Alguns sermões atrás “sugeri” que Jesus aprendeu muitas parábolas com José enquanto trabalhava na carpintaria. Assim como, aprendeu salmos e canções no colo de Maria. Fato é que provavelmente Jesus tinha uma virtude preciosíssima que é a observação e vontade de aprender. Quem as têm sempre vai se dar bem na vida. Jesus era artesão. Ele fabricava e reparava móveis. Ele construía casas. Ao falar de alicerce, sabia do que se tratava, pois era o seu ofício. Mas, ao citar a pesca e a agricultura em suas parábolas, sua autoridade sobre o assunto era fruto das observações. Para entender o jeito de Jesus, procurem recordar a história dele - quando menino - ouvindo e indagando os doutores em Jerusalém. Saber ouvir e questionar é uma regra de ouro. Ouvir o outro e prestar atenção naquilo que acontece à volta nos torna pessoas mais sábias.
Em Marcos 4 são citadas algumas parábolas de Jesus, as quais serão motivo às nossas reflexões nos próximos cultos. Hoje é a Parábola do Semeador (vv.4-20). Plantar e colher é uma ordem da criação. É um processo natural, que envolve o Criador e as pessoas. Deus coloca a força na semente, ao mesmo tempo manda o sol e a chuva. Da terra brota uma nova planta que nos abençoa com seu fruto. Às pessoas cabe a inteligência de observar o processo, ocupando o momento e o local certo. Obviamente, sem deixar de lado, o esforço. Cabe-nos fazer a nossa parte. Ou seja, preparar a terra, plantar, cuidar e colher. É bom reconhecer nossa missão, lembrando do Criador. É necessário pedir a sua bênção e, da mesma forma, agradecer pelas dádivas recebidas, não importando qual seja o seu ofício, na lavoura ou na fábrica e escritório. Cultivar e guardar é ordem divina (Gênesis 2.15). Fico muito feliz em lembrar tal verdade bíblica justo hoje no “Dia do Meio Ambiente”. É uma questão de responsabilidade.
Então, Jesus observa a seguinte cena e - de maneira poética - traz uma parábola sobre a semente. Certo agricultor pegou a bolsa com suas sementes e foi para o campo. Ao lançar a primeira porção, no início da lavoura, algumas caíram na estrada. Os passarinhos acharam e as comeram. Outra porção caiu em solo rochoso. Como havia pouca terra, o sol logo torrou a plantinha que mal e mal havia nascido. Infelizmente, suas frágeis raízes não encontraram água suficiente que permitisse o desenvolvimento. Outra porção foi jogada em terra boa. Mas, assim como cresciam, elas eram abafadas pela capoeira à sua volta. Faltou a enxada. A última porção também caiu em terra boa, onde houve sol, água e limpeza adequadas. Ele cresceu e produziu bastante, chegando a dar 100 grãos por cada semente plantada. Por fim, Jesus pergunta: Vocês ouvem e me entendem?
O Mestre contou essa parábola à beira mar. Ele estava sobre um barco. O povo escutava na praia. A parábola é um “enigma” que nos faz refletir. Cada um que esteve naquela praia voltou para casa pensando no que Jesus ensinou. Mas, quem semeia? Afinal, o que é a semente? Por que existem diferentes solos ou situações? Em seguida, Jesus se volta aos discípulos e diz: Assim é o Reino dos Céus. Noutras palavras, assim é que Deus toma conta da nossa vida, concretizando seu plano de salvação sobre a humanidade. A lavoura pertence a Deus. Ele é o agricultor (João 15.1). A semente é a Palavra de Deus. De fato, Jesus é a Palavra encarnada. Deus fala por meio de Jesus. Então, como as pessoas recebem a Palavra? Como recebemos Jesus em nosso coração? As situações retratam diferentes momentos de nossa vida. As situações também apontam para diferentes reações diante do Evangelho. Ninguém consegue se isentar.
No primeiro momento, Jesus explica sobre a semente que caiu à beira do caminho, as quais foram devoradas pelos pássaros. São aquelas pessoas que ouvem o Evangelho, mas a Palavra entra por um ouvido e sai pelo outro. Não fica na mente, muito menos no coração. É o ouvir sem atenção ou concentração. É o rito pelo rito. É aquele sujeito que vai à igreja só com o corpo. Está no Estudo Bíblico, mas seu pensamento está no trabalho, nos estudos, na diversão. Nada disso é errado, mas na hora errada. O inimigo distrai o crente. Os passarinhos estão voando agora em volta da nossa cabeça? Eles querem tirar a nossa atenção? Há uma escolha a ser feita: Ou você os enxota, ou admira e perde a linha da reflexão. Entendeu? Ou, os passarinhos já levaram a sementinha? Isso é muito fácil de acontecer contigo e comigo também. É humano. O que precisamos é entender e querer superar. Aqui entra o Espírito Santo. Ainda refletimos Pentecostes.
