Paróquia Martinho Lutero

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De acusador a réu...

04/06/2021


É preciso ter muito cuidado ao jogar uma pedra no telhado do vizinho sendo o seu próprio também de vidro. Acusar o semelhante é um tanto perigoso, pois a acusação pode voltar, da pior maneira, na sua própria direção. Tal é a situação que se apresenta no Evangelho de hoje. Para melhor entender o trecho de Marcos 3.22-30, reflitam comigo...

Jesus é ofendido pelos “escribas”. Eles são os “doutores da lei”. Era gente alfabetizada e estudada que tinha como função copiar, transmitir, ensinar e interpretar a lei judaica. Pensando na atualidade, seriam os advogados, juristas e juízes que defendem e, ao mesmo tempo, precisam interpretar a nossa Constituição. Com que intenção ou em qual direção levam a questão em análise, dependia da situação. Algumas pessoas, classes sociais ou até religiões podem ser beneficiadas em detrimento de outras. Zelar pela lei exige habilidade, mas carrega também uma grande responsabilidade. Jamais devemos nos esquecer aqui a palavra do Mestre que atravessa os séculos: “A quem muito é dado, muito será cobrado” (Lucas 12.48). Citei escribas, advogados e juristas. Mas, a mesma regra se aplica para todos que tem certos conhecimentos e recursos financeiros, dons e talentos... Também, é possível ampliar a questão às autoridades, seja no lar ou no trabalho, seja na igreja ou na sociedade.

Citando a questão da blasfêmia, os escribas passam de acusadores a réus. Mas, do que se trata o tema? A blasfêmia é uma ofensa a Deus ou às coisas sagradas. Não é exclusiva à fé cristã. Também, os judeus e muçulmanos adotam o termo. Provavelmente vale também às demais “fés”. A blasfêmia envolve abusar do nome de Deus ou brincar com aquilo que é sagrado. Muitas pessoas debocham: Deus não existe, desprezando o Criador. Artistas, entre outros, já disseram: Sou (ou somos) mais famoso do que Deus. É blasfêmia. Todo desrespeito à fé alheia, como chutar uma santa é blasfêmia. Querer converter o outro na marra ou ficar importunando é blasfêmia. Eu preciso confessar que, se eu parar e pensar, também já cometi abusos como falta de respeito ao outro e sua fé. Em nosso trecho de reflexão, o ponto de partida se dá com os escribas acusando Jesus de blasfêmia. Ou seja, em seu jeito de ser e pregação, na opinião deles, Jesus está blasfemando contra Deus. Será mesmo?

Assim inicia o relato do evangelista Marcos: “Os escribas que haviam descido de Jerusalém diziam: Ele está com Belzebu! Pelo príncipe dos demônios é que ele expulsa demônios (verso 22). Em Jerusalém muito se comentava a respeito de um jovem pregador chamado Jesus. Ele ensinava e curava. Ele falava com muita autoridade. Então, os estudiosos saem da capital e vão ao sertão. Cheios de arrogância, eles condenam o Mestre com um termo dos filisteus, dizendo que está possesso por “Belzebu”. Noutras palavras, diante do povo, os escribas dizem: Jesus! Você se faz de bonzinho, mas trabalha para o capeta. Querendo aparecer diante do povo, eles são ofensivos contra o Mestre, não medindo suas palavras.

Confesso que, se fosse eu, ficaria ofendido e os mandaria ao inferno. Afinal, o que vale é o olho por olho, dente por dente. É a lei do sangue quente. Mas, Jesus é Mestre. Ele aproveita o momento para ensinar com amor. Basicamente, a regra dele é apresentada logo adiante pelo apóstolo Paulo: “Não se deixe vencer pelo mal. Mas, vence o mal com o bem” (Romanos 12.21). Ele está no controle da situação. Como de costume, não revida, sequer traz uma resposta direta aos escribas. Apenas faz uma pergunta e, em seguida apresenta algumas breves parábolas. Ouçam o evangelista: “Então, Jesus os chamou e lhes falou por parábolas: Como pode Satanás expulsar Satanás? Se um reino estiver dividido contra si mesmo, não poderá subsistir. Se uma casa estiver dividida contra si mesma, também não poderá subsistir. Se Satanás se opuser a si mesmo e estiver dividido, não poderá subsistir. Aí chegou o seu fim. De fato, ninguém pode entrar na casa do homem forte e levar os seus bens, sem que antes o amarre. Só então poderá roubar a casa dele” (versos 23 a 27).

Jesus não enrola. Nas parábolas, ele cita um exemplo nacional, aliás bem atual. Quem ganha com uma guerra civil? Dividir o povo é causar um estrago ao progresso. Quem ganha quando uma família se divide por causa da herança ou deixa de trabalhar unida? Somente o adversário. Aqui se faz necessário abrir um comentário a parte. A mãe e os irmãos de Jesus estavam batendo à porta, disposto a levá-lo de volta para Nazaré. O Mestre tranca o pé. Dali em diante a família passou a apoiá-lo no seu ministério. Quem trabalha para o mal serve ao capeta. Quem trabalha para o bem serve a Deus. Por fim, Jesus esclarece sua missão libertadora. Ele é o único capaz de enfrentar o “valente” libertando os seus escravos. Àqueles que sucumbem diante do materialismo e da ganância, do egoísmo e da busca pelo próprio prazer, dos vícios, das doenças da alma, das falsas ideias e ilusões, o Salvador esclarece e conduz à vida iluminada. O maligno deseja somente a destruição das pessoas e do mundo. Jesus traz vida, abundante e eterna (João 10.10).

Em seguida, Jesus fecha o assunto com um desafio aos céticos escribas: “Eu lhes asseguro que todos os pecados e blasfêmias dos homens lhes serão perdoados. Mas, quem blasfemar contra o Espírito Santo nunca terá perdão. É culpado de pecado eterno”. Jesus falou isso porque eles estavam acusando de ter um espírito imundo (versos 28 a 30). De imediato, pensei: Afinal, o que pode ser imperdoável ao Deus Amoroso, que entregou seu próprio filho? Lembrei-me da promessa do apóstolo João: “Se confessarmos o pecado, Deus é fiel para nos perdoar” (1ª João 1.9). A questão está no “se”. Uma falha causal pode ser assumida e retificada pelo sangue do Cordeiro. Mas, uma atitude constante de rebeldia, onde há entendimento da obra salvífica e, mesmo assim, a pessoa fica reticente. O que Deus pode fazer com aquele que diz não querer ser salvo?

Bom, para finalizar é necessário perguntar: O que aprendi com o embate dos escribas? Por vezes, eu tenho a mania de julgar e jogar o outro no inferno ou nas mãos do maligno. Todavia, antes devo me perguntar se há amor ou ódio na minha atitude. O amor constrói. O ódio destrói. Jesus ama e liberta do maligno. Especificamente aqui quebra com o paradigma da religião que vive da lei pela lei. Jesus é coerente. Ele ama e busca o bem. Mas, os escribas interpretam-no como o próprio mal. Por fim, o Mestre deixa o alerta: Ao condenar o semelhante, cuidado para não se condenar. Ao dizer que o outro blasfema, você pode estar falando mal de Deus. Eu reflito no texto, peço perdão e procuro me aproximar sempre mais de Jesus. Amém!


 


Autor(a): P. Euclécio Schieck
Âmbito: IECLB / Sinodo: Norte Catarinense / Paróquia: Garuva-SC (Martinho Lutero)
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Testamento: Novo / Livro: Marcos / Capitulo: 3 / Versículo Inicial: 22 / Versículo Final: 30
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Meditação
ID: 62872

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