Capela Luterana



ID: 2547

A benção de Deus e a solidariedade.

29/07/2022

Lucas 12.13-21
Prezada Comunidade:

Um homem pede que Jesus seja o mediador entre ele e seu irmão. Ele pede que Jesus mande seu irmão dividir com ele a herança que o pai lhes deixou. Mas Jesus não aceita esse encargo. Ao contrário, Jesus lembra da autoridade da Lei. Conforme Deuteronômio 21.17, num caso de herança, lá diz que o filho mais velho tem direito ao dobro do que corresponde aos seus irmãos. Portanto, Jesus diz, que assim se faça.
Em seguida Jesus conta uma parábola, que nos permite olhar um pouco para a vida das pessoas da Galileia dos anos 30, no tempo em que Jesus viveu. No campo, alguns fazendeiros estavam indo muito bem. Os esforços e investimentos desses fazendeiros dava um grande retorno. A produção de grãos crescia a cada ano e, volta e meia, a preocupação das pessoas era o que fazer com tanta abundância? Havia prosperidade. Mas, de repente, de um momento ao outro, acontece uma coisa que nem os ricos e nem pobres podem evitar: a morte. Aquele rico fazendeiro morre de maneira repentina. Tudo acaba de um momento para o outro.

Ao contar essa parábola Jesus não está questionando o fato de o homem ter conseguido bons resultados pelo seu trabalho. Jesus não critica o fato de ele ter muitos bens. No entanto, o que Jesus questiona é o acúmulo de riquezas, sem responsabilidade social. Esse rico fazendeiro foi abençoado com uma grande colheita. Era tanta abundância que ele nem sabia o que fazer. Que farei? Já sei! Construirei armazéns maiores para guardar tanta abundância. O que Jesus questiona é o fato de ele somente pensar em si mesmo. No centro de sua vida só tem lugar para ele e seu bem-estar. Nos seus pensamentos, ele não tem lugar para ninguém. Ele não pensou – por exemplo - em aumentar o salário dos que trabalham com ele, também não pensou nos pobres. Ele somente pensou em si mesmo. “Homem feliz! Você tem tudo de bom que precisa para muitos anos. Descansa, coma, beba e alegre-se” (v. 19).

Jesus questiona aqui as pessoas que não conseguem ser gratas a Deus e nem conseguem ser solidárias e generosas com as pessoas a sua volta. Para Jesus, aqui se revela o poder – a força - do pecado sobre nós. Ele faz de nós pessoas egocêntricas e avarentas - que não conseguem pensar nos outros.

Conta-se uma história que um pastor recém-formado foi enviado pela igreja para trabalhar para uma Paróquia a qual estava por um bom tempo sem pastor. A principal tarefa era visitar todos os membros. O jovem estava teologicamente bem preparado e tinha boa disposição. Mas, tinha pouca experiência pastoral. Na sua humildade ele procurou ouvir os conselhos dos pastores mais experientes. Esses lhe diziam: Nunca aja por impulso. Primeiro, ouça e observe. Depois, procure entender as razoes, as causas, e somente, por fim, dê a sua opinião. Outros diziam: Não faça distinção entre as pessoas. Visite todos. Mas, principalmente, dê atenção especial às pessoas doentes e idosas.
Assim, aquele jovem pastor começou uma visitação intensiva.

Depois de alguns meses, sobraram apenas algumas poucas famílias a serem visitas. Alguns que moravam mais longe e outras pessoas mais revoltadas com a igreja. Entre esses revoltados havia um rico fazendeiro. De tantas histórias que o jovem pastor ouviu sobre esse fazendeiro, o jovem pastor ficou até com medo de visitar esse homem. Estava empurrando a visita semana após semana. Mas, enfim, criou coragem e foi visitá-lo.