Jesus segue. Há aquela semente que não cria raiz, à qual falta profundidade. Há uma clara diferença entre o religioso e o cristão. Posso ser luterano, católico ou crente e não seguir o Evangelho. Eu posso ter uma religião e não seguir a Jesus. O que sustenta e dá crescimento à planta é a “água viva” que é Jesus. (João 4.10). Existem barreiras que evitam nosso comprometimento com o Evangelho. É uma pedreira. Noutra oportunidade, o Mestre ensinou que uma enxurrada pode carregar o alicerce construído na areia. Mas, aquele que constrói a sua vida sobre a rocha aguenta o “tranco” das dificuldades. Jesus vem em nossa direção tal como sementinha plantada no coração. Podemos tranquilamente levar uma vida apenas religiosa, sendo cumpridores de ritos e pagantes de contribuição. Mas, o que acontece? Com facilidade somos abalados por dificuldade que a vida nos impõe ou ainda sorrateiramente somos desviados por falsas doutrinas. O maligno não deseja nossa firmeza de caráter, muito menos nosso crescimento espiritual. O maligno não se preocupa com pessoas religiosas. Os escribas do último culto eram apenas pessoas religiosas, sem comprometimento com Jesus.
Em seguida, a parábola ganha um novo desdobramento. Existem pessoas que entendem e se comprometem com o Evangelho. Com o passar do tempo, ficam espiritualmente maduras. Elas revelam um caráter firme e boa intenção. Mas, o maligno as cercam de ambições diferentes do Evangelho. Sorrateiramente o inço cresce ao lado e vai enrolando a pessoa (ou instituição). O desejo de servir se transforma no desejo de ser servido. A firmeza de caráter vira autoritarismo e abuso do poder. As pequenas regalias e mordomias (bênçãos) substituem a simplicidade da vida cristã. A dedicação amorosa ao Reino se torna um ativismo desenfreado. Infelizmente, muitos usam da fé para dominar os outros ou extorquir valores e bens. Os artistas fazem sucesso no mundo gospel, que sobe à cabeça. Os cargos eclesiásticos são meios de poder ou até oportunidades políticas. O mato toma conta da boa semente. Vejo muito disso por aí. Confesso que também corro constante o mesmo risco como pastor. Entre o serviço e o abuso há limites que nem sempre são tão claros.
Jesus cita 3 realidades concretas e complicadas, as quais percebemos à nossa volta, dentro e fora da igreja. O Evangelho é pregado, mas nem sempre ouvido ou aplicado com profundidade. Mesmo quando aceito, o mal sempre mostra suas garras para desviar os crentes. Todavia, não podemos esquecer que a força está na semente. Muitas vezes, em lugar inesperado ou num coração duro ela brota, cresce e produz frutos. Deus manda sol e chuva sobre crentes e descrentes. O despertamento espiritual é obra do Espírito Santo. Mas, isso não deve nos inibir. Como cristãos e como comunidade precisamos fazer a nossa parte, tanto abrindo nosso coração à Palavra, quanto na pregação do Evangelho àqueles que nos cercam. Dar tempo ao tempo, ter paciência, não perder a esperança e alegrar-se com cada colheita é o constante desafio. Haverá momentos de pesar e decepção. Também, teremos momentos de, com júbilo como diz o Salmista, carregar os feixes da colheita (Salmo 126.6). O projeto do Reino iniciado por Jesus foi aceito por 11 discípulos (citados nominalmente entre outros tantos). A partir de Pentecostes, o discipulado se alastrou. Hoje, você e eu somos fruto do fruto. Fazemos parte de uma colheita e já estamos a semear. A seara é grande e os trabalhadores são poucos. Em amor, dedique-se. Deus abençoa e abençoará mais e mais. Termino o sermão com as palavras de Jesus ao fim da sua parábola: Quem tem ouvido para ouvir, ouça. Cada qual escutou do seu jeito a Palavra, recebendo uma boa semente no coração. Deixe-a crescer e produzir bom fruto. Amém!