Paróquia Martinho Lutero

Sínodo Norte Catarinense



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Vocação!

24/01/2021

 

Você já recebeu um convite inesperado de emprego? Como foi? Vou ser mais radical. Quem já recebeu uma proposta inusitada que mudaria toda a rotina, acarretando inclusive em mudança de cidade ou estado? Diante da oportunidade temos duas opções, aceitar ou recusar. Nos textos bíblicos indicados para este final de semana, temos dois momentos e contextos diferentes, no caminhar de Deus com seu povo. Também, duas respostas diferentes. Inicialmente, com o profeta Jonas. Ele viveu por volta do ano 783 a. C, no reinado do rei Jeroboão. Foi chamado pelo Senhor e enviado à cidade de Nínive para denunciar os pecados, chamando-os ao arrependimento. Jonas aceitou externamente a missão, mas no seu coração reagiu negativamente, negando a tarefa. Inicialmente, por medo, pois os ninivitas eram conhecidos pela sua crueldade e hostilidade. Depois, ele era um israelita orgulhoso. Em vez de seguir a missão e ser “uma bênção aos outros povos”, pensava apenas em si.

Achando que Deus não estava ciente de seus desejos e vontades, foi até o porto. Mas, em vez de pegar o navio para Nínive, embarcou para Társis, isto é, ao oposto dos propósitos de Deus. Eis que se meteu numa tremenda confusão colocando outras pessoas em apuros, pois o Eterno, tinha como objetivo salvar os ninivitas, dando-lhes uma chance para que se arrependessem, pretendia fazer tal feito por meio de Jonas, assim, mandou uma tempestade sobre a embarcação. Enquanto os marinheiros e demais tripulantes faziam de tudo para evitar o afundamento do barco, Jonas dormia tranquilamente no porão, até que um dos marinheiros o acorda. Então, se dá conta, que o causador daquele problema é ele e pede para que os tripulantes o lancem ao mar. O profeta é arremessado, a tempestade se acalma e Deus dá o seu jeito. Salva Jonas por meio de um grande peixe, onde Jonas passa 3 dias e 3 noites na barriga. Neste período, aproximou-se de Deus, arrependendo-se. Assim no 3º dia vomitado pelo peixe, pela segunda vez, Deus o envia a Nínive com a missão de denunciar os pecados e anunciar graça.

Desta vez Jonas, aceitou. A cidade era grande, ele calculava 3 dias para percorrer todos os bairros. No entanto, no primeiro dia da missão a cidade atendeu ao chamado de Deus, vindo a se arrepender, mudando de caminho, permitindo que Deus lhes convertesse. Que boa notícia e que alívio. Em vez de revoltarem-se contra o profeta, os ninivitas aceitaram a mensagem, reconhecendo seus pecados. O arrependimento foi de corpo e alma, não apenas de boca. Como sinal de humildade, na presença de Deus, rasgaram suas vestes e se vestiram com panos de saco. Este ato é, nos tempos antigos, sinal de mudança, uma afirmação de busca de perdão e reconciliação.

Em vez de celebrar a atitude do povo, do agir de Deus, o profeta ficou zangado. Seu comportamento indica apenas que agiu por obrigação. Em vez de louvar a Deus por seu feito gracioso, lamentou como uma criança mimada ao ter sua vontade negada. O desejo de Jonas era de vingança e condenação. Assim, o profeta sai da cidade e fica ao longe observando a mudança. Sozinho pede a Deus que lhe tire a vida. No entanto, outra vez, o Eterno não deu ouvidos às suas palavras agindo com misericórdia. Não sabemos o que aconteceu com Jonas. Se ele se arrependeu ou se veio a morrer tomado de rancor e amargura. No entanto, temos o testemunho do quão misericordioso é nosso Deus.

Muitos séculos após Jonas e sua missão, mais uma vez Deus age com misericórdia, fazendo-se homem, por meio de Cristo, sendo a misericórdia e a graça em carne e osso no meio do povo. O menino Deus crescera no meio do povo, com outra criança. No entanto, sem cometer pecados. Ao completar 30 anos, deixou Nazaré, vilarejo localizado ao sul da Galileia estando a 350 km acima do mar mediterrâneo, seguindo em direção à Galileia. Inicialmente busca seu primo João Batista, o último dos profetas, que preparava o caminho para sua missão chamando o povo ao arrependimento. Àqueles que aceitavam sua mensagem, ele batizava, como sinal de purificação. O Messias pede para o profeta que o batize, mesmo resistente João cumpre o desejo de Jesus. Eis que ele, todos e todas que estavam no rio presenciaram a “Epifania”, isto é, a revelação do trino Deus. Ouviram a voz do Deus Pai, que reconheceu Jesus como seu filho e o Espírito Santo, manifesta-se por meio de uma pomba.

