200 Anos de Presença Luterana no Brasil



ID: 3277

Johannes Edward Schlupp - Pastor - Professor

Memória Religiosa - História de Vida

01/04/1987

P: - É um prazer tê-lo conosco e assim matarmos as saudades. A importância de sua permanência em Nova Friburgo é muito grande. O período em que o Sr. atuou em nossa comunidade foi longo e decisivo. Assim gostaríamos de saber sobre sua vida, sua participação comunitária e sua atuação no campo religioso.

R: - Nasci em 19 de abril de 1911. Meu pai era também Pastor Evangélico. Sua atuação foi sempre na Europa. Os países geralmente de pequenas dimensões, possuem fronteiras mais flexíveis do que se observa na América do Sul. Acredito que as sucessivas guerras tenham muito a haver com essa postura.
Minha formação inicial foi feita no Seminário Pedagógico da Silésia.Posteriormente, estudei Teologia também na Alemanha, inicialmente em Stettin e depois em Ilsenburg.
Fui colocado à disposição do Departamento Exterior da Igreja Evangélica da Alemanha depois de minha formatura. Esse departamento cuidava da assistência às diversas comunidades - diásporas.
Diáspora significa uma dispersão de pequenas comunidades, principalmente no leste europeu, isto antes da atuação comunista. Havia também comunidades na América do Sul, em vários países como o Brasil, Argentina, Chile e Uruguai. No México também há comunidades esparsas.
Havia grande falta de pastores evangélicos na época, o que tornava difícil atender às necessidades. Ao terminar meus estudos, fiz um ano de estágio, ainda naAle manha, findo o qual, fui solicitado a assumir efetivamente o trabalho evangélico aqui no Brasil.
Comecei a estudar espanhol já que considerava mais fácil que o português, inclusive mais melodioso ...
Como porém meu professor adoeceu, comecei a estudar a língua portuguesa e foi isso que me aproximou definitivamente do Brasil. Acredito na Providência Divina e acho que meu caminho foi traçado por Deus, numa direção diferente do que eu havia planejado. Chegando ao Brasil, meu primeiro trabalho foi em Petrópolis, aqui mesmo no Estado do Rio, onde cheguei a 29 de novembro de 1933, há mais de meio século.
Trabalhei como pastor auxiliar, já que eu não tinha idade canônica para ser ordenado.

P: - Todo esse trabalho foi feito em Petrópolis?

R: - Sim, foi feito em Petrópolis onde fiquei até fins de 1936. Lá conheci Brigite e ficamos noivos. Cheguei a Nova Friburgo em 12 de fevereiro de 1937, e é interessante notar que mais uma vez o acaso funcionou em minha vida como a vontade de Deus, decidindo por mim.
Inicialmente meu destino era o Espírito Santo, depois substituído por Teófilo Otoni.
Não me foi possível aceitar este cargo, já que na época, não estava passando bem de saúde; meu irmão foi para lá e sua ambientação foi excelente, radicando-se nessa comunidade.
Meu destino passou a ser Juiz de Fora, para onde também não fui. A comunidade luterana de Nova Friburgo, apresentava alguns problemas internos e me foi proposto tentar um apaziguamento.

P:- ...e que tipo de desentendimento era esse, Sr. Pastor?

R:- Razões políticas influenciaram nesses desentendimentos. A Alemanha passava por grandes transformações. O entusiasmo tomava conta de todos. As Olimpíadas de 1936 constituíram-se num sucesso e a Alemanha empolgou o mundo inteiro.
Havia maior reserva em relação ao nazismo e seu crescimento, embora não se pudesse negar que o nacionalismo alemão conseguiu tirar o país da miséria social em que se encontrava. Em 1933, mais de um terço de todos os trabalhadores estavam desempregados, gerando uma miséria incrível a níveis nunca anteriormente alcançados. Um regime que propusesse o bem-estar geral, tivesse ideias interessantes, e tirasse a Alemanha da crise, só poderia ter sucesso. Daí o prestígio alcançado por Hitler, não é verdade? Entretanto a infiltração de pessoas com ideias absurdas, principalmente de racismo e outras, levaram o partido a entrar em conflito com vários setores inclusive com as Igrejas. Primeiro foi a Igreja Luterana, depois a Igreja Católica; o reflexo disso chegou aqui também, junto aos evangélicos e alemães, isto em todo o Brasil.

