Celebração


ID: 2651

Quem manda mais? | João 12.12-16

Domingo de Ramos

28/03/2021

 

Amados irmãos e amadas irmãs,

quem manda mais? Quem recebe mais confiança? A quem damos mais crédito? E como tratamos quem pensa diferente de nós mesmos? Como vemos aqueles que podem ter uma opinião e um lado diferente do nosso? Por quais rótulos somos chamados? E com quais palavras nós rotulamos aos outros?

Já faz um ano que vivemos no Brasil uma guerra de versões. Não é preciso dar nome aos políticos para entendermos do que estou falando. E não adianta pensar que é só do outro lado que talvez tanto odiemos. É preciso olhar para si mesmo. O brasileiro tem aprendido a criar políticos incondicionais que já há um ano disputam pelo poder e para ver quem manda mais na mente dos brasileiros na pandemia. E não há inocentes nesta questão: homens com tanto poder de todos os lados políticos usando da maneira que podem a tragédia que estamos vivendo para se lançarem no próximo ano. Pena de nós que vivemos em um país de interesseiros e aproveitadores. E não pense que é só o lado A ou o lado B. A sede por poder está por toda parte. Até mesmo nas igrejas há essas disputas de poder, para ver quem influencia mais e quem se torna mais persuasivo no seu discurso.

Mas, o que Jesus faz? Ele nos dá um banho de água fria! O Domingo de Ramos é um banho de água fria em quem quer poder e mais poder, mas não sabe exercer a autoridade e a verdadeira liderança servidora. O Domingo de Ramos é um banho de água fria aos orgulhosos, soberbos e arrogantes. O Domingo de Ramos é um choque a quem tem fome de poder!

Antes da II Guerra Mundial, o ditador alemão Adolf Hitler fazia grandes exibições com tanques de guerra e aviões para o povo alemão. Hitler queria demonstrar toda a sua força, todo o poderio alemão. Ele queria amedrontar os países vizinhos. Com um enorme trauma por a Alemanha ter perdido a I Guerra Mundial, aquele homem alimentava o Deutsche folk – povo alemão – com a fome pelo poder. Com seu carisma ele contagiou milhões a rotularem os judeus como inimigos da pátria ao ponto de os desumanizar por completo.

Estou citando esse exemplo porque é um dos mais conhecidos. Porém, podemos olhar para qualquer ponto da história e verificar que onde houve uma autoridade imposta pelo poder, ali não houve paz, mas muito derramamento de sangue. Aqueles que querem o poder pelo poder acabam tendo de eliminar os fracos do seu caminho. O ditador alemão queria uma pátria perfeita, de pessoas perfeitas e saudáveis. Os fracos deveriam ser deixados para morrer, pois o importante era a prosperidade da Alemanha. Na Alemanha próspera dos planos de Hitler, não havia espaço para os fracos.

Era por isso que ele tanto odiava o judaísmo e o cristianismo, pois a Bíblia fala de Gênesis até Apocalipse que Deus ama os fracos e inclusive se fez fraco em Cristo Jesus. Enquanto os homens lutam pelo poder e para subirem cada vez mais, Deus faz ao contrário: ele se humilha e desce para estar perto do seu povo. É óbvio que qualquer ditador não irá querer que seu povo tenha uma fé assim. Já no início da era cristã os imperadores perseguiam os cristãos exatamente por isso: por considerarem o Jesus que morre na cruz mais Senhor do que eles que estavam sentados em um trono em um palácio com um grande e poderoso exército.

Porém, o que nós vemos no Domingo de Ramos? Aliás, talvez seja melhor primeiro pensarmos no que nós não vemos: não enxergamos Jesus entrando em Jerusalém com tanques de guerra; não vemos Jesus invadindo Jerusalém com um grande exército; não temos Jesus tomando o poder à força. Não é nada disso que nós vemos. Mas, então, o que vemos? O próprio Deus entrando na cidade mais importante dos judeus montado em um jumentinho, cria de jumenta. É um fato chocante, mas que não sairia nas revistas ou nos jornais. Mesmo que ele era aclamado pelo povo que gritava Hosana, seria ridículo para qualquer poderoso da época dar atenção àquela cena tão esquisita.

