Que Deus ilumine nosso entendimento, dando forças à prática do Evangelho. Amém! Diferente do sacerdote que conduzia as preces do povo a Deus, um profeta era autorizado para ser voz direta de Deus ao seu povo. Não era uma tarefa fácil, pois a mensagem normalmente era dura. Sabemos que Deus é amor. Ele incentiva e elogia. Mas, muitas vezes se tornam necessárias palavras fortes que apontam ao castigo, ou melhor, ao juízo decorrente da desobediência. Existe uma figura bem simples para entender o jeito de Deus. Por exemplo, uma mãe deseja o bem do seu filho. Ela diz: Vai esfriar. Agasalhe-se melhor! O menino pensa: O que ela sabe do tempo? O que ela sabe de mim? Eu vou do jeito que eu quero. Vem o frio e ele pega um resfriado. É castigo da mãe ou juízo próprio? De fato, é falta de juízo. Vamos e convenhamos, pai e mãe até podem errar. Mas, Deus jamais se engana. O que Ele diz é certo. Se você teima, vai se dar mal.
Jeremias era profeta. Era gente como a gente, com motivos de riso, mas também momentos de agonia. Neste domingo somos desafiados a calçar as sandálias do profeta. Ele se coloca diante de Deus queixando-se com as seguintes palavras: Senhor! Tu me enganaste. Eu me deixei enganar. Foste mais forte do que eu. Eu me deixei vencer. Entre o povo, virei motivo de piada. Todos zombam de mim. Quando falo, minha voz é como grito que só diz violência e destruição. Por causa da tua palavra, sou motivo de insulto e sou censurado o tempo todo. Todavia, meu Deus... Quando sinto vontade de deixar tudo isso de lado, de não citar mais o seu nome. Então, a tua palavra arde no meu coração como fogo. Estou exausto de tanto conter o fogo. Já não aguento mais. Ouço muitos comentando pelos cantos: Lá vem aquele que só fala de juízo. Vamos dar um jeito nele. Até os meus amigos estão esperando que eu tropece. Eles dizem: Quem sabe Jeremias se deixe corromper. Nós vamos vencê-lo. Mas, o Senhor está comigo. Aqueles que me perseguem tropeçarão. Eles sentirão vergonha pelo fracasso, pois não reconhecem tua palavra. Senhor! Tu vês com profundidade o intento de cada coração e cada mente. Diante de ti coloquei a minha causa. Permita-me ver a derrota dos meus adversários, pois a causa é tua e não minha. Cantem, sim cantem ao Senhor. Louvem a Deus. Ele livra o pobre das mãos daqueles que são maus (Jeremias 20.7-13).
Vamos entender a situação. Jeremias nasceu numa família sacerdotal. Desde menino, amava a Deus. Ele tinha um desejo profundo de servir ao Senhor. Então, na mocidade, recebeu o chamado para ser profeta. Em tempos de crise, ele deveria transmitir o juízo de Deus. Jeremias sabia que povo estava moralmente corrompido devido ao afastamento da lei. A fé não era levada a sério. Havia uma espiritualidade apenas de aparência. Os valores tradicionais foram abandonados. Sem estrutura espiritual, Judá e Israel foram derrotados pelos povos vizinhos. A capital Jerusalém foi completamente destruída. Uma parte da população, inclusive muitos dos seus amigos, foi deportada para lugares distantes. Por fim, até mesmo o próprio Jeremias partiu ao Egito, abandonando sua terra natal. Entretanto, ele cumpriu com zelo seu chamado, sendo profeta por 40 anos. No ministério, não viu muito resultado de sua pregação. Mas, não por isso, deixou de profetizar. O povo manteve sua dureza de coração, recebendo o devido juízo pela escolha. No trecho bíblico citado, Jeremias abre seu coração diante de Deus. Ele sente-se mal e se queixa. Todos têm tal direito. Deus escuta e ajuda. Mas, nem sempre a solução ocorre como ou no tempo que desejamos. É assim! Não somos nós que mandamos em Deus. Ele é quem determina. Quem não aprendeu tal lição, precisa olhar com mais atenção à vida de Jeremias.
Vivemos tempos semelhantes ao de Jeremias? Há muita religião e pouca fé? Há muita aparência e pouca raiz? A lei de Deus e as próprias leis humanas são manobradas ao bel prazer? As antigas tradições religiosas e familiares estão sendo gradativamente abandonadas? A corrupção corre solta? Todos querem levar vantagem? Será que tudo isso não está relacionado com o afastamento de Jesus? Reflito comigo: Se Jesus vivesse hoje em nossas ruas, como se comportaria? Ele iria sacar o fundo de emergência? Ele iria atiçar as pessoas umas contra as outras? Passaria “fake news” pelo celular? Aplicaria o isolamento vertical ou horizontal? Usaria máscara? Curaria tocando ou à distância por meio da palavra? São perguntas e mais perguntas. Quando um jovem se aproxima de mim e diz: Pastor! Não sei o que fazer. Eu respondo de imediato: Se Jesus estivesse em seu lugar, o que o Mestre faria? Na contramaré dos governos e demais denominações, a nossa Pastora Presidente Sílvia Genz determinou que os templos luteranos permanecem fechados até o final de maio. Depois, liberou, mas com o firme desafio de sermos “cuidadosos”. Alguns sínodos permanecem ainda sem celebração presencial. Outras paróquias, como a nossa, com bom senso e responsabilidade, reiniciaram os cultos. Amor a Deus e amor ao próximo são palavras chaves. Tal qual Jeremias, a IECLB foi criticada pela demora em reiniciar as atividades presenciais, inclusive pelos próprios amigos e membros. Outros, de fora, riram e debocharam. Tanto a Pª Sílvia, quanto a IECLB agiram a partir dos seus princípios de fé. Agimos como Jesus agiria. De repente, perdemos membros ou recursos, ou isso e aquilo. Todavia, somos coerentes com o Evangelho. Não brincamos, nem com a fé, nem com a saúde de ninguém.
Concluo: Se você escolheu sair de casa e participar desta celebração, que bom. Espero que volte ao teu dia a dia satisfeito pela Palavra e comunhão. Se, no cuidado consigo mesmo e com sua família, você preferiu ficar em casa, agiu de maneira coerente com tua fé e no cuidado com a vida. Mesmo àqueles que, seguindo as normas, não devem sair de casa, a Palavra de Deus continua ao alcance por rádio e internet. Vivemos tempos difíceis. Não somos os primeiros. Jeremias que o diga. Todavia, precisamos ter o seguinte cuidado: Acima de tudo, foco constante em Jesus e na sua palavra. Sabemos que, até podemos sofrer, mas a vitória final está garantida por Jesus. Como iniciei, também concluo o sermão: Que Deus ilumine nosso entendimento, dando forças à prática do Evangelho. Amém!