P:- Houve realmente uma cisão em Nova Friburgo?

R:- Houve sim, uma cisão em Nova Friburgo. Existia naquela época uma Sociedade chamada Deutscher Schul-und Kirchenverein - Sociedade Alemã da Escola e Culto. Com a cisão surgiu outra Sociedade de influência nazista, levando ao ponto das pessoas ligadas à Igreja também se dividiram e nem se cumprimentarem. Também os líderes industriais estavam divididos. De um lado estavam as Fábricas Arp e Filo com o velho conselheiro Arp e Siems e Gaiser. Do outro lado estava a Fábrica Ypú apoiando a Sociedade Alemã recém-formada.
A primeira Sociedade Deutscher Schul-und Kirchenverein preferiu abandonar o nome alemão e passou a se chamar Sociedade Esportiva. Esta era a situação quando fui mandado para cá. Diversas pessoas já haviam tentado o apaziguamento, mas não conseguiram. De algum modo consegui superar essa briga, essa cisão e juntar novamente, pacificar e aí o velho Conselheiro Arp me pediu para ficar e garantir a paz conseguida.

P:- Então a sua atuação foi decisiva?

R: - Sim foi. Minha presença estava prevista para oito semanas e na realidade fiquei quarenta e quatro anos.

P:- O Sr. já era casado quando veio para Friburgo?

R;- Não, casamos aqui; acho que o Juiz de Paz era um Braune, não sei bem...

P:- Tiveram dois filhos?

R:- É, tivemos dois filhos.
Voltando à situação encontrada, continuemos: Havia duas escolas.Cada uma das Sociedades tinha uma escola. Eu havia conseguido unir as duas escolas, que funcionavam: uma na Av. Rui Barbosa, 33 e a outra funcionava aqui em baixo...

P:- Na Ponte da Saudade?

R:- Antes da Ponte da Saudade. Chamava-se Conselheiro Sinimbu... Na mesma ocasião foi construída a Sociedade Esportiva, a Sociedade 21 que recebeu esse nome por ter sido fundada em 1921; de pois mudou algumas vezes de nome e sua construção teve um papel decisivo e claro.

P:- Eles ficaram algum tempo no prédio da LBA...

R:- Não,quem foi para lá foi a outra Sociedade, chamada Sociedade Alemã que ficou na Rua General Câmara, onde depois o prédio foi desapropriado durante a guerra. (LBA)

P:- Quer dizer então que a Sociedade Alemã não apoiava o nazismo?

R:- Não, essa é que apoiava, a outra tinha suas reservas contra o nazismo.

P:- Então o Sr. conseguiu conciliar?

R:- Eu consegui uma pacificação e fazer um acordo de amizade entre as duas Sociedades. Achei que aqui no Brasil devíamos ficar afas¬tados da política interna da Alemanha* O que nos unia aqui era a cultura, a tradição e principalmente a igreja. Devíamos deixar de lado todas as divergências políticas para unirmo-nos ao ideal da igreja evangélica. De nossa comunidade alemã também faziam parte os católicos alemães que se encontravam na união da língua e da tradição, num laço mais forte até que a religião talvez ...

P:- Sr. Pastor, o Senhor poderia nos contar um pouco da história da Igreja Evangélica Luterana em Nova Friburgo e mesmo no Brasil?

