Dentro do Calendário Litúrgico da Igreja Cristã hoje é o último domingo do ano, onde lembramos que Jesus Cristo é Rei e Senhor sobre tudo e todos, também sobre a “morte”. Na próxima semana já entramos no Advento. Agora, porque fechar o ano com a afirmação de que Cristo é Rei? Diz Paulo à igreja de Filipo: “Deus o exaltou, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho” (Filipenses 2.9-10). Ou seja, no fim de tudo, todos reconhecerão o senhorio de Jesus Cristo. Algo que já pode começar aqui nessa vida. De fato, quanto antes reconheço melhor, pois assim passo a viver na certeza da salvação. Segundo escreve Paulo à igreja em Roma: “Se com tua boca confessares a Jesus como Senhor, serás salvo” (Romanos 10.9). Agora não é fácil colocar a vida sob o senhorio de Jesus. Uma razão é pelo fato de que Jesus é um Rei diferente dos padrões humanos. É divino. Vejam como desafio à fé o texto bíblico de Lucas 23.35-43:
O povo ficou ali olhando, e os líderes judeus zombavam de Jesus, dizendo: Ele salvou os outros. Que salve a si mesmo, se é, de fato, o Messias que Deus escolheu! Os soldados também zombavam de Jesus. Chegavam perto dele e lhe ofereciam vinho barato e diziam: Se você é o rei dos judeus, salve a você mesmo! Na cruz, acima da sua cabeça, estavam escritas as seguintes palavras: Este é o Rei dos Judeus. Um dos criminosos que estavam crucificados ali insultava Jesus, dizendo: Você não é o Messias? Então salve a você mesmo e a nós também! Porém o outro o repreendeu, dizendo: Você não teme a Deus? Você está debaixo da mesma condenação que ele recebeu. A nossa condenação é justa, e por isso estamos recebendo o castigo que nós merecemos por causa das coisas que fizemos; mas ele não fez nada de mau. Então disse: Jesus, lembre de mim quando o senhor vier como Rei! Jesus respondeu: Eu afirmo a você que isto é verdade: Hoje você estará comigo no paraíso.
Existe uma mentira que no fundo é uma verdade. Seria um Fake News do avesso? Na cruz de Jesus foi cravada uma placa com os dizeres “INRI: Jesus de Nazaré é o Rei dos Judeus”. Jesus foi condenado por crime político. Os judeus fizeram com que os romanos acreditassem que Jesus era um revolucionário pronto para atacar o poder romano, colocando-se como novo líder: “Rei dos Judeus”. Por isso, Jesus foi crucificado e não apedrejado, como era costume dos judeus quando alguém blasfemava. Longe de ser isso uma verdade. Explico. Primeiro, Jesus queria ser e é Rei, mas de forma diferente daquela que entendiam as autoridades à sua volta. Ele não queria domínio político, mas queria e quer ser coroado no coração das pessoas: Um rei espiritual. Ou seja, ele quer que as pessoas lhe sejam submissas, vivendo na perspectiva, já agora, do Reino de Deus! Segundo, Jesus não luta para ser apenas “Rei dos Judeus”, mas de toda humanidade. “Todo” joelho há de se dobrar diante dele. Ou seja, além de ser mal interpretado, foi interpretado de forma limitada.
Agora, como reagiram as pessoas diante da cruz? Diante do Rei Crucificado? Lembrem-se sempre que sob a cabeça de Cristo havia uma coroa “de espinhos” que ninguém queria usar. Os versos 35-36 dizem que o povo observava, enquanto que as autoridades e os soldados zombavam. Ou seja, os poderes instituídos julgavam ter alcançado a vitória ao levarem Jesus à cruz. Decerto assim pensaram os romanos e os fariseus: Agora chegou ao fim a jornada desse “salvadorzinho” de meia tigela. Mas, o povo “observava”. A história não terminou ali na cruz. Os fatos decorrentes mostram tal verdade. Jesus ressuscitou. Ele venceu o pior inimigo, a morte.
Agora, do genérico, somos levados ao específico. Ter uma religião é quase um costume, mas viver a fé é bem diferente. Ver de longe a crucificação é um momento. Enfrentar a cruz e carregá-la é bem outro. Saber da morte é diferente de ter que enfrentá-la. Diante da morte, da crise, da dor, somos desafiados a descobrir quem é que manda em nossa vida, a quem nos entregamos. Se queremos controlar por nós mesmo ou corajosamente assumimos: Meu Rei! Estou aqui, faça-se a tua vontade no meu viver.
Havia dois criminosos pendurados junto a Jesus na cruz. Todos sabiam que os dois eram de fato “malfeitores”. Todavia, Jesus era um “benfeitor”. Ele ajudou o povo. Ele curou doenças. Ele trouxe palavras retas de sabedoria. Ele apontava o caminho para Deus. Mas, estava ali na cruz. Qual foi o comportamento dos dois criminosos diante do Justo Jesus? Um criminoso foi no embalo das autoridades dizendo: Você não é o escolhido de Deus? Salta daí e me tira da cruz também. Além de provocar Jesus, queria apenas benefício próprio. Na hora do aperto, estava preocupado apenas em salvar a sua pele. Ele não crê em Jesus. Ele não reconhece o seu pecado. Ele está à beira da morte, mas não assume seu erro e sua ignorância. Jesus permanece calado.
Porém, o outro criminoso condena a atitude de seu comparsa. Ele reconhece que a morte é certa, pois ninguém escapa da cruz. Ele reconhece igualmente que esse era o preço da desobediência às leis humanas e a Deus. Noutras palavras, diz: Sou criminoso e pago o preço por isso. Mas, eis que em seguida vem uma profissão de fé: Jesus! Você é justo. Não tem erro! Igualmente vem um clamor: Em teu amor, lembra-te de mim! O primeiro negou e ridicularizou. O segundo reconheceu e aceitou a Jesus. Esse último criminoso recebeu a promessa de salvação: Ainda hoje você estará comigo no paraíso!
O povo apenas observava. Dois mil anos depois, nós observamos os fatos. De fato, somos colocados diante das duas opções do passado: Rejeitar ou crer no Rei Crucificado? O caminho de rebeldia leva à morte, já aqui e também eterna. O caminho da fé em Jesus leva a enfrentar a morte aqui, trazendo sinais de vida. Leva à certeza da salvação eterna, proposta por Jesus. Um antigo hino faz a derradeira pergunta: Meu amigo, hoje tens a escolha, vida ou morte, qual vais aceitar? Escolha a vida. Amém!