Campanha Em comunhão com as viDas das mulheres


História de vida de Elenir Butzke Agner

11/02/2020

 

Nome: Elenir Butzke Agner

Tempo de Participação na IECLB: Desde O Batismo

Comunidade: Da Paz

Paróquia: Espigão Do Oeste – RO

Sinodo da Amazônia


Eu, Elenir Butzke Agner, tenho 58 anos, sou casada, mãe , avó e moro em Espigão do Oeste, Rondônia. Nasci num lar abençoado por Deus. Sou luterana de berço e descendente de Pomeranos. Sou a segunda filha mais velha de nove irmãos. Tive uma infância muito simples com dificuldades financeiras. Muito cedo comecei a trabalhar ajudando os pais na agricultura, pois morávamos no sitio.

Recordo minha infância com muito carinho e saudades. Recebi o grande presente de Deus – o santo Batismo, aos trinta e três dias de vida. Meus pais me presentearam mostrando e ensinando passos para a grande caminhada em direção ao reino de Deus. Eles foram exemplos de fé para os filhos.

Desde criança estive presente na minha comunidade, em Timbuva - ES, a comunidade mais distante na paróquia. Não entendia muita coisa, pois os cultos eram celebrados em alemão, mas gostava de estar lá. Em casa, a minha mãe foi a grande mestra. Ela ensinava cantando e contando histórias que sabia de cor, pois era analfabeta. Meus pais conversavam muito com os filhos sobre a vida passada, presente e o futuro. As nossas refeições eram em volta da mesa. Éramos 11 pessoas. À mesa, sempre orávamos em conjunto (orações decoradas).

Ingressei na escola primária aos seis anos de idade, menina tímida, só sabia falar a língua pomerana. Não foi fácil. Minha mãe aprendeu a ler junto com os filhos. Aos dez anos terminei o quarto ano primário e o lema era trabalhar na agricultura. Enxada, foice, arado, plantio e colheitas. No ensino confirmatório estudei os mandamentos em língua alemã. Quando aconteceu uma troca de pastor na paróquia, os cultos passaram a ser celebrados em português. Voltei a estudar os mandamentos e o catecismo menor em português. Também participava das programações natalinas

Aos 15 anos iniciei ajudando minha mãe no culto infantil. Fui me envolvendo mais e me apaixonando pelo trabalho na igreja. Participei de cursos de formação de lideranças, assumi culto infantil, ensino confirmatório. Quando acompanhei os confirmandos no retiro, o pastor Lírio Drescher me levou à prefeitura do município, assinou a documentação e no domingo me levou em casa e comunicou aos meus pais que eu seria a professora da escola pública que ficava ao lado da igreja. Após uma longa conversa, meu pai concordou. Foi assim que, através da participação na comunidade ingressei na profissão de professora. 

Eu tinha 17 anos e somente o quarto ano primário quando comecei a ensinar. Sala multiseriada, merenda, faxina, tudo por conta do professor. .No início foi muito difícil, mas eu estava gostando. Logo fiz cursos de formação e no mesmo ano iniciei o magistério modular.

Na comunidade, cada vez me envolvia mais no trabalho com Jovens, no presbitério, como líder de estudos em setores... A comunidade estava em movimento com vários grupos, lideranças e ministro atuando na grande seara do Senhor.

Tempo da juventude. Que maravilha. Aos vinte e dois anos de idade me casei, momentos lindos vivenciados. Continuei na mesma comunidade. No ano seguinte veio uma benção muito especial, nasceu o nosso filho. Quanta alegria! Quanto carinho, dedicação, amor, cuidado, mas também mais responsabilidades e compromissos. Conciliar o papel de mãe, esposa, dona de casa, professora, liderança na comunidade precisava de muito equilíbrio, paciência, sabedoria, amor, força de vontade, ânimo, persistência, coragem. Eu tentava colocar em prática o exemplo de vida da família em que me criei. Encontrei dificuldades pela rotina do dia a dia, na forma diferente da educação. Muitas tentativas de ajustes.

Em setembro de 1986, aos vinte e seis anos de idade, com a motivação do governo no país a fora, fomos morar em Rondônia, no interior de Espigão do Oeste. Fomos à busca de terra para plantar e colher, pois meu esposo era agricultor.

Na grande e vasta criação de DEUS, muita mata, muita fartura, tudo muito bom. Mas na nova terra não se refletia sobre a destruição da criação de DEUS. Na comunidade, com sua igrejinha de pau a pique, existia muita união, comunhão, amor ao próximo. Mesmo com sete quilômetros de distância para chegar à igreja, me envolvi na liderança, pois lá havia sede e fome de ouvir, conhecer, e vivenciar a palavra anunciada.

Em fevereiro de 1987, consegui trabalho na escola que ficava no sítio onde morávamos. Mas também tinha muitas dificuldades. Estradas e acessos interrompidos pelas intensas chuvas. Tínhamos duas estações do ano. Estação da chuva seis meses e estação da seca seis meses. Isto também influenciava tno trabalho do dia a dia como, ir até a cidade que ficava a 30 km do sítio, para participar de reuniões pedagógicas. Muitas vezes fui sentada em cima de toras de árvores gigantescas, nos caminhões toreiros, pois outro transporte não havia.

Quando os caminhões atolavam nos barreiros, os motoristas saiam em busca de trator para puxá-lo. 

