Campanha Em comunhão com as viDas das mulheres


História de vida de Noeli Maria Dunck Dalosto

11/02/2016

 

 

 

Nome: Noeli Maria Dunck Dalosto

Tempo de participação na IECLB: Desde o batismo

Comunidade: Comunidade Evangélica de Confissão Luterana Pastor Norberto Schwantes

Paróquia: Canarana - MT                                        

Sínodo: Mato Grosso

   

 

 

 

Cresci vendo meus pais trabalhando pela igreja e sempre fomos muito incentivados a participar do Culto Infantil, a frequentar os cultos e participar das atividades religiosas e a colaborar nas festividades desenvolvidas, cuidando dos menores enquanto as mães botavam a mão na massa, na comunidade de Tenente Portela.

 Fui batizada pelo então pastor Norberto Schwantes, aos trinta e um dias do mês de julho de 1960, quinze dias após meu nascimento. Das lembranças do tempo de infância e início da adolescência, muitas estão relacionadas às atividades da Igreja e escola. Lembro das apresentações natalinas, teatros e hinos que ensaiávamos para apresentar, dos ovos e coelhos da páscoa, dos cultos onde os homens sentavam de um lado e as mulheres do outro nos bancos, e da figura austera do pastor, que falava sempre com muita seriedade.

Comecei meus estudos na Escola Evangélica Tobias Barreto, criada pela comunidade, juntamente com o internato para os filhos dos agricultores que moravam em suas colonias. Época muito prazerosa de lembrar. Muitas brincadeiras com os colegas na hora do recreio e a descoberta do mundo da linguagem pela alfabetização. Minha primeira professora, Terezinha Schwantes. Pequena e frágil, mas muito carinhosa com todos.

Com a perspectiva da mudança para Mato Grosso, fiz meu ensino confirmatório com apenas um ano de estudos com o pastor Osvaldo Jähn. Das lições aprendidas, lembro principalmente dos mandamentos que tínhamos que decorar, dos livros da bíblia, orações e dos sermões quando não sabíamos o suficiente. De passar por uma prova oral diante da comunidade. De lembranças engraçadas, a orientação do pastor aos meninos, que usassem o sapato muito antes do dia da confirmação para não fazer calos nos pés.

 A mudança para o estado de Mato Grosso, que apenas ouvíamos falar na aulas de Geografia, trouxe muitas expectativas a todos da família. A viagem de 7 dias por vários estados, vendo tantas coisas diferentes do que aquelas do nosso mundinho de poucos quilometros, tudo nos encantava. Pessoas que falavam diferente, a paisagem, os piqueniques à beira do caminho quando parávamos enquanto minha mãe, minha tia e irmãs mais velhas preparavam os alimentos... a expectativa da chegada, projetos e sonhos povoavam nossas conversas e fantasias.

Enfim, em 11 de janeiro de 1973, chegamos em meio aos atropelos provocados pela chuva - atoleiros - na picada recém aberta e que nos levaria ao acampamento junto às demais famílias.

Como tudo estava para ser feito, logo que as famílias iam se encontrando, conversando, projetando, formou-se a comunidade evangélica luterana.

Importante as presenças do pastor Hildor Reinke e sua esposa Sara, com dois filhos pequenos, neste projeto de comunidade e a construção da escola. Foram nossos pastores, professores, administradores que ajudaram nos anos em que estiveram conosco a superar as dificuldades, buscar soluções, numa área muito abrangente, de enormes dificuldades de estradas, habitação, recursos médicos, educação, transporte e principalmente a saudade que notoriamente as mães e moças sentiam de seus familiares e amigos. Os pais e rapazes encantados em explorar o local em caçadas e pescarias. Para nós, crianças e adolescentes, era muita novidade e aprendemos a conviver com as adversidades como algo natural. A preocupação ficava com os adultos.

Na vida comunitária, as atividades desenvolvidas assemelhavam-se como no sul. Apenas as condições eram outras. Escola e Igreja eram a vida social do local. Festas escolares, reuniões da Coopercana, atividades desenvolvidas pela Igreja movimentavam o local. Momento onde se encontravam e também podiam projetar os rumos que queriam para a recém formada localidade.

Com a transferência do pastor Hildor e sua família para Barra do Garças – 1976 - e a decisão da Igreja em apoiar os novos projetos de colonização, vários líderes religiosos acompanharam e guiaram a comunidade.

Nesta caminhada, é muito importante destacar o trabalho que as mulheres tiveram. Além do cuidado com a família e filhos, organizaram-se para discutir o cotidiano. Seus anseios e preocupações com o funcionamento da escola e da igreja. Atuaram de forma muito ativa, umas mais, outras menos, na participação das decisões da comunidade, como no trabalho nas festividades, cozinhando, limpando, enfeitando.

Crianças e jovens eram chamados a colaborar. Nos cultos, em programas especiais, festividades que a comunidade programava, enfim, eram oportunidades de convivência comunitária, de conhecer as novas famílias que chegavam, de paqueras e namoros.

Sociedade civil e religiosa uniam-se buscando os meios para o desenvolvimento da localidade e a Igreja Luterana, com a presença de seus ministros e famílias, contribuiram muito para isso.

Os primeiros encontros de mulheres foram organizados pelo pastor Hildor, que viu a urgente necessidade de as mulheres poderem chorar suas saudades e dificuldades de criar seus filhos e filhas numa região desprovida de recursos. Na casa de D. Idelvais Oster – responsável pela Casa di Pasti, deu-se o início das reuniões. Mais tarde, com a construção do pavilhão evangélico, todas as atividades religiosas e civis foram ali realizadas. Mulheres de todas as denominações eram convidadas a participar. Momento de expor suas frustrações por projetos não saírem como o planejado. Lágrimas, raiva, saudades. Não estava sendo fácil acostumar.

