Campanha Em comunhão com as viDas das mulheres


História de vida de Olivete Marilei Glönzel Rehfeld

11/02/2020

 

Nome: Olivete Marilei Glönzel Rehfeld

Tempo de participação na IECLB: Desde o Batismo

Comunidade da Paz

Paróquia: Espigão do Oeste – RO

Sínodo da Amazônia

 

Eu, Olivete Marilei Rehfeld vou tentar contar um pouco da minha vida na Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil.

Nasci no município de Tucunduva - RS. Meus pais, com meus irmãos mais velhos, subiam numa carroça de boi e andavam nove quilômetros para chegar até a igreja mais próxima. Mas não deixavam de participar. Logo após meu nascimento, recebemos na Comunidade um pastor da Alemanha chamado Valter, “não me recordo o sobrenome”.

Éramos uma família muito grande, morávamos próximos uns dos outros e tínhamos um tio que ficou doente. Na época, tudo era difícil e ele acabou paraplégico por causa de uma doença reumática. Foi aí que o pastor decidiu dar os cultos para a família Glönzel, na casa do meu vovô, onde fui batizada.

Mais tarde, titio veio a falecer em meio a muito sofrimento. Foi aí que papai e seus irmãos, tios e sobrinhos decidiram construir uma igrejinha ali perto. Em homenagem ao meu tio falecido ela (a igrejunha) se chamou “Comunidade Rudi Glönzel”.

No final de 2018, estive lá e visitei a nossa igrejinha. Ali eu fui crescendo e participando, quando criança, decorava poemas e hinos em alemão para fazermos os programas de Natal, era muito lindo. Quando fui para o ensino confirmatório o pastor Valter voltou para a Alemanha e veio outro pastor brasileiro e então fiz o catecismo em Português e com o pastor Nelson fui confirmada.

Este pastor também era muito querido na comunidade e sua esposa sempre o acompanhava. Certo dia, o pastor Nelson me chamou para conversarmos. Ele me propôs formar um grupo de jovens e me pediu para coordenar os trabalhos. Fiquei muito feliz, pois sempre gostava de organizar e ajudar em tudo, até tinha o sonho de me tornar uma irmã luterana. Fiquei à frente da juventude e também com a preparação de eventos como Natal e Páscoa. Tentava fazer tudo com muito amor e carinho.

Aos dezoito anos tive a oportunidade de participar de um congresso de três dias com um grupo de Irmãs. Éramos umas oitenta jovens e tivemos muita coisa a aprender com as Irmãs. Ainda não tinha mencionado, mas eu sonhava muito com uma vida dedicada a Deus, como ser irmã da igreja. Lembro que voltei do congresso com um dilema muito grande, chorei muito. Na época eu tinha um namorado há dois anos e nos amávamos muito. Enfim eu decidi pelo namorado, que hoje é o meu marido.

Casei-me um ano depois do congresso, conforme os costumes da época: na igreja que meu marido frequentava – Igreja Evangélica Luterana do Brasil – IELB. Casamo-nos na Igreja de Vila Machado. Morávamos no interior e com seis meses de casada engravidei da minha primeira filha, Fabiane. Tudo era felicidade.

Logo depois, meus irmãos decidiram vir para a Rondônia. Eu estava grávida de sete meses por isso, meu marido e eu decidimos esperar o bebê nascer e ficar mais um ano nos Sul, pois as estradas eram muito ruins.

Nossa filha nasceu e pra nossa grande tristeza e profunda dor, ela ficou conosco por apenas dez horas e depois, subitamente ela faleceu. Na época tudo era difícil e nem o médico soube nos dizer porquê ela faleceu. Disse apenas que achava ser uma deformação cardíaca.

Depois de alguns meses, apesar da dor e da tristeza, decidimos ir para a Rondônia. Antes disso, batizamos nossa filha mais velha na “Missuri” – era forma como nos referíamos à IELB. Apesar de eu nunca ter sentido essa igreja como minha eu a frequentava com meu marido.

Chegando no estado de Rondônia, meu esposo arrumou emprego de gerente em uma fazenda chamada “Solo Rico”, que ficava a 20 Km da cidade de Espigão do Oeste. Um ano depois, foi decidido fundar uma escola lá na fazenda e, então, também eu pude trabalhar como professora. Para irmos a cidade, na época das chuvas, era muito difícil, só usando o trator. Por isso, íamos pouco aos cultos e eu não conseguíamos participar das atividades.