Na cidade, eu era acolhida por pessoas amigas, as quais sou muito grata. E sou grata a Deus por isso. Em meio a grandes dificuldades, o povo era solidário, unido, muito feliz, existia grande harmonia, humanidade. Menos com a natureza. Sempre acreditei em mudanças e mais justiça através de diálogo, reflexões, conscientização, estudos, mesmo em meio a grandes dificuldades que passei nesta fase da vida: tarefas e compromissos a cumprir, dificuldade financeira, esposo dependente alcoólico. Fase dolorosa! Mas a esperança era vencer. Colocava nas mãos de Deus as preocupações, dificuldades, os problemas, e buscava forças em Deus, na comunidade, no meu trabalho.

Nesta fase surgiu o grupo de mulheres na comunidade Novo Alvorecer que, para mim, foi um grande apoio e da mesma forma para muitas mulheres. No início era tudo muito simples. Cantávamos muito, fazíamos devoções, geralmente do Castelo Forte, orávamos e conversávamos muito, tanto sobre as alegrias como sobre as dificuldades. A maioria dos encontros eu coordenava. Lá, diante de Deus e de mulheres amigas deixávamos cargas de dor, angústia, de sofrimentos, e retornávamos para casa com novas forças, mais leves, e renovadas para lutar por justiça e paz com mais amor e fé.

Passei por momentos de tomar decisões nada fáceis. O filho precisava continuar os estudos na cidade. O que fazer? Consegui o que sempre sonhei: Ter uma turma de alunos só de alfabetização numa escola onde tinha uma equipe de trabalho. Cada qual na sua área. Eu estava feliz com o trabalho só alegria, o filho na escola, e o esposo empregado como ajudante de pedreiro. Compramos um pequeno terreno e fizemos a nossa casa bem próxima à igreja. Acolhi muitas pessoas que moravam no sítio, acompanhei muitas em hospitais, dei o primeiro banho em vários bebês e acompanhei as mães nos cuidados necessários.

Estava muito feliz. Envolvi-me nas atividades da comunidade. Sempre que tive oportunidade participei de cursos de formação: Culto Infantil, mulheres, música, estudos, continuei meu trabalho como alfabetizadora com grande alegria. Surgiu a oportunidade de fazer Pedagogia nas férias, em plenos quarenta anos de idade. O pique dobrou. Sempre atuava com amor e alegria, recebendo de Deus sabedoria, paciência e forças.

Recebemos o convite de sermos os zeladores da igreja, área da comunidade e paróquia. Foram oito anos de maior envolvimento na comunidade. Eu cuidava mais da área de ornamentação e meu esposo fazia a limpeza, jardinagem e reparos na estrutura. Muitas vezes, sentia dificuldade enorme na conciliação do meu trabalho, meu envolvimento na comunidade e meus estudos, pois estava sobrecarregada. Não conseguia mais descansar. 

O filho nesta época teve a oportunidade de participar de um intercâmbio de estudantes na Alemanha. Fiquei feliz, mas sentia falta dele e por algumas razões de coisas que aconteceram com ele, a preocupação só aumentava. Fiquei doente, caí na depressão. Não tinha forças para lutar. Os dias eram longos, tinha muito, muito sono. Sofri muito e outras pessoas sofreram junto. Agradeço ao bondoso Deus pelo cuidado, zelo e cura. E pelas pessoas especiais que me acompanharam. Em especial a pastora que morava bem próximo e que todos os dias vinha me ver, conversar, orar, me ajudou na superação.

Obrigada pastora Elke. Venci a doença, a faculdade, fiz pós-graduação em psicopedagogia. Voltei a morar na minha casa. Como alfabetizadora pude contribuir melhor. Trabalhei trinta e cinco anos na educação, me sinto realizada.

O filho se casou, veio um neto que trouxe muitas alegrias e bênçãos . Na comunidade continuei envolvida na participação de formação pois conhecimentos e atualizações são necessárias. As mudanças diárias na sociedade também nos atingem. Nas atividades de liderança continuei atuando: Coral, crianças, mulheres, contribuo na Educação Cristã Contínua, represento grupos em reuniões, seminários, assembleias em nível de comunidade, paróquia, sínodo, e nacional. Tive muitos momentos maravilhosos vivenciados por estar envolvida nos trabalhos da igreja.

Atualmente estou na função da coordenação da OASE e dos grupos de mulheres em nível sinodal e de comunidade. Venho acompanhando e fazendo parte da história da igreja neste sínodo da Amazônia desde os anos 80. Muitas bênçãos, muitas dificuldades nos acompanham. Deus, em sua infinita bondade e misericórdia, sempre me acompanhou e cuidou, presenteou-me com muitos Dons .

Gosto muito de trabalhos artesanais, com o qual me ocupo também. Continuo dona de casa, esposa, canto no coral... Sou muito grata a Deus. Gosto do que faço e faço com e por AMOR. Muitas vezes, vou à igreja com os ombros pesados, cansada e retorno para o lar, mais aliviada e tranquila. Na unidade das pessoas cristãs, servir e testemunhar Jesus Cristo como nosso Salvador na vida em comunhão, nos conduz em alegria e Paz.

GRATIDÃO


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Quem quiser ser cristão, que aprenda a abrir mão de toda preocupação e de todo pensamento angustioso e coloque-os nas costas de Deus, pois Ele tem ombros fortes e é bem capaz de carregá-los.
Martim Lutero
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Portanto, a fé é assim: se não vier acompanhada de ações, é coisa morta.
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