Após este ocorrido, Jesus é levado, pelo Espírito Santo, para o deserto, onde passa 40 dias e 40 noites. No fim é surpreendido por Satanás, que tenta se aproveitar de sua vulnerabilidade. Jesus, mesmo fraco, não cai nas armadilhas do inimigo, sendo amparado pelos anjos. A partir de então, passa a anunciar o Reino de Deus, este que era tão esperado pelo povo, anúncio que consistia na denúncia dos pecados e proclamação da graça e do perdão. O Reino de Deus também era manifestado por meio de curas e milagres. Pouco a pouco, conforme Jesus percorria a região da Galileia, as pessoas o reconheciam e o seguiam.

Vemos no relato bíblico, que ao caminhar a beira do mar, Jesus chama pescadores para serem seus discípulos. Eles, ao contrário de Jonas, largam suas famílias e negócios para seguir Jesus. Ser pescador nos tempos de Jesus era uma profissão valorizada, pois da pesca provem um dos alimentos básicos da mesa dos judeus, o peixe. A região da galileia era o centro da comercialização de peixe para as demais regiões da Judéia. Assim como hoje, ser pescador é um trabalho duro, naquele tempo haviam várias técnicas de pesca, no entanto a mais utilizada era a de arrastão, quando vários pescadores juntavam forças e pescavam maior quantidade. Simão Pedro era dono e comandava um barco de pesca e João e Tiago, trabalhavam no barco do pai, Zebedeu.

Por mais dura que fosse a vida de pescador, era um ganho certo. Eles sabiam o que encontrariam, com sorte muitos peixes e na maré de “azar”, escassez. No entanto, os pescadores optaram por largar as redes de algodão e linho e as embarcações para seguir o Messias para pescar gente. Que loucura, como se pesca gente? Qual equipamento é o mais adequado? Que iscas usar? Desta vez, Deus não detalhou, como fizera com Jonas. Os pescadores seguiram Jesus, onde se deram conta de que pescar gente não é tarefa fácil, pois culmina na cruz. É na cruz que os discípulos se desesperam, veem-se abandonados, vulneráveis aos romanos e aos judeus, mas desta vez a misericórdia de Deus fora a vitória sobre a morte e o túmulo vazio. Os discípulos passaram por um tempo difícil. Quando estavam retomando à antiga profissão, eis que Cristo, os surpreende. Em Pentecostes, cumpre a promessa, enviando o Espírito Santo. Este que é a presença real, não de carne e osso, mas dentro de todo aquele que nele crê. Assim, o amor e a misericórdia de Jesus os fez ainda mais misericordiosos com os sofridos, buscando em Deus, maneiras de ser sinal do reino.

Estimada comunidade! Deus continua sendo misericordioso e nos chamando para irmos a “Nínive” ou para sermos pescadores de homens. Mas, de maneira diferente. Inicialmente somos chamados por Deus no dia do nosso Batismo. Neste momento, ele vem até nós, sem merecermos. Mesmo pecadores, Ele nos aceita como somos. Por meio da água ligada ao Evangelho, afoga nosso velho Adão e nossa velha Eva. Segundo o apóstolo Paulo, Cristo morre na cruz pelos pecados que ainda não havíamos cometido. Nós morremos com Ele. No entanto, como ele ressuscitou no dia da Páscoa, nós também ressuscitaremos. Por meio desta graça, que é o ápice da misericórdia do Senhor passamos de inimigos para filhos de Deus e herdeiros da vida Eterna.

No nosso Batismo recebemos o Espírito Santo, assim como os discípulos. Espírito que nos presenteia com muitos dons e talentos, tornando-nos profetas e profetisas, pescadoras e pescadores de gente. Alguns receberam o dom de ouvir, aconselhar e animar, outros de cuidar da casa de Deus, outros de contribuir financeiramente ou por meio de um pão. Também têm aqueles com paciência para ensinar ou tocar algum instrumento e cantar. É através do nosso viver e dos nossos talentos que Deus nos usa para pescar. A missão de pescar gente não é tarefa fácil. Desejo que o Eterno nos anime. Em meio aos momentos de desânimo, que por ventura viermos a enfrentar, que Ele torne a desesperança em esperança, o medo em coragem, o sentimento de incapacidade em vontade de aprender e buscá-lo. Que Ele nos use, pois a misericórdia dele é tão grande. Muitos são os que carecem dela. Amém!
 


Autor(a): Teólogo Rodrigo Rudnick
Âmbito: IECLB / Sinodo: Norte Catarinense / Paróquia: Garuva-SC (Martinho Lutero)
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Meditação
ID: 60936

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