Campanha Em comunhão com as viDas das mulheres


História de vida de Leda Müller Witter

02/06/2016

 

 


Nome: Leda Müller Witter

Tempo participação na IECLB: desde o batismo

Comunidade atual: Cuiabá

Paróquia: Paróquia Evangélica de Confissão Luterana de Cuiabá

Sínodo: Mato Grosso

 


Nasci numa família luterana, aos 24 dias do mês de setembro do ano de 1959, na cidade de São José do Cedro, SC. Fui batizada em 22 de dezembro do mesmo ano. Sou filha única do casal Selma Müller (in memoriam) e Heinz Karl Rudolf Müller. Cresci sempre vendo meus pais participarem da igreja, cedendo a casa para realizar os cultos, acolhendo o pastor que vinha de longe. Ainda em SC, lembro que ele vinha com um jipão, de São Miguel do Oeste; na parte da manhã, almoçava, descansava e depois celebrava o culto, na nossa casa. Meu avô materno, Arthur Borck, foi um líder muito importante, principalmente durante a 2ª Guerra, quando celebrava cultos, fazia sepultamentos e batismos. Depois chegaram os pastores; então, ele os auxiliava. Quando chovia ou eles tinham outro imprevisto, meu avô celebrava os cultos.

Com 4 anos de idade, com meus pais nos mudamos para o interior do Paraná, para Bom Princípio, uma vila entre as cidades de Cascavel e Toledo. Meus avós paternos já residiam lá há mais tempo. Logo adquirimos uma chácara, e construíram uma casa e um galpão para começar a trabalhar com a marcenaria, pois a profissão do meu pai era marceneiro. A minha mãe cuidava da casa, plantava milho, mandioca, verduras, criava galinhas, alguns porcos e umas vaquinhas para o leite. Com 6 anos de idade comecei a frequentar a escola. Aí foi um dilema, pois eu só falava a língua alemã, e na escola se falava a língua portuguesa. Mas consegui aprender a falar português com bastante facilidade. E certo dia cheguei em casa falando somente o português com meus pais: eles falavam em alemão, e eu respondia em português. Foi aí que meu pai disse: “Você vai falar as duas línguas, em casa o alemão e na escola o português”. Foi uma coisa difícil!!! E hoje eu agradeço, pois assim mantive a língua alemã, que já me ajudou muito em tantas situações.

Nesta vila havia a Igreja Evangélica Luterana – IECLB, e o pastor vinha de Toledo uma vez ao mês, para atender a comunidade, de mais ou menos 15 famílias. Não participei do culto infantil, pois não havia. Com 12 anos comecei a frequentar o ensino confirmatório. O pastor vinha de Toledo depois do almoço e realizava duas horas de estudo; éramos quatro adolescentes. À tardinha, o pastor celebrava o culto e retornava a Toledo. Um marco foi o retiro dos confirmandos num final de semana em Toledo, onde ficamos hospedados em casas de famílias. Eu fiquei na casa da família Hoffstadter. Foi um período de muita ansiedade: estudar os mandamentos, o medo de errar na prova oral, o pastor sempre sério, etc. Fui confirmada dia 07 de setembro de 1973. O lema bíblico de minha confirmação é João 15.4a, onde Jesus diz: “Permanecei em mim, e eu permanecerei em vós”. No dia seguinte fiquei doente, levaram-me ao hospital em Toledo e fiquei internada oito dias, fazendo exames, e não descobriam o que tinha. Resumindo, acho que foi uma virose. Nesta comunidade da vila, meu pai foi presidente do presbitério por dois mandatos, e minha mãe ajudava sempre nas festas e limpava a igreja.

Fatos que me marcaram: como meu pai era marceneiro e era o único na região, fazia móveis, janelas, portas, cangas de boi e caixões. Quando alguém falecia, lá ele ia fazer e preparar o caixão, e eu o ajudava na decoração e forração. Também, quando ele tinha alguns móveis prontos, eu o ajudava a pintá-los com verniz. Também ingressei no ginásio, e todo dia viajava com uma Kombi até Toledo para estudar. Em 1973, nós nos mudamos para a cidade de Cascavel, pois a saúde do pai e da mãe não estava das melhores. O médico sugeriu ao pai que mudasse de profissão, devido à poeira da marcenaria que estava prejudicando a sua saúde. Então vendeu tudo o que tinha em Bom Princípio e começou em Cascavel com um armazém de secos e molhados. Continuei com os estudos e, nas horas vagas, ajudava meu pai no armazém. Começamos a participar da igreja em Cascavel, nos cultos, festas, estudos bíblicos. A mãe participava das reuniões da OASE e colaborava nos chás.

Em fevereiro de 1979, casei-me com Erotides Padilha, porém muito nova, com 19 anos. Três anos depois, dia 07 de janeiro de 1982, deixando meus pais muito tristes e preocupados, eu e meu esposo nos mudamos para o Mato Grosso, para a cidade de Tangará da Serra. Montamos um supermercado com mais um casal de primos em sociedade. Meu marido era sócio gerente, e eu trabalhava no caixa. No primeiro ano, não frequentamos a igreja, pois a informação que tínhamos era de que a igreja luterana mais próxima se localizava em Cuiabá. Mas, certo dia, quando eu estava trabalhando no caixa, passou por lá um casal com compras, Carlos e Maria Gressler, muito simpáticos, e ofereceram um cartão de almoço. E, quando peguei o cartão, vi o emblema da IECLB e falei que éramos luteranos. Que bom!!! A partir deste momento, começamos a participar da comunidade, que nos acolheu muito bem. O pastor que a atendia era Geraldo Schach, que vinha de Cuiabá uma vez no mês. Em 1983, a paróquia construiu uma casa paroquial e recebeu um pastor, Teobaldo Witter, para atender a paróquia. E assim as atividades continuaram, e foi neste ano que comecei a participar das reuniões da OASE, assumindo cargos de presidente e/ou secretária do grupo. Posso dizer que ali eu cresci espiritualmente. Sempre tentando compreender a Bíblia, a história da IECLB e da OASE.

