Pela manhã, quando acordo, vou ao banheiro, me espio no espelho, dou uma ajeitada no visual para enfrentar o dia. O texto bíblico sugerido para pregação neste culto – que está em Jonas, capítulo 4 - nos leva a uma atitude semelhante. Primeiro, sair do berço. Ou melhor, desacomodar-se. Segundo, reparar na nossa imagem como pessoa e comunidade. Terceiro, se possível, corajosamente, dar uma ajeitada na vida.
Vamos recordar quem foi Jonas? Ele era profeta. Alguém chamado por Deus para levar uma mensagem especial. Hoje, somos profetas de Deus dentro de nossa família, igreja e sociedade. Será que temos alguma semelhança com o profeta? Jonas foi chamado por Deus para pregar em Nínive. Na época com 120 mil habitantes. Era a capital da Assíria, uma grande potência, reconhecida por sua crueldade. Era um horror às nações vizinhas. Jonas conhece a fama dos assírios. Ele os odeia. Ele quer a destruição dos pagãos. Contudo, reconhece também a compaixão de Deus. Sabe que Deus quer salvar e jamais destruir. Há um conflito de interesses no peito do profeta. O que eu quero é diferente do que Deus quer. Já aconteceu contigo?
A princípio, Jonas aceita a missão de pregar o juízo, mas foge. Navega em direção oposta. Deus ama Nínive e quer uma mudança de atitude. Igualmente, ama Jonas e quer uma mudança em sua vida. Em sua fuga, Jonas quase causa uma tragédia. Por pouco não afunda o barco com toda a tripulação. Todavia, esses humildes navegadores - com diferentes religiões e deuses - reconhecem a desobediência de Jonas e o poder que Deus tem, tanto para destruir, como para salvar. Mesmo contrariados – por ser uma atitude desumana - eles jogam o rebelde ao mar. Deus continua sua obra salvadora fazendo com que um enorme peixe engula o profeta, levando-o em direção à Nínive, alvo de sua missão.
Lá, na solidão do ventre animal, no mais profundo mar, acontece uma mudança. Aquele judeu devoto que acredita na presença de Deus está somente no templo de Jerusalém, aquele profeta que estrangulava o amor de Deus somente para um único povo, Israel, agora, é levado a reconhecer que... Em primeiro lugar, lá nas profundezas, na sua angústia, Deus também está presente. Num segundo momento, Deus também ama o estrangeiro, inclusive aquele que é malvado. Por isso, Ele deseja que ouçam sua Palavra e mudem suas vidas.
Contrariado, mas submisso, Jonas chega à Nínive. Tão competente era que, o percurso normal de três dias para cruzar a cidade com sua mensagem, é feito somente em um, de maneira eficaz. A sua pregação crava fundo no coração dos ninivitas. Jonas era um bom pregador. Cumprida sua tarefa, ele não permanece em Nínive. Sai da cidade e se isola. Senta-se no alto e fica esperando o “circo pegar fogo”. Deus disse que vai destruir, por isso eu quero assistir. Cá com os meus botões, fico pensando: Quantas vezes eu também fiquei na expectativa de ver o outro se dar mal para depois dizer: Bem feito! Eu sabia que isso ia acontecer!
Mas, veio a surpresa. A Palavra de Deus bateu no coração daquele povo cruel. Eles creram, proclamaram jejum, mudaram de atitude, decidiram caminhar com Deus. Eis um milagre. Mesmo Jonas ficou surpreendido com o resultado de sua missão. Ainda que esse não fosse o desejo do seu duro coração. É uma história com final feliz. Ao menos, para o povo de Nínive. Contudo, com Jonas, a história continua. Ele não entra em Nínive. Ele não se submete a festejar com os convertidos o perdão. Ele fica resmungando. Ele foi um profeta eficiente. Proclamou a destruição. Em sua opinião, seria justo que esses miseráveis morressem. Seu maior desejo era: Ó Senhor! Fogo neles. Mas, Deus é amor. Ele permite, em sua graça, que a vida continue naquela capital.
Agora, o que fazer com Jonas? O povo foi convertido, porém um “cabeça dura” continua teimando com seus princípios racistas e ideológicos, por não dizer também, com seu fanatismo religioso. Algo bastante comum ainda em nossos dias. Então, Deus, em sua graça, usa a natureza na vida de Jonas. Ao sol, o profeta estava aguardando a destruição daqueles a quem odiava. Deus fez crescer ao seu lado uma planta que lhe trouxe conforto. Jonas poderia esperar o juízo na sombra. Isso é muito bom. Entretanto, logo em seguida, um verme ataca a planta e ela murcha. Jonas volta a ficar debaixo do calor do sol. Já estava chateado com a falta do juízo, ainda mais agora ao sol. Então, Deus fala: Jonas você mostra compaixão pela planta que não lhe custou nada e deixa de amar aquelas 120 mil pessoas (e animais) de Nínive que ouviram tua pregação e se aproximaram de mim! Noutras palavras: Jonas! Para e repensa teus conceitos. Assim termina a história de Jonas. Não é dito o que aconteceu depois. Se ele entendeu e aceitou a correção do Senhor ou não. Eu realmente espero que ele não tenha permanecido com seu coração endurecido.
Deus amou ao mundo de tal maneira que deu seu “único” filho (JESUS), para que todo aquele que nele crer (em JESUS), não morra, mas tenha a vida eterna (e plena)” (João 3.16). Deus nos ama tanto que dá o que tem de mais precioso: JESUS, seu único menino. É paixão. Deus ama o “mundo”. Não é uma classe ou um tipo de pessoa. Ama “todas” as pessoas. Ama “todas” as criaturas. Ele quer a salvação. Quando alguém comente uma maldade, Deus fica triste. Quando alguém destrói a natureza, Deus se entristece. Quando há reconciliação, restauração, construção, renovação, Deus se alegra. Quando alguém se converte do “mau caminho”, há festa nos céus.
Como igreja, somos desafiados e vocacionados a embarcar na missão, tal qual Jonas. O que eu posso fazer para pregar o nome de Deus? Aonde posso ir? Com quem falar? Existem muitas oportunidades. Aliás, Deus usa diferentes pessoas em diferentes lugares. Mesmo quando pretendemos fugir, Deus realiza sua obra através de nós. Apesar de nossas impertinências e manias. Melhor seria compreender o quanto Deus nos ama. Ele mesmo constantemente nos resgata de muitas enrascadas. Observamos? Somos gratos? Ele nos motiva, a partir de seu próprio exemplo a amar, a salvar, a ir em direção ao outro...
O que podemos aprender com tal história? Cada um de nós tem seus conceitos e preconceitos. Na caminhada com JESUS podemos aprender a enxergar com ele enxergava, a agir como ele agia, a amar com ele amava. Não por obrigação, mas por paixão. Não porque o “pastor” disse no culto, mas porque eu entendi o que Deus fez e faz, dia-a-dia por mim. Em resposta àquilo que Deus faz, eu me coloco à disposição na “Missão de Deus” com alegria. Ou seja, diariamente Deus vai transformando minha vida. Ele tira o foco de cima de meus próprios pensamentos e me faz pensar como e com Jesus. Aí sim existe esperança de transformação, tanto no mundo, quanto em mim. Amém!