IECLB e Federação Luterana Mundial - FLM



ID: 2702

Estudo Bíblico 22 - Mateus 10.32 - Somente Cristo

Mulheres em Tempos de Coronavírus

22/10/2020

Estudo Bíblico 22

Josiane Velten, Mestranda, e Samira Rossmann Ramlow, estudante de teologia, Programa de Gênero e Religião, Faculdades EST/IECLB

Texto: Mateus 10.32

Confessamos nossa fé em Cristo

Argula von Grumbach nasceu em 1492, na cidade de Beratzhausen, na Alemanha. Era filha de Katharina von Toerring zu Seefeld e Bernhard von Stauff, uma família nobre empobrecida. Sua família valorizava muito a educação das crianças e cuidaram para que também suas filhas mulheres tivessem uma boa formação – o que era excepcional para aquele contexto. Aos 10 anos Argula já sabia ler. Prova disso é que recebeu uma Bíblia de presente do seu pai acompanhada de um pedido: “estudá-la com dedicação”.

Quando Argula completou 16 anos, foi morar na corte da Baviera, em Munique. Lá, tornou-se assessora da duquesa Kunigunde, casada com o duque Alberto IV. Por conviver com as filhas do casal, “ela recebeu uma formação a qual, na época, somente filhos e filhas de famílias nobres com boas condições financeiras tinham acesso”.

Após seu casamento, Árgula deixou a corte juntamente com o marido. A fé em Cristo fez dela uma mulher livre para participar ativamente do movimento da Reforma. Assim como Lutero, ela foi de um lugar para outro, dando testemunho de que a salvação é por graça e fé. Participou da assembleia da Dieta de Augsburgo, que resultou na Confissão de Augsburgo (1530). Logo após a Assembleia foi até Coburgo, dialogar com Lutero sobre as decisões da assembleia e o rumo do movimento da Reforma.

No final de sua vida foi morar em Zeilitzheim,, onde faleceu em 1554. Argula, entre tantas outras mulheres, foi um exemplo de bravura e coragem. Lutou contra a injustiça e pela igualdade de gênero, destacando-se por sua personalidade marcante. A Igreja territorial da Baviera criou, em 2009, a Fundação Argula von Grumbach visando premiar trabalhos que promovam a igualdade de gênero na igreja e na sociedade. Em Schweinfurt existe um monumento em sua homenagem com a inscrição “Streitbare Reformatorin” (Reformadora Militante).

O texto acima, elaborado pela teóloga Josiane Velten, nos mostra que Argula von Grumbach foi uma teóloga ativa do movimento da Reforma. Ela questionou teologicamente e publicamente autoridades religiosas e acadêmicas acerca das obrigações repassadas às mulheres pela igreja, baseando-se nos ensinamentos de Jesus. Através da leitura da Bíblia, argumentou que “tanto homens como mulheres são chamadas a confessar a Cristo”.

Argula citou em uma de suas cartas o texto de Mateus 10.32: “Todo aquele que me confessar diante dos homens, também eu o confessarei diante de meu Pai, que está nos céus”. Não havia dúvida para Argula, nem deve haver para nós, que as mulheres também estão incluídas na fala de Jesus. Ela firmava sua convicção unicamente na rocha verdadeira, o próprio Cristo. E diante da mesma passagem, também podemos afirmar que nós somos filhas muito amadas de Deus, justificadas por Cristo no evento da cruz e constantemente inspiradas e animadas pela Ruah Divina, o sopro da vida. Confessamos isto porque cremos na importância da centralidade de Cristo na Bíblia e agradecemos por quem propaga o amor e a justiça ensinados por Cristo.

Portanto, hoje, mais de 500 anos depois do testemunho dessa importante mulher que nos encoraja a levantar nossa voz, pergunto: Como nós, irmãs de lugares, idades, etnias e vivências diferentes, podemos confessar nossa fé em Jesus Cristo?

Jesus veio para promover justiça, amor, solidariedade, misericórdia e salvação. Dessa forma, nós podemos confessar nossa fé em Jesus Cristo sendo suas seguidoras neste caminho. Nós podemos ser solidárias com mulheres que passam por dificuldades, ajudá-las a buscar seus espaços e seus direitos. Podemos auxiliar nas discussões sobre justiça de gênero na nossa comunidade quando a prática não estiver de acordo com o projeto de Jesus. Podemos ser bênção na vida umas das outras quando tudo lá fora (não raro, dentro de casa) for difícil e assustador. Nós podemos ser como um lembrete de Cristo para as nossas companheiras, sinalizando amor e misericórdia através do nosso testemunho.

Como Argula, nós podemos nos fortalecer espiritualmente por meio da Escritura que é libertação quando aponta para a centralidade de Cristo. E, por meio dessa chave de leitura, devemos lembrar que temos autoridade para combater qualquer prática, discurso e comportamento justificados pela Bíblia, mas que  não apontam para Cristo.

Inspirada pela atuação de Argula von Grumbach no movimento da Reforma, escrevi essa confissão de fé, que convido para confessarmos juntas:

Nós cremos em Jesus que sofre com as nossas dores
Cremos em Jesus que nos cura mediante nossa fé
Cremos em Jesus que acredita na nossa palavra
Cremos em Jesus que não nos condena
Cremos em Jesus que nos perdoa e nos dá nova chance
Cremos em Jesus que dá de beber da fonte da água da vida
Cremos em Jesus que ouve o nosso coração e o nosso clamor
Cremos em Jesus que nos consola e nos lembra da vida eterna
Cremos em Jesus que nos inclui e nos valoriza
Cremos em Jesus que aceita nosso perfume
Cremos em Jesus que nos dá de comer e beber
Cremos em Jesus que cuida de nós e das nossas irmãs
Cremos que Jesus Cristo é justo, misericordioso e bom
Cremos que Jesus Cristo nos quer vivas e perseverantes na luta pela justiça para que todas as nossas irmãs tenham vida em abundância.
Amém.

Para refletir:

- O que eu posso fazer para confessar minha fé em Jesus Cristo?

- Como a nossa comunidade pode sinalizar amor e misericórdia?

- Neste tempo de pandemia, onde/como/em quem vemos Cristo?


Autor(a): Josiane Velten e Samira Rossmann Ramlow
Âmbito: IECLB
Área: Missão / Nível: Missão - Coronavírus
Área: Ecumene
Área: Missão / Nível: Missão - Mulheres
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Bíblia
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Luteranos em Contexto / Organismo: Federação Luterana Mundial - FLM
Testamento: Novo / Livro: Mateus / Capitulo: 10 / Versículo Inicial: 32
Natureza do Texto: Educação
Perfil do Texto: Estudo Bíblico
ID: 59534
A Palavra bem pode existir sem a Igreja, mas a Igreja não existe sem a Palavra.
Martim Lutero
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