Três anos depois, decidimos ter mais um filho, nasceu a Fabrine, graças a Deus, com saúde. Batizamos a Fabrine na igreja Missouri, onde ela e a irmã Fabiane fizeram o Catecismo.

Eu sofri muito, pois teve uma época que meu marido bebia demais, ele ia para a cidade e voltava bêbado. As meninas precisavam seguir os estudos, então, decidi pegar transferência e fui morar na cidade onde já tínhamos uma casa. Ele não quis ficar lá e pediu demissão do serviço. Com nossa vinda pra cidade, meu marido, junto com o irmão dele e um irmão meu, decidiram comprar um trator e um caminhão e começaram a trabalhar como madeireiros. Mas quando ele chegava em casa, ia para os bares beber. 

Nossa vida era bem complicada, igreja ninguém ia mais, só as meninas que de vez em quando iam aos cultos e participavam do encontro de jovens. Num dia de carnaval, elas quiseram participar do carnaval e eu permiti, mas, não sem antes conversar com elas. O pastor soube e no primeiro culto depois do carnaval as chamou e as proibiu de participar da Ceia do Senhor por dois anos. Depois disso, elas nunca mais foram a igreja e eu também não fui mais.
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No ano 2000, a Fabiane iria se casar. Ela queria muito casar-se na igreja. Decidi conversar com os pastores e diretoria a respeito. Assim, nos transferimos para a Comunidade Evangélica de Confissão Luterana da Paz - IECLB. Eu fiquei muito feliz por sentir que estava novamente na minha igreja. Fabiane teve dois filhos que foram batizados nessa igreja.

Meu marido continuava bebendo, até que um dia, ele sofreu um acidente muito grave de moto. Ele estava trabalhando em Colniza – MT, era véspera do dia dos pais (em 2004). Estava muito distante de um hospital e teve que aguentar a noite toda até chegar o socorro. Lembro-me como se fosse hoje! Eram seis da manhã quando o telefone tocou, eu ainda estava dormido. Queriam me avisar do acidente e pedir minha autorização para interna-lo. Pedi que fosse feito todo o possível para salvá-lo.

Isso aconteceu num dia de domingo, 08 de agosto de 2004. Eu estava sem dinheiro e o hospital queria, no mínimo, R$ 5.000,00 para interná-lo. Desesperada, sem saber como e o que fazer, pedi que esperassem um pouco. Então, cai de joelhos orando e clamando a Deus para me dar uma luz e que nada de mais sério acontecesse com ele, pois era o dia dos pais e a Fabiane estava grávida de sete meses. Então Deus me disse: liga para a tua cunhada, irmã dele que mora no Rio Grande do Sul. Corri até o telefone e expliquei a situação. Ela, desesperada só me pediu o número do telefone do hospital e desligou.

Fiquei o tempo todo em oração, eu e a Fabiane que estava comigo. A Elaine, minha cunhada, ligou pra direção que não queria negociar. Então, ela pediu para falar com o médico que estava cuidando dele. O médico se comoveu, deu um cheque dele para o hospital até que no outro dia, segunda-feira, quando os bancos estivessem abertos, ela pudesse mandar o dinheiro para ele. 

Meu marido ficou até segunda na UTI, quando saiu para fazer a cirurgia no lado esquerdo da cabeça. Depois de cinco horas de cirurgia ele voltou para a UTI. Na terça-feira, fez a cirurgia no lado direito da cabeça, onde teve que ser removido até um pedaço do cérebro. Ele ficou uma semana na UTI e então foi para um quarto semi-intensivo onde permaneceu 28 dias internado.

No princípio, ele não nos reconhecia direito e também não sentia o gosto de nada, por isso não queria se alimentar. Depois de um ano ele voltou ao normal. Foi aí que percebi que eu tinha recebido de Deus o primeiro grande milagre.