A OASE foi e é uma verdadeira escola para mim. Sempre procurei preservar as amizades; muitas ainda existem até hoje, e outras já nos deixaram. Sempre participei das reuniões de movimentos sociais, organização de festas, visitas, estudos bíblicos e tantos outros que foram surgindo. E, para nossa alegria, meus pais também vieram de mudança para Tangará da Serra e começaram a participar da comunidade, também no ano de 1986. Mas, com o passar dos anos, saímos da sociedade do supermercado e montamos uma papelaria, que até então não havia na cidade. Estávamos casados há 10 anos e não tivemos filhos; assim, decidimos adotar uma criança. Num belo dia, recebemos a notícia de que nascera uma menina e seria nossa. Que felicidade preparar tudo para recebê-la! Mas na vida às vezes precisamos virar páginas. Estando ela conosco sete dias, o meu esposo veio a falecer num acidente de trânsito. E o sepultamento foi feito pelo P. Albérico Baeske, que trouxe palavras consoladoras e desafiadoras da parte de Deus criador e salvador.

Como vai ser agora? Como a vida vai continuar? O que fazer? Eu com a pequena Débora, frágil com apenas sete dias, e a papelaria para cuidar. Mas agradeço muito a Deus pelas pessoas que ele colocou no meu caminho para ajudar a cuidar da filha e poder administrar a papelaria. A comunidade cristã, neste momento, foi muito importante, sempre apoiando, consolando, dando colo e ombro para chorar e dar forças. Passado dois anos, consegui administrar a papelaria, cuidar da filha, sempre com o apoio dos meus pais e muitas pessoas queridas. E uma delas hoje é muito especial, é meu companheiro, meu amado Teobaldo. Ele era viúvo e trouxe junto o seu filho Mateus de 5 anos. Assim, formamos uma pequena família e tentamos construir juntos os laços quebrados. A bênção matrimonial foi celebrada dia 24 de setembro de 1989, na comunidade de Tangará da Serra, pelo pastor Gerd Uwe Kliewer.

O Teobaldo era pastor desta paróquia, e, assim, abraçamos a causa em conjunto. Consegui administrar bem esta nova etapa na vida. Esposa de pastor, com duas crianças, o trabalho, serviço da casa, tendo que conciliar isso com as atividades e a participação na igreja. Para nossa alegria, em agosto de 1990 nasceu a nossa filha Rute, que veio para se somar ao Mateus e à Débora. Hoje estão todos adultos, formados, casados, trabalhando e aumentando a família com nora, genros e três lindos netos (filhos da Débora) para a alegria dos avós. Em julho de 1993, nos mudamos para Cuiabá, onde assumimos a paróquia de Cuiabá. Isto foi um grande desafio: por ser a capital, nós com crianças pequenas, papelaria em Tangará da Serra. Mas, com a colaboração de uma diarista na casa, tudo funcionou. Quanto à participação na igreja e comunidade, sempre estive mais envolvida com a OASE. Isso há 33 anos, desde a estruturação do antigo Distrito Eclesiástico Mato Grosso, em que a OASE se organizou em três Setores (Centro-Sul, Norte e Leste). Fui coordenadora setorial da OASE do Setor Centro-Sul por dois mandatos, secretária e tesoureira, também. Fui coordenadora distrital por dois mandatos. Ainda fui secretária do antigo CNO (Conselho Nacional da OASE). Enfim, no Sínodo Mato Grosso, fui presidente sinodal da OASE por dois mandatos, estando presente na sua estruturação, também. Desde 2014 e até 2017, estou como secretária da OASE Sinodal. Participei de vários cursos de líderes de culto que eram oferecidos pelo Sínodo. Isso ajudava muito para celebrar os cultos na ausência de pastores e colaborar neles, mesmo com a presença de pastor ou pastora. Fui coordenadora estadual do Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos – CEBI, no Mato Grosso, por três anos. Foi uma experiência muito rica, onde aprendi a leitura popular da bíblia e a viver com a diversidade de religiões e culturas. Desde 2014 até 2017, estou como secretária da Associação Nacional da OASE. Em Cuiabá, estou presente no grupo da OASE e na comunidade, colaborando e auxiliando ali onde for preciso, o que é muito gratificante.

Tenho certeza de que nada do que sou, fiz, aprendi, ensinei e estou sendo seria possível se não fosse a graça de Deus agindo, atuando, perdoando, reconciliando, entusiasmando e fortalecendo a minha vida e a vida das pessoas que comigo conviveram e convivem.

Nesta caminhada conheci muitas pessoas. Com algumas convivi mais, com outras menos, mas todas foram e são importantes, pois aprendi muito com elas a dar valor às coisas mais simples do dia a dia, nesta família de Deus.

Agradeço ao Trino Deus por me dar a chance de poder sonhar em fazer parte de sua família, como diz João 1.12: “Contudo, aos que o receberam, aos que creram em seu nome, deu-lhes o direito de se tornarem filhos de Deus”, na graça da vida em comunhão.


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