R: - O caso foi o seguinte. Como sabemos, a religião oficial do Brasil era a Católica. As leis proibiam que pessoas cultuassem outra religião e tivessem aqui propriedades.
A primeira colonização oficial foi de suíços na época de D. João VI. Mas, grande parte deles saíram daqui, indo para outros lugares, procurando melhores terras. Depois D. Pedro I, contratou um grupo de alemães, mais de trezentos - ao que consta. Eles chegaram no Brasil em fins de 1923, assim como um pastor evangélico contratado para dar assistência ao grupo. Chamava-se Pastor Friedrich Oswald Sauerbronn.
Aconteceu, porém, que não era permitido como já disse, pelas leis brasileiras da época, a liberdade para cultos que não o católico. José Bonifácio e, D. Pedro insistiram para que na nova constituição a promulgar fossem dados certos direitos e permissões para os protestantes.
Quem estuda a História do Brasil sabe que houve resistência, daí que D. Pedro outorgou a tal carta contratando o grupo de alemães. Isto foi em abril de 1824 e logo em seguida ele encaminharia essas três centenas de pessoas que se achavam na Armação em Niterói, para Nova Friburgo, onde chegaram a 3 de maio de 1824. Tal data representa para nós o início das atividades da Igreja Evangélica na América do Sul e o começo da imigração organizada alemã no Brasil.
Abre-se uma nova fase na economia brasileira. Prevalecia o sistema de grandes fazendas, que trabalhavam com escravos. Os imigrantes começaram o sistema de pequenas propriedades rurais. A primeira leva chegou em maio a Friburgo e a segunda em 25 de julho do mesmo ano, sendo encaminhada para o Rio Grande do Sul. Voltando à história, 10 dias depois da chegada aqui dos referidos alemães, morreu o filho do Pastor Sauerbronn que havia nascido na vinda, em alto mar. A mãe morrera no parto e foi lançada ao mar perto de Cabo Verde.
As leis não permitiam que o bebê fosse enterrado no cemitério local. O Vigário Jacob Joye não permitindo tal enterro, prestou um serviço, pois acedeu que a criança fosse sepultada no morro do atual Sanatório Naval. Aquele morro passou então a ser o Cemitério protestante. ... Chegamos a inaugurar uma pedra comemorativa com uma placa na subida para o cemitério com a presença do Bispo D. Clemente Isnard, para relembrar o começo de tudo. Quando chegaram os protestantes começaram a construir uma Igreja onde hoje é a Praça Paissandu, digo Marcílio Dias.

P:- É, hoje chama-se Marcílio Dias.

R:- Mas antes era Paissandu e antes era Conselheiro Julius Arp e antes ... Antes era Praça do Pelourinho, depois Vilage de Cima. Isto, Praça do Pelourinho.
Inicialmente, os protestantes não foram bem vistos aqui.Veja, ao Pastor deram um lote de residência lá em Rio Bonito, oito horas a cavalo distante de Friburgo, o que tornava muito difícil dar uma assistência religiosa permanente.
Construiu-se então uma pequena capela aqui na Vilage de Cima. Mas as autoridades conseguiram demoli-la dizendo que o pequeno prédio não tinha a segurança necessária. A primeira igreja data mesmo de 1856, também na atual Praça Marcílio Dias. Este prédio, eu ainda encontrei quando aqui cheguei, e era construído em pau-a-pique.
As chuvas fizeram ceder as paredes.
É interessante saber que na época da construção, era proibido dar o aspecto de Igreja a templos protestantes. Não podia haver torres, sinos e nem janelas. A aparência tinha de ser de uma casa simples e residencial. O Pastor Sauerbronn ficou aqui 40 anos.

P:- E teve dificuldades incríveis, não é, Sr. Pastor?

R:- Inicialmente dificuldades incríveis, começando por morar muito longe, ele foi contratado por D. Pedro, mas seu ordenado não foi pago. Em nosso arquivo, temos cartas e apelos impressionantes, quando ele implorava a D. Pedro que mandasse pagar o devido. Houve uma diferença. A colônia suíça que também teve que lutar com dificuldades, conseguiu organizar a fundação de uma Sociedade Filantrópica Suíça no Rio que ajudava a comunidade.

P: - No Rio de Janeiro?

R: - No Rio de Janeiro, mas ajudando os suíços em Nova Friburgo. Os alemães não tinham nenhuma ajuda. Entretanto, eles vieram com recursos próprios,o que facilitava tudo. O prometido pelas autoridades, não foi cumprido. Eles ficaram quase um ano acampados no Paissandu ou melhor ali na afluência dos rios; já que os lotes prometidos não tinham sido entregues. Os dois rios são Cônego e Santo .António. É no lugar em que se colocou um granito com uma placa, acho que foi roubada há poucos anos.
Voltando à vinda, os recursos próprios foram sendo gastos e a situação foi piorando.
Acho porém que a força de vontade e a união deles, fizeram vencer as dificuldades iniciais e aos poucos muitos foram chegando a um certo bem estar produzindo o suficiente para viver. Muitos envelheciam, não tinham vindo novos e aos poucos foi aumentando o cemitério ...
Da Suíça, veio o Pastor Johann Gaspar Meyer para o Colégio Freeze para dar aula de alemão. Na mesma época, Sauerbronn o convidou para ajudar na comunidade alemã e foi então eleito Pastor, isto já em meados de 1864; sua função maior era assumir a paróquia, responsabilizando-se pela mesma. Ele ficou 42 anos como Pastor em
Nova Friburgo. Da época dele, foi construído um templo em S. José do Ribeirão,
que permaneço até hoje, já em poder dos Presbiterianos há mais de 30 anos.
Na guerra de 1870/1871- época napoleônica, os suíços se entusiasmaram com Napoleão III enquanto os alemães apoiavam a Prússia. Amparo já tinha grande número de alemães, que se desligaram da comunidade luterana devido à luta na Europa. Como exemplo, temos as
famílias Gripp, Frossard e outras como Schumaker, Klein; muitos aderiram depois ao espiritismo, e a origem disso é justamente o desentendimento com o Pastor Meyer, que sendo suíço, apoiava a política napoleônica.
O Pastor Meyer, passou a usar nos cultos da igreja na cidade a língua portuguesa e nos cultos das áreas rurais ele continuava a falar alemão.

