Deus age na história e vai ao encontro da humanidade. Deus se revela, ouvindo o clamor do seu povo e o acompanha no processo de sua libertação. Deus se revela em Jesus, seu Filho e proclama a boa notícia do seu amor e de sua misericórdia.
Esta revelação torna-se Palavra viva – a confissão de fé do povo que encontra sentido para a sua vida, força e apoio em sua caminhada. Esta Palavra passa primeiramente de geração em geração pelo testemunho oral de homens e mulheres. Durante séculos é gradativamente reproduzida em textos manuscritos que vão compor as assim denominadas Escrituras.
O acesso às Escrituras, a sua veiculação e a sua transmissão ficaram restritas a minorias durante muito tempo. A Palavra chegava às pessoas em meio a inúmeras adversidades. Mesmo assim a grande compilação de confissões de fé – a Bíblia – continuou a animar gerações e gerações.
Por vezes, a boa notícia da ação graciosa de Deus para com a humanidade ficou ocultada. E a Reforma, protagonizada por Martim Lutero, colocou novamente a Palavra, revelada nas Escrituras, no centro da vida de fé da Igreja. Para que ela novamente pudesse chegar ao coração das pessoas, ela carecia de compreensão e acessibilidade. A sua tradução para a língua do povo, o incentivo à educação (alfabetização) e a sua impressão foram fundamentais na difusão do movimento da Reforma.
O desenvolvimento da imprensa com tipos móveis (Gutenberg) possibilitou a divulgação de textos que apresentavam os aspectos centrais da redescoberta da Reforma. Livretos, panfletos e, sobretudo, a tradução para alemão da Bíblia, se espalharam numa velocidade inigualável. Tornaram-se verdadeiros best sellers ao ponto de um terço de todas as publicações do século XVI terem a autoria de Lutero.
A Reforma foi um sucesso em termos de comunicação. Ela fez uso em sua época do que havia de mais atual na área. Todas as disputas, polarizações e oposições tiveram ampla repercussão por causa da imprensa. 500 anos depois, em plena era da internet, surge a pergunta: Como lidamos com os atuais meios de comunicação? Conseguimos veicular a boa notícia do Evangelho por meio das novas mídias colocadas a nossa disposição? Em meio às milhares de informações não seria a verdade evangélica apenas mais uma verdade em meio às demais? Ou a maciça difusão de mensagens não estaria contribuindo para uma total relativização ao ponto de cada pessoa poder estabelecer a sua verdade e “estamos conversados”?
A experiência tem mostrado que a mensagem chega aos corações das pessoas por meios diversos. Sabemos que Deus age pelo seu Espírito e desperta, por meio de sua Palavra, a fé que transforma a vida e a realidade. O importante é que a Palavra seja comunicada. E aí carecemos de discernimento e sabedoria na escolha do meio adequado para cada contexto e para cada situação. Que Deus conceda inteligência e sabedoria neste empreendimento!
Rolf Schünemann, pastor da IECLB e coordenador da gestão eclesial do Portal Luteranos