Acolhida
Hoje no último domingo do ano da igreja, atualmente chamado de Cristo Rei, celebramos a Cristo sobre tudo e sobre todos. Mas também, neste último dia do ano eclesial, olhamos para trás e relembramos o que aconteceu, especialmente os falecimentos ocorridos, e renovamos a nossa fé com esperança num futuro melhor.
Como diz em Apocalipse: “Àquele que está sentado no trono, e ao Cordeiro, seja o louvor, e a honra, e a glória, e o domínio pelos séculos dos séculos”. Por isso, aguardamos com esperança.
Pregação baseada em Efésios 1.15-23
Ao nascer chegamos a este mundo. Um mundo quebrado, cheio de relações estilhaçadas. Nossa relação com a criação de Deus está rompida. A terra, a água e o ar estão poluídos. Há doença e morte onde quer que olharmos. Temos um longo historial de problemas com o cuidado com a criação divina.
As relações estão quebradas também entre as pessoas. O bebê perde o seu vínculo com a mãe, aquilo que os psicanalistas chamam de “entrar na falta”. Pouco a pouco, as crianças pequenas aprendem a separar-se da família, dos amigos, daqueles que cuidam delas. Na escola, os professores vão trocando, assim como as amizades. Quando adolescentes, veem como tudo muda rapidamente, o seu corpo não é mais o mesmo, as relações com as pessoas não são iguais. Não é à toa que jovens anseiam ser aceitos por seus colegas e temem ser deixados de fora de seu grupo social. Este início e fim de relacionamentos continua através dos anos, e não para porque depois continua com diversos empregos, moradias, relacionamentos amorosos. Tudo vai sendo modificado. Relações duradouras são perdidas, pode chegar o divórcio ou a troca de cidade. Tanta coisa acontece na nossa existência. A cada ano que passa, nossa vida muda, novas relações são criadas e ao mesmo tempo quebradas.
Tudo parece passageiro. Por mais que nós queiramos, não podemos modificar isso. Em alguns casos, podemos desacelerar o processo, mas, nunca pará-lo. Como me dizia um homem centenário: o pior não é estar vivo, o ruim é perder tanta gente conhecida. A gente pode ter de tudo, casa, carro, dinheiro, mas os amigos, os amores, não tem como segurar.
Esse sentimento de abandono não é uma experiencia única daquele senhor. Jesus também se sentiu abandonado. Abandonado pelo Pai, justo quando mais precisava dele. Na cruz, Jesus sofreu. A morte o separou daqueles que eram seus amigos, seus entes queridos. A morte fez com que Jesus fosse colocado sobre uma laje fria. Uma vida foi encurtada, assim como tantas pessoas têm a sua vida encurtada pela doença, pela violência, pelos sofrimentos que não mereciam. Parecia ter chegado ao fim.
Mas, como o texto bíblico de hoje nos fala: um poder foi exercido sobre Jesus. Ele se levanta do sono da morte. Não importa que poderes ou forças fizeram com que Jesus morresse. Jesus é maior, é mais poderoso. Jesus está em completo controle. Há poderes espirituais malignos em ação, mas Jesus é mais forte.
Esse poder não é exercido somente sobre Jesus. Esse poder é exercido sobre todas aquelas pessoas que foram batizadas. O Espírito de Deus ama você e age em sua vida e é mais poderoso do que qualquer outra pessoa ou poder que jamais enfrentará. Esse mesmo poder está em ação nos corpos das pessoas cristãs, incluindo aquelas que levamos ao cemitério. Nem mesmo a morte pode nos separar do amor de Deus.
Neste mundo onde tudo se quebra, a presença de Deus se mantém. No batismo, fomos incluídos numa relação duradoura com Deus. Fomos acolhidos para sempre na Igreja, a família de Deus. Aqui, nós experimentamos o profundo e divino amor. Em Jesus, somos mais amados do que qualquer um jamais poderia ser aceito ou amado. Através de Jesus, entramos numa relação que cresce e se aprofunda. Jesus nunca nos deixará de lado ou nos abandonará. Mesmo quando devamos enfrentar o pior dos rompimentos, quando chegar a nossa morte, Deus sempre está conosco. Amém.
Credo
Aqui ao lado da pia batismal, lembramos de todas aquelas pessoas que deixaram saudade, aquelas que faleceram neste ano que passou, mas também em anos anteriores, aquelas que sofreram pela Covid-19, mas também todas aquelas que padeceram por outras doenças. A morte nos cerca, parece que vence. Mas, nós acreditamos num Deus que está por sobre a dor, o sofrimento e a morte. Por isso, lembremos as palavras que foram usadas em nosso batismo quando fomos unidos a Cristo, ele que venceu a morte e agora reina sobre tudo e sobre todos: Creio em Deus Pai...