Dona Clotilde não podia mais viver sozinha. Então, seu filho a hospedou numa casa de repouso. Bem idosa, sofrendo de artrite, ela passava boa parte do dia sentada na varanda, assistindo o tráfego movimentado da rua. Ela comentava com as atendentes: Minha melhor distração é ver o movimento constante das pessoas. Mais tarde, já acamada, a nora a levou para sua casa. Ela foi colocada num quarto nos fundos, onde não podia ver mais a rua. Questionada frente à nova situação, apenas disse: Eu gosto ainda mais desse lugar. Daqui eu posso ouvir as doces crianças do vizinho brincando no quintal. Que alegria! Por fim, devido ao desemprego, o filho mudou-se para um bairro humilde e afastado do centro da cidade. Ao sobrinho que a visitava, ela pediu delicadamente: Abra um pouco mais a cortina. Repare na bela visão do céu que eu tenho aqui no meu canto. Sei que lá está preparado o meu lugar. Em todas as circunstâncias narradas, Clotilde mantinha o bom-humor, a alegria e o prazer em viver. Qual o segredo de sua felicidade? Por que não murmurava? Por que não maldizia sua sorte? Por que não vivia culpando o mundo e as pessoas pelo que lhe acontecia? A resposta é muito simples: Com os olhos do coração enxergava além das aparências. Ele percebia o interior das pessoas. Percebia também o sentido de tudo no Altíssimo, para onde convergem todas as coisas. “Senhor! O teu reino é eterno. O teu domínio permanece de geração em geração. O Senhor é fiel em todas as suas promessas. Ele é bondoso em tudo o que faz” (Salmo 145.13).