A clássica fábula de Esopo diz que, após um exaustivo verão, onde as formigas se dedicavam com precisão pelas trilhas nas matas, ajuntando mantimentos, a bela cigarra somente cantava no alto das árvores. Todavia, quando o vento frio chegou, de imediato as formigas se esconderam no seu abrigo repleto de comida. Todavia, a cigarra sentiu um duplo aperto, o frio e a fome. Então, tomou coragem e bateu à porta do formigueiro, clamando: Socorro! Ajudem-me. Certa formiga rabugenta a atendeu e não poupou sua forte opinião, questionando: Enquanto trabalhamos, o que você fazia? Cantava! Disse cabisbaixa a cigarra. Então, agora dance! Respondeu a rabugenta, sem remorsos. Todavia, logo atrás dela, havia outra velha formiga que, após ouvir o diálogo, pediu licença e tomou a palavra: Com todo respeito, eu penso diferente! Enquanto ajuntávamos as folhas na mata, percebi que muitas companheiras estavam a ponto de desistir pelo cansaço. Mas, a cantoria da cigarra nos animou a continuar na exaustiva jornada. Então, agora entre no formigueiro. Estamos com todo o tempo do mundo durante o inverno. Cante! Que vamos dançar.
De 1980, “Intuição” com Oswaldo Montenegro.