Campanha Em comunhão com as viDas das mulheres


História de vida de Trauda Florinda Zilske

11/02/2020

 

Nome: Trauda Florinda Zilske

Tempo de participação na IECLB: Desde o casamento (1985)

Comunidade: da Paz

Paróquia: Espigão Do Oeste – Ro

Sínodo da Amazônia


Hoje eu quero escrever contando um pouco sobre a minha história de vida. Eu nasci no dia 15 de abril de 1969, na cidade de Nova Venêcia, Estado do Espírito Santo. Sou filha de Franz João Emílio Zilske e dona Coversina Krause Zilske, que escolheram o meu nome, Trauda Florinda Zilzke. A minha família é bem grande, somos oito irmãs e três irmãos, ao todo onze filhos e filhas. Eu sou a décima filha.

Os meus pais eram lavradores e eram da Igreja Evangélica Luterana do Brasil (IELB). Por isso, no dia 04 de maio de 1969 fui batizada, com as Palavras do Trino Deus, na Comunidade de Mutum, no Espírito Santo. Passei a minha infância naquela região, até os nove anos de idade. Depois, meu pai e minha mãe se mudaram com a família para Espigão do Oeste, em Rondônia.

No ano de 1978 chegamos à Rondônia. Naquele tempo, era muito difícil aqui. Moramos em barracas, e o assoalho era de chão. Nos primeiros tempos, só era possível ir à cidade de cavalo, pois, a estrada era uma picada. Escola só tinha na cidade. Por este motivo, eu precisei morar na cidade, com uma conhecida de meus pais. Era o único jeito de eu poder estudar um pouco. Não foi fácil, chorei muitas vezes com saudades da minha família.

Quando eu estava na terceira série meu pai me tirou da escola. Eu queria muito continuar estudando. Meu pai disse que não porque eu precisava ajudar com os trabalhos na lavoura. Fiquei muito triste e pedi para minha mãe conversar com meu pai para que ele me deixasse estudar. Eu queria ser Pastora quando crescesse. Aí, a mãe fez este comentário com ele. Eu levei uma “bronca” do meu pai que quase apanhei. Ele disse: De onde ela tirou essa ideia de que mulher pode ser Pastora? Isso é trabalho para homens.

Naquele dia, percebi que o meu pai discriminava as mulheres. Ele falou que mulheres tinham que trabalhar em casa. Assim como ele precisava trabalhar para dar terra aos herdeiros, que eram os três irmãos, as filhas tinham que arrumar um casamento com quem tinha algo para lhe oferecer. E assim foi.

Eu fiz o ensino confirmatório e no dia 27 de setembro de 1981 eu fui confirmada. Sempre participei das atividades da Igreja. Quando chegava os dias de Advento, eu e meus irmãos ficávamos muito felizes por poder participar das programações de Natal. Era um período muito bom porque nós ganhávamos algum brinquedinho e doces. Pão de trigo e biscoitos só tinha no Natal e na Páscoa.

Casei-me no dia 03 de maio de 1985, na Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, com um rapaz de 22 anos de idade, também lavrador. Eu era muito jovem, tinha apenas dezessete anos. Ia tudo muito bem no meu casamento. Depois de um ano e cinco meses de casada tive meu primeiro filho, um menino. Eu e meu marido ficamos muito felizes. Eu sentia uma emoção muito grande de ser mãe. Eu sentia que ali a minha vida tinha mudado. Eu era uma mãe cuidadosa e ciumenta, porque para mim o meu bebê era o bebê mais lindo do mundo. Como eu o amava.

O tempo foi passando. Num belo dia, eu estava mal e fui ao posto de saúde fazer uma consulta. Através de alguns exames tive a notícia de que eu estava grávida novamente. No momento eu fiquei um pouco preocupada, pois meu primeiro filho só tinha pouco mais de um aninho. Mas depois eu pensei bem e cheguei à conclusão de que o que está feito não dá para mudar. Saí contar a novidade para toda a família. Tudo ficou maravilhoso! Estávamos envolvidos nos preparativos de enxovais à espera do novo integrante da família. Quando o meu primeiro filho completou dois anos e dois meses eu tive o meu segundo filho, outro menino. Eu estava com 21 anos de idade, e era mãe de dois lindos filhos, os quais eu dei educação com muito amor e carinho.