O jovem foi bem recebido. O fazendeiro o convidou para sentar e ofereceu-lhe um chimarrão. Depois de um tempo de conversa, o fazendeiro convidou o jovem pastor para dar um passeio na sua pick-up. Disse o fazendeiro: Pastorzinho! Quero lhe mostrar minha propriedade. E levou o jovem até o alto de um morro, onde se avistava muito longe. O fazendeiro apontou numa direção, onde havia uma plantação, dizendo: Pastor, até onde sua vista alcança, é tudo meu. Depois apontou para o outro lado, onde havia o gado pastando: É tudo meu! Depois apontou para um rio, dizendo: É tudo meu. O fazendeiro apontava em todas as direções dizendo: Tudo meu, tudo meu, tudo meu...
O jovem pastor então apontou para o céu e perguntou: E, lá em cima, o que o senhor tem?
Essa pergunta desconcertou aquele fazendeiro. E ele confessou que o que mais lhe assustava na vida era a sua morte. Depois de um tempo, os dois oraram. Aquele fazendeiro mudou sua forma egoísta de pensar e colaborou mais com a igreja e com projetos sociais.

Na parábola de Jesus, ele nos diz que o pecado nos torna egoístas e avarentos. E aí começamos a julgar os outros, para não ajudar. O pecado nos torna cegos para os outros. Por exemplo, nosso país está tem quase 10 milhões de desempregados e tem 22 milhões de pessoas que já desistiram de procurar emprego. São 32 milhões de pessoas, ou seja, mais de 30% da população em idade produtiva fora da previdência, sem perspectiva de um presente e nem de um futuro. Mas, quem se importa com essa situação? O mais comum é que as pessoas chamem os desempregados de preguiçosos, ao invés de exigir politicas de emprego dos governantes. Esse pensamento egoísta, Jesus chama de pecado.

O teólogo alemão Jürgen Moltmann escreveu um livro chamado “Ética da Esperança”, onde ele conta como deveria ser uma economia inspirada nos valores do Reino de Deus. Ele diz no seu livro que o oposto ou a alternativa contra a pobreza não é a riqueza, mas é a solidariedade e a vida comunitária. A pobreza não se combate distribuindo dinheiro. A pobreza se combate com medidas políticas e econômicas que promovem o emprego, que garantem a saúde pública, a educação, o transporte e a segurança. No campo, a pobreza se combate com incentivo a produção familiar, pois ela garante o alimento diário – de boa qualidade - sobre as nossas mesas.

Portanto,
o Evangelho de hoje nos diz que a pessoa abençoada por Deus também deve ser uma benção para outras pessoas. Quem é abençoado por Deus e não é solidário, torna-se uma pessoa ingrata e comete um pecado contra Deus. Por isso, Jesus alerta as pessoas que desfrutam seus bens e esquecem sua condição de mortais.

A vontade de Deus é que nós nos vejamos como irmãos e irmãs. Portanto, não podemos ser fieis a Deus sem querer a justiça e a solidariedade na terra.
Não devemos deixar que as riquezas, os bens ou os pensamentos egoístas, sejam econômicos ou políticos, fechem nosso coração para as necessidades dos outros. Deus não pode reinar na vida – na família - de quem está dominado por essas coisas.

Deus nos abençoa – sem exigir nada de nós. Por isso, devemos nós ser gratos e solidários com um pouco daquilo que Deus nos abençoou. Deus quer a solidariedade entre as pessoas.
Deus nos deu hoje uma palavra para o nosso coração. Que nós tenhamos também o nosso coração aberto para a sua Palavra. Amém.
 


Autor(a): Nilton Giese
Âmbito: IECLB / Sinodo: Paranapanema / Paróquia: Curitiba - Igreja de Cristo
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações / Organismo: Capela Luterana
Testamento: Novo / Livro: Lucas / Capitulo: 12 / Versículo Inicial: 13 / Versículo Final: 21
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 67658
O Deus da paz opere em vós o que é agradável diante dele, por Jesus Cristo, a quem seja a glória para todo o sempre.
Hebreus 13.20-21
© Copyright 2024 - Todos os Direitos Reservados - IECLB - Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil - Portal Luteranos - www.luteranos.com.br