O povo estava reunido à beira mar. Atentos escutavam o Mestre contar parábolas. Sobre um barco na praia, acompanhado pelos discípulos, Jesus falava sobre o Reino de Deus. Ele pregava sobre a importância de colocarmos nossa vida sob o governo de Deus, que quer reinar em nosso coração. Noutra oportunidade, Jesus já havia dito que não basta ouvir. É preciso também praticar a Palavra, assim construímos a vida sobre a rocha. Então, após o longo sermão, Jesus se volta aos discípulos e ordena: Toquem o barco. Vamos à outra margem. Aos discípulos, aquela era apenas uma ordem rotineira a ser cumprida. Porém, agora estava começando a parte prática da teoria que havia sido recém escutado. Será que os discípulos ouviram? Quem tem ouvidos, ouça. Dizia sempre o Mestre. Será que os discípulos assimilaram no coração a Palavra? Vamos ver o que acontece.
O episódio é assim narrado pelo evangelista: Ao anoitecer, Jesus disse aos seus discípulos: Vamos para o outro lado. Deixando a multidão, eles o conduziram no barco. Outros barcos também o acompanhavam. Levantou-se um forte vendaval. As ondas se lançavam sobre o barco, de forma que este ia se enchendo de água. O Mestre estava na popa, dormindo com a cabeça sobre um travesseiro. Os discípulos o acordaram e clamaram: Jesus! Não te importas que morramos? Ele se levantou, repreendeu o vento e disse ao mar: Aquiete-se! Acalme-se! O vento se aquietou, fazendo-se completa bonança. Então, ele perguntou aos seus discípulos: Por que vocês estão com tanto medo? Ainda não têm fé? Eles estavam apavorados e questionavam-se: Quem é este que até o vento e o mar lhe obedecem?
Os discípulos não sabiam o que estava por vir. Jesus, sim. Para aqueles pescadores, acostumados a atravessar o Mar da Galileia, era fácil atingir a outra margem. Eles não sabiam o que estava por vir. Aliás, quem de nós sabe? Mas, Deus sabe e pede constante confiança. Da sua parte, Jesus confia na condução do barco. Ele se aquieta num canto e dorme sossegado. Porém, o imprevisível acontece. Uma grande tempestade vem ao encontro do pequeno barco. Os discípulos eram navegadores experientes. Contudo, mesmo assim, veem-se apurados. Até que, por fim, desesperados, não vendo saída, eles se lembram de que Jesus está no mesmo barco. Eu me pergunto: Quantas vem quero resolver as encrencas da minha vida, da família, da empresa, da igreja e do mundo, esquecendo-me de que Jesus está ao meu lado?
Por fim, na pior das situações, onde o vento estraçalha as velas e as ondas batem com força no casco, onde a água já invade a embarcação, cheios de si perguntam: Mas, afinal, onde você está Jesus que não percebe a nossa situação? Confesso que eu também - em alguns momentos da minha vida - já perguntei onde está Deus. Confesso que - diante de tanta maldade, injustiça e violência - pergunto pela presença de Deus. Porém, Ele sempre esteve e está ao nosso lado. O problema é que a gente esquece de buscar nele resposta e solução. Quase sempre queremos dar conta do recado sozinhos. O esforço é bom e necessário. Mas, esquecer-se de Deus é um erro elementar. Por isso, o questionamento do Mestre: Como é que não tendes fé? Eu me envergonho com os discípulos. Aliás, não sou diferente.
Lembrando... Refletimos aqui uma lição prática sobre o governo de Deus na nossa vida. Afinal, onde colocamos Deus em nossas viagens, projetos e dificuldades? Em geral as pessoas têm uma religião, acreditam em Deus, mas não deixam que Jesus determine os planos ou ainda não fazem da fé uma alavanca para superar os obstáculos. Não faço aqui uma acusação. Antes, minha própria reflexão. Eu também preciso melhorar. Então, quero compartilhar algumas lições bem práticas que percebi.
A primeira é com respeito a tempestade. O nosso pensamento não deve se restringir às tragédias da natureza. Estamos sujeitos às enchentes, ciclones e temporais. Outras vezes, é a tragédia de acidentes e doenças. O período de pandemia é uma tempestade. Ainda, noutros momentos, o temporal pode ser interno, no coração, causado por uma perda, seja material ou pessoal, uma desilusão, a falta de esperança ou perspectiva, que leva até o suicídio ou submissão diante dos abusos à nossa volta. Às vezes, perguntamos: Onde está Deus? Mas, também podemos agir como os discípulos, buscando socorro no Senhor. Ele sempre ajuda e dá conta do recado.
Outra lição é sobre o medo. Mesmo os experientes pescadores apavoraram-se diante do temporal. Não precisamos ter medo de ter medo. O medo faz parte da vida. O medo nos ensina a sermos mais cuidados nas situações e relações. Ele também nos dá noção de que não conseguimos controlar tudo o que acontece. Todavia, o medo pode nos travar espiritualmente, inibindo nosso crescimento. Eu tinha um medo muito grande de me expressar em público. Como poderia ser pastor? Pela graça de Deus, foi superado. Mas, por outro lado, ele me ajuda a não falar demais ou falar o que é impróprio.
Enfim, Jesus foi acordado. Ele deu conta da situação, que voltou à normalidade. Também, os discípulos se aquietaram. A viagem prosseguiu rumo ao destino determinado pelo Mestre. Eles aprenderam que, a melhor alternativa na tempestade, é buscar socorro em Deus, que não deixa ninguém na mão. Aprenderam também que para Jesus nada é impossível. Os cegos veem. Os aleijados andam. Os leprosos são curados. Agora, até o vento e o mar estão sob seu controle.
Por último, que fique bem claro... Independente de termos ou não fé, dela ser pequena ou grande, a tempestade chega. Ninguém está isento de momentos difíceis. Todas tempestades acontecem sob a supervisão de Deus e podem ser momentos para aprender e crescer na fé. A nossa fé não acalma a tempestade. A nossa fé se apega àquele que tem controle sobre todas as situações. Quando tudo vai bem dê graças a Deus. Quando fica difícil, busque n’Ele socorro. A calma em meio à agitação da vida não é natural. Ela vem da nossa relação com Jesus. É Reino de Deus no nosso coração. Experimente! Você será mais feliz. Amém!