Paróquia Martinho Lutero

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Em amor ao Criador!

05/06/2021

Eis um homem grande e forte: 1.90 metro de altura. Seus cabelos castanhos já estão grisalhos. Ele tem um enorme bigode. Seus olhos profundos são azuis e bondosos. Uma pequena corça se esfrega em sua perna, pedindo carinho. Sua mão deixa a caneta sobre a mesa e delicadamente agrada o bichinho. Lá fora, os crocodilos dormem com suas mandíbulas abertas. Há também os hipopótamos, os pelicanos, a vegetação impenetrável que se reflete nas águas barrentas do rio Congo. Seu coração e sua cabeça se movem de acordo com uma lógica estranha, de outro mundo, que só ele vê, que brota de sua fé.

Ele nasceu em 1875, numa aldeia da Alsácia, filho de um pastor. Muito cedo ficou claro aos seus pais que ele era um menino diferente. Sua sensibilidade para a música chegava à dor. Ele mesmo conta que, à primeira vez que ouviu duas vozes cantando em dueto - ele era muito pequeno ainda - teve de se encostar-se à parede para não cair. Outra vez, ouvindo um conjunto de metais, quase desmaiou. Com cinco anos começou a tocar piano. Mas, logo se apaixonou pelo órgão de tubos da igreja na qual o seu pai era pastor. Aos nove anos já era o organista na igreja. Tocava para os serviços religiosos.

Sentimento idêntico lhe provocava os animais. Ele relata que, mesmo antes de ir para a escola, lhe era incompreensível o fato de que as preces de sua mãe à noite, junto à sua cama, apenas os seres humanos fossem mencionados. Assim, quando minha mãe terminava suas orações e me beijava, eu orava silenciosamente por todas as criaturas vivas: Pai Celeste! Protege e abençoa todas as coisas que vivem. Guarda-as do mal e faz com que elas repousem em paz. Amém!

Conta de um incidente acontecido quando ele tinha oito anos. Um amigo mais velho ensinou-o a fazer estilingues. Pura brincadeira. Mas, chegou um momento terrível. O amigo convidou-o para ir ao bosque matar alguns pássaros. Pequeno, sem jeito de dizer não, ele foi. Chegaram a uma árvore ainda sem folhas onde pássaros estavam cantando. Então, o amigo parou, pôs uma pedra no estilingue e se preparou para o tiro. Aterrorizado ele não tinha coragem de fazer nada. Mas, nesse momento os sinos da igreja começaram a tocar. Então, ele se encheu de coragem e espantou os pássaros.

Também não podia contemplar o sofrimento dos animais em cativeiro. Detesto exibições de animais amestrados. Por quanto sofrimento aquelas pobres criaturas têm de passar a fim de dar uns poucos momentos de prazer a homens vazios de qualquer pensamento ou sentimento por eles. O nome desse jovem era ALBERT SCHWEITZER. Doutorou-se em música, tornou-se o maior intérprete de Bach da Europa, dando concertos continuamente. Doutorou-se em Teologia e Filosofia. Era professor na universidade de Estrasburgo, sendo também pastor e pregador.

Schweitzer tinha tudo àquilo que uma pessoa normal pode desejar. Ele era reconhecido por todos. Mas, havia uma frase de Jesus que o seguia sempre: A quem muito se lhe deu, muito se lhe pedirá” (Lucas 12.48). Aos vinte anos, ele fez um trato com Deus. Até os trinta anos ele iria fazer tudo aquilo que lhe dava prazer: Daria concertos, falaria sobre literatura, sobre teologia, sobre filosofia. Com trinta anos, iniciaria um novo caminho. E, foi o que ele fez. Ao completar seu trigésimo aniversário entrou para a Escola de Medicina, doutorou-se, mudando-se para a África. Lá passou praticamente o resto de sua vida.

Havia algo estranho na psicologia de Schweitzer, algo que fugia aos padrões convencionais. Um dos maiores desejos de todos é o reconhecimento. Na Europa, Schweitzer era admirado como organista, filósofo, teólogo e escritor. Mesmo sendo jovem, seu nome já era destaque. Aí toma uma decisão que o levaria para longe de todos os olhos que o admiravam: A absoluta solidão de uma aldeia miserável no meio da selva. Ele opta pela invisibilidade, pela solidão, longe de todos os olhos e de todos os aplausos. Isso só tem uma explicação: Abnegação e vocação vindas da fé em Jesus Cristo. O que lhe importava não era a brilho pessoal, mas a consciência de reverência pela vida, o seu mais alto princípio religioso. Noutras palavras, viver o AMOR que experimentou do PAI, levar vida em meio à morte, assim como o Mestre o fez.

Esse princípio, Schweitzer viveu intensamente. Ele se relacionou com os pobres e doentes por meio da compaixão. Ele se relacionou com seus companheiros de hospital por meio de amizade. Com certeza, Schweitzer não vivia pelas regras desse mundo, onde o mais forte destrói o mais fraco. Talvez ele tenha compreendido isso e que essa tenha sido uma das razões porque ele saiu do mundo civilizado, se embrenhando nas selvas da África. No mundo civilizado, será possível ter reverência pelo próximo? Na lógica do mercado não há próximo, nem amigo. Vence o poderoso. O fraco é explorado. É aniquilado.

Chegou a hora em que os sinos das igrejas começam a tocar nos alertando para impedir que os pássaros sejam mortos e a vida, de maneira geral, destruída. Chegou a hora em que nós, assim chamados cristãos, sairmos porta afora de nossos templos, vivendo a fé, fazendo a diferença a partir do exemplo de nosso Senhor Jesus Cristo, buscando vida em abundância, não somente às pessoas, mas ao mundo como um todo. Gosto e faço questão de lembrar sempre de novo: “Deus amou ao mundo (a criação) de tal maneira que deu seu único filho, para que, todo aquele que nele crer não morra, mas tenha a vida eterna” (João 3.16). Amém!
 


Autor(a): P. Euclécio Schieck
Âmbito: IECLB / Sinodo: Norte Catarinense / Paróquia: Garuva-SC (Martinho Lutero)
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Testamento: Novo / Livro: Lucas / Capitulo: 12 / Versículo Inicial: 48
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Meditação
ID: 62888

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