Lembro especialmente de duas famílias alemãs que vieram para cá no início do processo colonizatório: Famílias de Hans e Ruth Rinkling – ele, engenheiro agronomo e ela pianista e professora do grupo de canto da comunidade. Do Sr. Eberhart Guissmann, engenheiro mecânico, nosso professor alemão que tentava nos ensinar matemática e D. Gisela, que tanto auxiliou as mulheres nos problemas de saúde, atuando como parteira e, por vezes, ajudando no tratamento da malária, bastante comum na época. 

A OASE sempre participou da vida comunitária com muito afinco. Desde o seu início, com suas promoções ajudou na construção do templo, colaborou em promoções diaconais na comunidade para auxiliar creches APAE, Casa da Criança e outras instituições afins, atualmente.

Conforme as comunidades foram sendo constituídas e os grupos de OASE sendo formados, nos organizamos como setores e sínodo. 

Neste processo, penso que os ministros e ministras perceberam a força dos grupos de OASE como apoio muito forte nas promoções empreendidas para dar conta de se sustentar financeiramente, construir seus templos, enfim não se excluir de todo processo de mudanças/reestruturação pensados pela IECLB, a partir da migração para as novas áreas de colonização mesmo sendo comunidades reduzidas em número de membros e comunidades muito distantes umas das outras.

No período de estudos – 1976 a 1984- Ensino Médio e curso superior, em Barra do Garças, o trabalho na igreja ficou reservado apenas nos períodos de férias. 

Casei-me em dezembro de 1984, no antigo Pavilhão construído pela comunidade. Lembro-me do comentário do noivo “ você entrou muito depressa”... Sorrio ao lembrar dos poucos passos a serem dados até o altar. Apesar da simplicidade, uma dupla de mulheres tocava maravilhosamente seus violinos. Fomos abençoados pelo pastor Uwe Kliewer que oficiou a cerimônia. 

Comecei a participar efetivamente da OASE por ocasião do XV Congresso setorial da OASE, em Canarana, tendo como palestrante o pastor Mozart J. de Noronha - RJ, que trabalhou conosco o tema “Novo Milênio – enfoque na mulher”.

Quando meus filhos já estavam maiores pude conciliar o trabalho com o dia das reuniões semanais.

O marco foi a comemoração dos 100 anos da OASE em Rio Claro/SP. A partir daí, o trabalho também se intensificou nas atividades festivas da comunidade, com ensino confirmatório, no prestitério e paróquia.

É chegado o tempo de agradecer! Tempo de retribuir por tudo o que as mulheres e os homens, em conjunto, fizeram para edificar as comunidades que surgiram em solo mato-grossense. Como dizem as pessoas de mais idade “ nós já fizemos bastante, agora chegou a hora das pessoas mais novas”. Nunca falaram que já não fariam mais, pois continuam, com seus dons, a “dar cara” aos grupos que se tem hoje. Sustentando sua fé, cantando, ensinando as melodias dos hinos mais antigos, orando, contando suas histórias de superação e coragem, ajudando a fazer cucas, plantando e colhendo os temperos para os almoços e jantares, enchendo o chimarrão nas rodas de conversa, bordando, crochetando, costurando, fazendo artesanato, oferecendo e comprando números de rifas, doando prêmios, mimos, enfeitando altares ou simplesmente participando. Essas somos nós. 

Ao contar um pouco da minha história de vida pessoal e na comunidade luterana, quero dar “rosto” a tantas mulheres importantes da nossa paróquia. Importantes porque deram e dão seu testemunho de vida no dia-a-dia. Vivendo a comunhão com tantas outras mulheres, ensinando e principalmente levando a palavra de Deus aos filhos, vizinhos, amigas, enlutados, acamados, enfim, a sociedade através da sua organização.

Tempo de agradecer em especial ao trabalho desenvolvido pelas esposas dos ministros e ministras que colaboraram com a edificação de nossa comunidade: Sras. Sara Reincke, Noemia Dockhorn, sempre muito animada, Gerhild Kliewer e seu trabalho em ensinar os hinos, a preparar os teatros e a participar ativamente das comissões na era Collor, Neiva Käfer, Isolde Kegler muito participativa nos encontros da OASE; ministra Eliana Mutz, a queridinha dos jovens e as famosas gincanas promovidas pela APAE, ensaiando o coral da prefeitura, Uiara Kronbauer, muito prestativa em colaborar nos cultos na ausência do pastor e cantando maravilhosamente, Pa. Lourdes K. Knecht, muito meiga e animada, Leda Witter presença nos encontro, orientando e ajudando na sua estruturação e trabalhando temáticas; e tantas outras mulheres e ministras de comunidades e paróquias do setor leste que estiveram conosco nesta caminhada da OASE e, atualmente, Gizele Zimmermann. Lembramos também das estagiarias Mariane Mayer kempf, Ana Cássia Maus e Mariza Eckhardt Neuberger.

Atualmente, tenho a alegria de presidir, pela segunda vez, a Associação dos grupos de OASE no sínodo Mato Grosso. Função de grande aprendizado e de novas experiências. 

Mulheres fortes, trabalhando em realidades distintas, mas que aprenderam que em seus grupos podem buscar ânimo, curar feridas, oferecer apoio umas às outras, projetar sonhos, ter a liberdade de somar esforços e forças para vivenciar um mundo com mais esperança, mais solidário e que por meio da fé, podem proclamar que “Jesus Cristo é Rei e Senhor, é Senhor potente, hoje e eternamente. Amém.


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