O segundo grande milagre aconteceu no ano de 2000. A minha filha Fabrine ganhou uma viagem da madrinha dela, a Elaine, para ir visitá-la. De repente, ela começou a sentir dores fortíssimas e a levaram ao hospital. Lá foi feito uma bateria de exames, mas nada aparecia. Minha cunhada ligou desesperada pra mim dizendo que os médicos já estavam aplicando morfina e mesmo assim, as dores não passavam. Os médicos decidiram por uma cirurgia para ver o que ela tinha. Quando eu soube, quase enlouqueci. Novamente caí de joelhos e orando, chorando, implorei pela vida de minha filha. Fiquei em oração durante duas horas e meias até que minha cunhada ligou para dizer que ela estava bem. Fabrine estava com o apêndice e as trompas inflamadas, por isso as fortes dores. Então meu marido foi ao encontro dela, esperou que se recuperasse e a trouxe de volta pra casa, em meio a muita alegria e agradecimento.

O terceiro milagre, foi há quatro anos. Fabrine estava grávida de quatro meses, quase cinco, e foi a Cacoal fazer mais um ultrassom e, se possível, saber qual o sexo do bebê. O médico demorou muito no exame. Olhou repetidas vezes a imagem e então pediu à ela para se sentar porque precisavam conversar. Ele disse: - “Mmamãe, as notícias não são boas. Você vai ter mais uma menina, mas ela vai nascer sem as mãozinhas e os pezinhos”.

A notícia nos pegou de surpresa. No princípio, nós só sabíamos chorar. Então falei: Deus vai nos conceder mais um milagre. Vamos nos unir em oração! E assim fizemos. Orávamos todos os dias, sempre no mesmo horário, a nós se uniam em oração a família de Cacoal e também a do Sul. Depois de um mês enchemos o consultório do Dr. Pinheiro para vermos como o bebê estava. A primeira coisa que eu vi foi a mãozinha dela no rostinho, chupando o dedinho. Ali mesmo comecei a agradecer a Deus. Eu não tinha vergonha de ninguém. Eu não conseguia parar de chorar e agradecer. Minha irmã Elizabete, de Cacoal que é madrinha da Fabrine, disse: Vamos dar a ela o nome de Ana, em homenagem a avó de Jesus. Eu disse: Então a chamaremos de Ana Vitória, pois foi mais uma vitória que Deus nos deu. Hoje, eu fico pedindo a Deus que conduza as minhas filhas de volta a igreja, pois se afastaram. Sei que este dia também vai chegar, Deus vai me ouvir como sempre.

Foi nesta época que eu senti que só ir à igreja, nos domingos, era pouco. Eu queria mais e mais. Então comecei a freqüentar o grupo de mulheres e vi que era muito bom. Eu saio de lá renovada. Começamos a fazer artesanato no Centro Comunitário da igreja. Lá nos encontramos até hoje, todas as segundas feiras a tarde. Hoje, como OASE, temos nossas reuniões a cada quinze dias. Com a graça de Deus, a cada encontro o grupo vai crescendo e se fortalecendo.

Consegui batizar as duas filhas da Fabrine, as minhas netas mais novas que estavam sem o batismo. Também consegui colocar as minhas netas mais velhas no catecismo. Se Deus assim o permitir, em dezembro vou assistir a confirmação da Letícia, filha da Fabiane, e no ano que vem, a da Allana, filha da Fabrine.

Sei que minha missão ainda não terminou, vou fazer o que puder para dar aos meus cinco netos uma educação cristã. Não sei onde errei com minhas filhas, mas um dia elas vão ver que a mãe estava certa, quando digo que sem Deus, sem uma igreja onde buscar forças não somos ninguém.

Amo minhas irmãs de fé e de companheirismo da OASE e todas mais. Ainda tenho vontade de crescer no meu serviço de Diaconia, como na visitação, etc... Agora, fui eleita como Coordenadora paroquial da OASE. Estou ainda engatinhando, não tenho experiência, mas com a ajuda de colegas e de Deus sei que vou vencer.

Esta é apenas uma pequena parte da história de minha vida. Se fosse contar tudo daria um livro. Termino com a dedicação desta pequena oração a minha família, pois mesmo em meio às dificuldades, em 2017 completamos quarenta anos de casados. Como benção, Deus nos deu duas filhas um neto e quatro netas (e uma filha em memória):

Que Deus nos abrace com amor de um pai, nos cuide com o carinho de uma mãe e nos de a sabedoria dos avós. Amém.

Olivete Marilei Glönzel Rehfeld


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