Deus entra em Jerusalém montado em um jumentinho, cria de jumenta. O mesmo Filho por meio de quem todas as coisas foram criadas – esse universo praticamente infinito – agora adentra na cidade de Jerusalém montado em um jumentinho. Do ponto de vista humano, o que diríamos dessa cena? Talvez a consideraríamos pitoresca, esquisita, impossível... Mas é o que aconteceu. Enquanto Napoleão montava no seu grande cavalo Branco para exibir seu poder, Jesus monta um jumentinho para mostrar sua humildade. O verdadeiro cristão não procurará exibir seu poder, sua influência ou sua autoridade, mas procurará buscar o caminho que promove a vida, a paz e a humildade.

Enquanto as pessoas já agora disputam por poder e para ver quem será mais forte em 2022, Jesus nos dá um grande exemplo de humildade, serviço, amor. É Rei, mas é Rei humilde! Este ali é o Rei de Israel. E assim se cumpriu a palavra que estava profetizada em Zacarias 9.9 que afirmava que poderia haver alegria para a filha de Sião, pois o seu Rei viria montado em um jumentinho, cria de jumenta.

O mais interessante é o versículo 16, pois os discípulos aparentemente não entenderam é nada! Ficaram boiando! Viajaram na maionese! João diz que “Seus discípulos a princípio não compreenderam isso.” (v. 16). Mas é claro que não compreenderam. Tudo o que eles não queriam era ver o seu Messias entrar em Jerusalém montado em um jumentinho. É bem provável que os próprios discípulos tenham sentido vergonha do seu mestre. Eles não entenderam nada. O que eles queriam? Quais eram as suas expectativas? Eles esperavam que Jesus iria, de fato, se tornar o Rei de um grande império terreno. Acreditavam que Jesus seria capaz de derrubar o Imperador Romano e assumir o comando a partir de Jerusalém. E que glória os discípulos teriam se isso acontecesse, hein? Também eles estavam embriagados pela fome de poder. Estavam tão embriagados que naquele momento não conseguiram entender nada! Ainda estavam cegos para a verdadeira missão de Jesus. Só depois da crucificação e ressurreição que foram entender tudo isso.

Mas não eram apenas os discípulos que queriam poder. A própria multidão estava embriagada. Viam Jesus como um político ou como um revolucionário, mas não como Salvador, como alguém humilde, como alguém que se faria fraco na cruz. A multidão também procura em Jesus algo que nunca encontrariam nele. Embora ele seja o Todo-Poderoso, abriu mão do seu poder para servir. Naquela mesma semana ele irá lavar os pés dos discípulos, servir a última ceia, ser preso, torturado e morrer na cruz. Naquela mesma semana a multidão irá pedir que Barrabás, o ladrão, seja solto e que Jesus seja crucificado. Quando Jesus não satisfaz mais os seus desejos pessoais, então eles nem se importam se ele viverá ou se morrerá na cruz.

Este é o nosso Senhor: o Deus-diácono! O Deus que serve. O Deus que se faz fraco para se tornar parecido conosco. No Domingo de Ramos, Jesus nos convida a abandonarmos qualquer falso messias (seja ele ou ela quem for) e a adorarmos somente a ele, afinal de contas, apenas Jesus é o Ungido do Senhor, ou seja, o Cristo, pois a palavra Cristo significa Ungido. Qualquer outro da qual se diz que é Ungido do Senhor está assumindo o lugar de Cristo e é, portanto, o anticristo!

Irmãos e irmãs, é muito triste vermos tantos cristãos inebriados pelo poder. Como há cristãos perdidos na sua visão de Reino de Deus. Enxergam tudo, menos o Deus que entrou em Jerusalém montado em um jumentinho, cria de jumenta! Enxergam tudo, menos o Deus que se faz fraco! Enxergam tudo, menos a sua própria ignorância e tragédia por querer o poder acima de tudo e, muitas vezes, falsamente em nome de Deus. Mas, qual Deus? Certamente não o que entrou em Jerusalém montado em um jumentinho.

Jesus nos ensina o caminho inverso. Enquanto o ser humano quer subir, Deus desceu; Enquanto as pessoas disputam pelo poder, Deus doa gratuitamente o seu amor; enquanto pessoas disputam a mente das pessoas pela fome de poder e ambição, Jesus serve sua graça ao servir e se humilhar. Entendeu? A partir do Deus cristão, não olhamos para cima querendo subir mais e mais, mas olhamos para baixo querendo servir mais e mais. Ah se todos os cristãos entendessem isso. Ah se todos deixassem seus egos de lado e compreendessem que o caminho é o inverso: não é o caminho do orgulho, mas do serviço; não o caminho do egoísmo, mas da compaixão; não o caminho da indiferença, mas do amor.