Depois de certo tempo, meu marido e eu resolvemos deixar a vida no sítio e nos mudar para a cidade. O meu marido foi trabalhar de empregado e eu também fui trabalhar em casas de família. Mais tarde, comecei a trabalhar em um hospital particular. Trabalhei por vários anos nesse hospital. E foi nesse período que minha mãe faleceu. Minha mãe estava com 69 anos de idade e faleceu no Hospital onde eu trabalhava. Isso mexeu muito comigo. Passei por momentos muito difíceis, até fiquei doente e resolvi deixar daquele emprego porque o ambiente não me ajudava. Todos os dias eu olhava para aquele quarto e me lembrava da minha mãe.

Depois que minha mãe faleceu, passei um tempo cuidando da casa e dos meus filhos, que já estavam na escola. E aí, meu marido resolveu prestar concurso público, eu dei a maior força para ele. Ele se inscreveu, passou e conseguiu um trabalho onde permanece até hoje. Eu voltei a trabalhar em empresas particulares. Também voltei a estudar, mas não deu certo. Precisei interromper os estudos porque o meu marido não me apoiou. Todos os dias eu tinha que enfrentar ele, aí eu vi que era eu escolher entre estudar ou o meu casamento, e a escolha foi o casamento.

Todo o meu esforço por manter o casamento foi em vão. Dediquei-me tanto ao marido. Deixei de realizar meus sonhos. E, só fui feliz durante 17 anos no meu casamento. Quando os meus filhos estavam na adolescência, precisando de apoio do pai, eles não tiveram mais o pai, pois ele nos trocou por uma amante. Sim, eu fui traída. E quando eu descobri fiquei sem chão. Eu achei que não iria suportar a dor. 

Sentia-me sozinha. E, como amava muito o meu marido achei que eu poderia consertar isso. Eu conversava muito com ele. Sabe, quando você quer perdoar sem que o agressor tenha lhe pedido o perdão? Mas foi tudo em vão. Depois de alguns anos ele deixou aquela pessoa. Eu fiquei feliz achando que tudo ia melhorar. Mas foi engano meu, pois além daquela, já havia outra em sua vida. E nesse vai e vem de querer salvar o casamento, eu já estava sofrendo há oito anos.

Na igreja sempre fui ativa nos cultos, no coral, no grupo de mulheres da OASE. Eu tive muita ajuda dos Ministros e das Ministras da Igreja, das amigas, do meu pai e da minha família. Porque, quando eu achava que as coisas iam melhorar, vinha outro problema. O meu marido ficou na miséria e virou um alcoólatra. E eu tinha que trabalhar para manter a minha casa e meus filhos. Devido ao sofrimento que passei com meu marido, entrei em depressão, cheguei a pesar 53 quilos. A cada poucos dias eu internava. Eu já não tinha mais forças para lutar.

Num dia, o médico me disse que eu deveria tomar uma decisão na vida, se não eu iria morrer. Foi nesse momento que tive a ultima conversa com o meu marido e, depois, fechei a porta da minha casa, do meu coração e tirei ele para sempre da minha vida. Fiquei sozinha com meus filhos. Não foi fácil, mas foi assim que eu encontrei a Paz.

Depois de três anos eu encontrei um velho conhecido e comecei um relacionamento com ele. Depois de seis meses nós casamos, ele com 65 anos e eu com 42 anos. A bênção para nossa união estável foi oficializada no dia 14 de novembro de 2010, na Comunidade da Paz, em Espigão do Oeste. Foi um dos dias mais felizes da minha vida. A Igreja estava toda enfeitada, foi uma surpresa da minha madrinha com a ajuda de umas amigas. A festa foi muito grande, a igreja estava cheia de convidados. Eu fiquei sorrindo o tempo todo para aguentar a emoção e não chorar. Nesse dia, eu percebi que Deus já tinha enxugado todas as minhas lágrimas. E com a Graça de Deus estamos juntos e bem.

Os meus filhos também já casaram e tenho um neto de coração, já com nove anos de idade. Agora, a minha nora está grávida do meu primeiro neto ou neta (biológico), ainda não sabemos o sexo. Já é a grande alegria da família. Eu já estou ansiosa com a chegada dele ou dela.
Assim quero terminar uma parte da minha história de vida...
Só mais um lembrete, no dia 11 de janeiro de 2017 o meu pai faleceu aos 93 anos.


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