Katharina nasceu, provavelmente entre 1497 e 1498, em Estrasburgo (França), como filha de Elisabeth Gerster e Jakob Schütz, mestre carpinteiro que fazia parte do Conselho da cidade. Katharina aprendeu a ler e a escrever quando ainda não havia escolas públicas organizadas, mas em casas-escola, onde professores ministravam aulas para meninas e meninos. Começou muito jovem a ler a Bíblia e tinha muitas perguntas que envolviam a vida religiosa, embora a prática da leitura da Bíblia não era apoiada pela hierarquia eclesiástica da época. Ela não viveu no convento, algo que era comum na vida de muitas mulheres.
O primeiro grande ato de rebelião contra a sociedade do seu tempo foi casar-se com um homem do clero, o sacerdote Matthäus Zell, no dia 3 ou 4 de dezembro de 1523. O casamento de clérigos foi algo central no movimento da Reforma Protestante, pois questionava a separação do sagrado e do profano e a estrutura hierárquica e clerical da Igreja.
Com o casamento, Matthäus Zell foi excomungado da Igreja Católica, assim como os outros clérigos que haviam se casado. Katharina tomou a iniciativa e corajosamente, escreveu uma carta ao Bispo defendendo seu esposo e o casamento dos clérigos. Ela intitulou a sua carta: “Desculpas de KatharinaSchütz, para Matthäus Zell, seu marido, pastor e servidor da Palavra de Deus em Estrasburgo, devido às grandes mentiras que recaem sobre ele”. A carta demonstra o grande conhecimento bíblico de sua autora.
Katharina foi mãe de duas crianças, que morreram pequenas, causando muita dor ao casal. Katharina engajou-se socialmente e escreveu muitos textos. A dor da morte de seus filhos influenciou os seus escritos.
Havia também neste período histórico muita perseguição aos adeptos da Reforma, o casal deu refúgio a muitos deles. A casa do casal tornou-se uma casa-abrigo e de diálogo ecumênico em relação ao movimento da Reforma. Pode-se dizer que desta forma surgiu a casa pastoral, uma casa de acolhida para os fugitivos devido a perseguição da Igreja de Roma. Além da diaconia solidária exercida pelo casal, Katharina também agiu como conselheira, fortalecendo as mulheres que devido às perseguições aos maridos, necessitaram ficar sozinhas e com a responsabilidade do cuidado das crianças. Ela recebeu em sua casa os reformadores Ulrico Zwinglio de Zurique e João Oekolampad de Basileia e também trocou correspondência com vários deles, inclusive com Lutero, e até visitou-o, com o seu esposo, em Wittenberg. O seu marido a tratava como ministra/pastora assistente. O que era muito avançado para a época. Ele nunca a barrou em seus escritos e na sua atuação. Havia entre os dois uma cumplicidade na ação em favor da Reforma Protestante.
Em 1534, ela editou um hinário, apontando para a importância da música e da oração na vida cotidiana. Ela também reescreveu os Salmos 51 e 130 juntamente com o Pai-Nosso como carta de consolo, numa perspectiva inclusiva no falar sobre Deus. Ela pregou em público três vezes, a primeira em janeiro de 1548, quando faleceu o seu marido. As outras duas vezes ela pregou na hora do sepultamento de duas mulheres, adeptas do pregador Schwenckfeld. Os pastores não realizaram o enterro, pois consideravam os/as seguidores/as de Schwenckfeld, heréticos, pois em seu entender, os mesmos haviam se separado da Igreja Cristã. Katharina entendia que a pessoa cristã necessita exercitar o amor diariamente.
Katharina defendeu a diversidade do movimento da Reforma, opondo-se a radicalismos e exclusivismos. Ela faleceu no dia 5 de setembro de 1562. Foi uma mulher avançada em seu tempo, lutadora pela igualdade de homens e mulheres no serviço da igreja e pela divulgação pública do evangelho em Palavra e Ação. Ela é considerada a primeira pregadora do movimento da Reforma Protestante, teóloga, mãe na fé, defensora dos princípios protestantes.
Texto publicado no jornal O Semeador - Ano 36 - nº 101 - Junho de 2016