Amados e amadas, sim, os seres humanos já agora disputam pelo poder. Porém, quem é que conduz a sua vida? São os aparentemente poderosos deste mundo ou aquele que montou num jumentinho? O convite de Deus a nós é um convite à renúncia: negarmos a nós mesmos, tomarmos a nossa cruz e seguirmos a Jesus. Esse é o convite e essa é a oportunidade! Os poderosos deste mundo podem até ter seus anos de glória, mas Jesus já é Rei de eternidade a eternidade. Repito: Os poderosos deste mundo podem até ter seus anos de glória, mas Jesus já é Rei de eternidade a eternidade.

Jesus quer servir também a ti. Ele se doou na cruz por você. Fez da cruz seu trono por amor de ti. Deus não é esse sujeito no céu, distante, longe, jogando raios, barbudo, etc. Quem acreditava em um deus assim eram os gregos, não os cristãos! O Deus que nós cremos é aquele que se humilhou a si mesmo, assumindo a forma de servo, tornando-se semelhante a nós. Rebaixou-se obediente até à morte e morte de Cruz por nós. E está aqui embaixo conosco através do Espírito Santo. Ao mesmo tempo, está presente não onde há aparência de poder, mas fraqueza, pois ele mesmo disse: “Quando fizerdes a um destes meus pequeninos, a mim o fizestes”.

Domingo de Ramos é o convite para procurar Deus no lugar certo. Não no poder, no brilho, na majestade, na glória, no egoísmo, no orgulho, não! Mas na Bíblia, na oração, no amor, na humildade, nos pequenos e nos sofredores. É ali que somos encontrados por Deus. Se ainda não fomos achados por ele é porque não estamos deixando que ele nos encontre, pois estamos tão perdidos nas ilusões deste mundo que esquecemos de deixar Deus ser Deus.

Amado irmão, amada irmã, hoje é Domingo de Ramos. Vamos até a presença do Senhor Jesus. Vamos deixar que ele seja aquilo que ele é e não o que queríamos que ele fosse conforme os nossos desejos humanos. Deixa-o ser esse Deus que entrou montado em um jumentinho. Celebremos sua humildade, seu amor, seu serviço, sua fraqueza, pois é a sua fraqueza que nos torna fortes. Deus se fez como um de nós, gente como a gente, de carne como a nossa carne, verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem ao mesmo tempo, sem divisão, mas tudo isso na mesma e única pessoa e personalidade.

O verdadeiro caminho é o contrário. Deixemos os poderosos brigar por mais poder. O dia da justiça chegará para eles e vão ser obrigados a se humilharem. É por isso que Jesus disse: “Bem-aventurados os que tem fome e sede de justiça, pois serão saciados”. Deixemos a justiça nas mãos de Deus. Nós, como verdadeiros cristãos, optamos pela humildade, pelo serviço e pelo amor.

Quantas oportunidades tempos para isso: usando a máscara na pandemia, doando alimentos, doando dinheiro, acolhendo quem precisa, orando pelos enfermos, orando e agradecendo pelos profissionais de saúde, etc. Não nos faltam oportunidades de sermos humildes e servirmos como Jesus nos serviu primeiro. Negue o poder, negue a si mesmo! Tome sua cruz e siga a Jesus. Esteja do lado dos fracos, pois Deus se fez fraco para estar do lado dos fracos. Vamos lá! Empatia! É isso que precisamos e é isso que Deus nos ensina.

Lembre-se sempre: o caminho não é para cima, mas para baixo, assim como Deus fez e realizou em Jesus. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento guardará o seu coração e a sua mente em Cristo Jesus, amém.


DOMINGO DE RAMOS | VIOLETA | CICLO DA PÁSCOA | ANO B

28/03/2021


P. William Felipe Zacarias


Autor(a): P. William Felipe Zacarias
Âmbito: IECLB / Sinodo: Rio dos Sinos / Paróquia: Sapiranga - Ferrabraz
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Área: Missão / Nível: Missão - Coronavírus
Área: Celebração / Nível: Celebração - Ano Eclesiástico / Subnível: Celebração - Ano Eclesiástico - Ciclo da Páscoa
Testamento: Novo / Livro: João / Capitulo: 12 / Versículo Inicial: 12 / Versículo Final: 16
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 61679
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