele crer.
5. Subsídios litúrgicos
Litania:
“Deem graças ao Senhor porque ele é bom; o seu amor dura para sempre. Que Israel diga: O seu amor dura para sempre!”
“O Senhor é a minha força e o meu cântico; ele é a minha salvação. Alegres brados de vitória ressoam nas tendas dos justos: A mão direita do Senhor age com poder!”
“A mão direita do Senhor é exaltada!”
“A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular.”
“A pedra preciosa que Deus predestinou sustenta pedras vivas que a graça trabalhou e, quando o monumento surgir em plena luz, a glória do edifício será do Rei Jesus!”
No primeiro dia da semana, bem cedo, ao nascer do sol, elas se dirigiram ao sepulcro, perguntando umas as outras: “Quem removerá para nós a pedra da entrada do sepulcro?” Mas, quando foram verificar, viram que a pedra, que era muito grande, havia sido removida. Entrando no sepulcro, viram um jovem vestido de roupas brancas assentado à direita e ficaram amedrontadas. “Não tenham medo”, disse ele. “Vocês estão procurando Jesus, o Nazareno, que foi crucificado. Ele ressuscitou!”
Senhor, nós te agradecemos porque o teu Filho venceu a morte. Ele é a pedra preciosa, e nós, quais pedras vivas, trabalhadas pela tua graça buscando viver diante de ti para que toda a glória seja dada ao Rei Jesus.
Porque vivo está, o amanhã enfrento. Sim, vivo está, não temerei.
Pois eu bem sei que é dele o meu futuro, e a vida vale a pena. Cristo vivo está. (Sl 118.12; 14-6, 22; 3ª est. Hino 109 HL; Mc 16.2-6; estrib. hino 137 HCC).
Bibliografia
BROWN, Raymond Bryan. In: ALLEN, Clifton J. Comentário Bíblico Broad- man. Rio de Janeiro: JUERP, 1983. v. 10.
MORRIS, Leon. 1 Coríntios: Introdução e comentário. São Paulo: Mundo Cristão, 1981.
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