Quando criança, assistindo sessão da tarde, passou um filme sobre João Batista. A cena onde sua cabeça aparece sobre uma bandeja até hoje está em minha memória. Tal história bíblica é motivo de reflexão neste domingo em toda a igreja. Em Marcos 6.14-16 lemos: “Herodes ouviu falar que o nome de Jesus havia se tornado bem conhecido. Algumas pessoas chegaram a dizer: João Batista ressuscitou dos mortos! Por isso, estão operando nele poderes milagrosos. Outros diziam: Ele é Elias. Ainda outros afirmavam: Ele é como um dos antigos profetas. Quando Herodes ouviu tais novidades, também pensou: É João, o homem a quem decapitei. Ele ressuscitou dos mortos”. O governador estava assombrado com a possibilidade de encontrar em Jesus um fantasma do João, a quem ele mandou matar injustamente. Ou seja, Herodes tinha um peso na consciência.
Para compreender melhor a situação precisamos voltar ao início. Aconteceu um milagre! O anjo Gabriel comunicou ao casal idoso que teriam um filho. Isabel, de imediato, compartilhou a bênção com sua prima Maria. Como mães, elas sabiam que a história dos meninos estaria relacionada. O filho de Isabel seria aquele que prepararia o caminho do Salvador, filho de Maria. Contudo, Zacarias duvidou e ficou mudo. Até que, ao ser levado ao templo, onde determinou como João o nome do recém-nascido. Para surpresa da vizinhança, a casa daqueles idosos se encheu de riso e também com o choro de uma criança. Um milagre, uma bênção.
Muito cedo, João perdeu os seus pais idosos. Então, ele decidiu morar e iniciar seu ministério no deserto. Era um sujeito estranho. Vestia-se com couro de camelo. Comia gafanhoto e mel. Todavia, era benquisto pelo povo. João era um excelente pregador. Sempre apontava para a vinda do Messias, que salvaria o mundo. Ele dizia: Arrependam-se. Mudem de caminho. Diferentemente dos demais religiosos da época, não exigia sacrifícios de animais, nem ofertas. A mudança deveria ser interior, no coração. Por isso, não bastava religião, sem conversão. As pessoas vinham de todos os lados para escutá-lo, entendendo e aceitando o desafio.
Antes de retornarem às suas famílias e vida social, João os batizava no Rio Jordão, por isso ele foi apelidado de “Batista”. Todavia, convém que fique bem claro: O batismo de João não era um batismo cristão. Era apenas um ritual de purificação. Ele só acontecia como testemunho público diante do desejo sincero de mudança. Os soldados deviam deixar a brutalidade e a suborno de lado. Os comerciantes não deviam mais lograr os fregueses. Ser bons pais, bons filhos, ser cidadãos exemplares, fiéis a Deus. Ou seja, em seu ministério, João não abordava somente as questões morais do indivíduo, também o seu reflexo nas questões sociais. Aliás, como profeta, sempre apontava para Deus como solução, tanto ao mal pessoal, quanto social. Porém, ele não fazia parte do círculo religioso oficial. Por isso, nem sempre era bem visto pela elite. Mas, o povo gostava dele e o respeitava. Com o tempo, quando saiu do deserto e passou a caminhar pela Galileia, passou inclusive a ter os seus próprios discípulos.
Mas, isso foi só por um tempo. No deserto, encontrou-se com o primo Jesus, o qual – mesmo sem pecado – se deixou batizar, valorizando assim o ministério de João. No encontro seguinte, pelos caminhos da vida, João já apontava em direção a Jesus dizendo: “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”. Doravante, seus discípulos passaram a seguir Jesus. Assim João adotou o lema: “Convém que ele cresça e que eu diminua”. O ministério de Cristo se tornava dia a dia mais evidente do que o dele. Era o objetivo maior.
Mesmo assim, João continuo pregando entre o povo. Ele não tinha medo de falar a verdade. Ele questionava as pessoas em geral. Apontava o erro nos fariseus, na religião tradicional. Por exemplo, de nada adianta sacríficos e ritos, se não há mudança de coração. Ele questionava também nos governantes. Eles deveriam servir de exemplo à população. Mas, não. O líder Herodes roubou a mulher do irmão, vivendo amancebado com a cunhada. O governador até que gostava de ouvir João. Tinha respeito por suas palavras. Todavia, sabia que dia a dia ele estava se tornando um líder cada vez mais popular, respeitado pelo povo. Herodes precisava dar contas, tanto aos líderes religiosos, quanto ao império. Não teve outra alternativa, senão mandar prender João, tirando-o de circulação. De fato, Herodes estava trancando entre a vontade dos outros e sua própria consciência. Sabia que João tinha razão, mas não podia lhe dar razão.
Depois de algum tempo, Herodes fez uma grande festa de aniversário, convidando a elite da região. Além da sua família, estavam presentes políticos, oficiais militares e a liderança religiosa. Eram as pessoas que detinham o poder. Havia diversão e muitas atrações. Num dado momento, a filha da sua amante, se apresentou em dança sensual. Herodes estava meio tonto. Impressionado pela apresentação, ele soltou a língua prometendo à menina que lhe daria o que pedisse. Uma promessa insensata para qualquer pessoa em qualquer época ou situação. A menina buscou conselho na mãe, a qual sabia que João Batista estava preso no calabouço, abaixo do próprio palácio. Herodias disse à filha: Pede ao governador a cabeça de João Batista. Quando ouviu o pedido, Herodes se deu conta da bobagem que havia aprontado. Mas, não tinha como voltar atrás com sua palavra diante de tanta gente importante. Não era o seu desejo. Mas, mandou que decapitassem João.
Para terminar a festa com chave de ouro, os guardas calaram a voz daquele que clamou no deserto e fez o povo se achegar a Deus. Sobre uma bandeja, para alegria de alguns e tristeza de outros, foi realizado o desejo da menina dançarina e sua cruel mãe. João Batista está morto. Com certeza, alguns dormiram mais tranquilos naquela noite. Todavia, Herodes não teve paz. Dias depois ao ouvir a respeito de Cristo, precisou perguntar se ele era João que voltou à vida. Ele calou João. Mas, não conseguiu calar o movimento iniciado por João, que teve continuidade com Jesus, que se alastra até a plenitude do Reino de Deus.
O Mestre testemunhou a seu respeito de João dizendo que não houve pessoa como ele, destacando a dedicação em preparou a sua chegada. Mas, também o valorizou pela firmeza de caráter e audácia no anúncio da Palavra, bem como por ser alguém que entregou sua vida pelo Reino de Deus. Como diz O Evangelho: “Quem perder a vida por minha causa ganhará recompensa eterna” (Mateus 16.25). Para João estava bem claro sua missão, à qual se dedicou integralmente. Morreu por uma causa, pelo Reino Deus. Morreu jovem, mas não em vão. Deixou o seu testemunho, que ainda hoje é observado e seguido. Soube apontar àquele que, de fato, é a razão do nosso viver: Jesus! Confesso que olho para João e me sinto um covarde. Quantas e quantas vezes me calo por não querer pagar o preço da verdade. Quantas e quantas vezes quero crescer, esquecendo-me de antes é o nome Jesus que precisa progredir. Mas, convém que ele cresça, que o nome dele seja exaltado, que a vontade de Deus sempre prevaleça. Confesso que preciso melhorar e muito. Que Deus me ajude. Que Deus nos ajude. Amém!