Beto era carteiro. De manhã, sempre reclamava à esposa: Que droga! Hoje é dia de passar na vila tal. A cachorrada só me persegue. As pessoas vivem dando queixas de mim. Assim, dia após dia, havia um resmungo sobre a profissão ou os lugares assistidos. Certa manhã, por descuido, Beto caiu. Contra vontade, mas por necessidade, passou uma semana em observação no hospital. Mesmo com a correria da pandemia, a equipe médica tratou-o com muito carinho e paciência. Até que um dia, ele não aguentou mais e perguntou à enfermeira que sempre chegava sorrindo: O que é que há? Você não teme a COVID? Sem titubear, ela respondeu: Na minha juventude, meu pai me questionou: Menina! Você vai servir a Deus em qual profissão? Antes de responder, pensei comigo. Eu gosto de cuidar de animais feridos. Eu tenho jeito para lidar com pessoas. Ajudei a minha mãe a manter os avós nos seus últimos dias. Então, respondi: Pai! Eu quero ser enfermeira. Ele me incentivou e até me ajudou a pagar os estudos. Hoje eu agradeço a Deus por minha vocação e pelo espaço em servir aqui no hospital. De olhar firme, ela devolveu a pergunta ao Beto: E você como serve a Deus e aos teus semelhantes? Ele disse: Sou carteiro, mas não gosto! Porque? Continuou a enfermeira. As pessoas e os cachorros me incomodam. Ela continuou: Tanto bicho, quanto gente, basta agradar para conquistar. Dá uns biscoitos aos cães e um sorriso às pessoas. Garanto que tudo mudará. Beto ficou pensativo. Por fim, entendeu que aquele período no hospital ocorreu no momento certo. Ele pode refletir e tratar, tanto o corpo, quanto o espírito. Por fim, até deu graças a Deus pelo acidente. Daquela internação em diante seus dias foram mais felizes.