P:- Sr. Pastor, então esse grupo em Amparo que se desligou da Igreja Luterana, não assimilou outro credo protestante?

R:- Inicialmente, eles ficaram sem atendimento.

P:- E assim ficou mais fácil adotar o espiritismo?

R:- Exatamente.O espiritismo pôde entrar na comunidade de Amparo e com facilidade.
Voltando ainda ao Pastor Meyer, ele atingiu uma idade avançada e teve uma vida muito difícil. O atendimento religioso se tornava bastante problemático, pois as distâncias eram vencidas a cavalo, único meio de transporte.
Eu mesmo, sei o que sofri indo a S. José, levando 4 horas para lá e outras 4 horas para cá, tudo a cavalo. Apareceu então um missionário presbiteriano, Kyle, e o Pastor Meyer apoiou a atuação do missionário, inclusive permitiu que os presbiterianos realizassem os seus cultos em nosso templo na Praça Paissandu.
Este relacionamento foi o início de outras Igrejas Evangélicas.
Uma outra preocupação do Pastor Meyer era que seu filho Alberto estudasse teologia, e assim,depois assumisse a comunidade.
Os presbiterianos começaram aqui com a formação do Seminário Presbiteriano.

P:- O Sr. sabe mais ou menos a época em que os presbiterianos fizeram os cultos na Igreja Luterana?

R:- Os presbiterianos devem conhecer melhor que eu, a história do Pastor Kyle; o Seminário Presbiteriano foi depois transferido para Campinas e o filho do Pastor Meyer não prosseguiu seus estudos, continuando porém a dar assistência aos luteranos daqui. Para tentar solucionar tal situação, foi convidado o Pastor Friedrich Ludwig Hoepffner do Rio de Janeiro, a vir a Friburgo. Isto realmente ocorreu, mantendo-se cultos, batismos e casamen¬tos, embora tais visitas só tenham podido ocorrer algumas vezes por ano.
É interessante notar que quando eu cheguei a Nova Friburgo em 01 de fevereiro de 1937, me foi dito em tom de brincadeira que eu deveria ficar aqui no mínimo 40 anos. Justificaram dizendo, que o primeiro pastor ficara 40 anos, o segundo ficara 42 anos, então eu deveria ficar o mesmo tempo.
Parecia tão impossível tal fato que houve uma gargalhada geral, mas eu consegui ficar 43 anos em Nova Friburgo.

P:- Há uma coincidência, pois também na Igreja Católica,os padres e vigários permaneceram aqui muito tempo. Monsenhor Miranda, Monsenhor José Teixeira, não é?

R:- Padre José ... O Monsenhor Teixeira ele começou parece-me, ano antes de mim e ficou. até morrer.

P:- Era uma tónica não é mesmo? Antes do padre José, Monsenhor Miranda, ficou 40 e poucos anos...

R:- É isso mesmo. Fomos bons amigos, Padre José e eu. Também nos relacionamos bem com a Igreja Presbiteriana que se expandira e nos ajudara quando não tínhamos pastor, como já contei.
Houve até um fato desagradável que vou contar. Os presbiterianos se reuniam em nosso templo aos domingos. O pastor da nossa igreja só vinha algumas vezes por ano, parecia que o imóvel era deles.
Quando resolveram construir o templo na Alberto Braune, queriam vender o prédio anterior.
Foi feito um processo pleiteando a posse do imóvel. Apesar da época ser de guerra, a I Guerra Mundial e o Brasil estar ao lado dos aliados e contra a Alemanha, nós tivemos ganho de causa , e permanecemos com o templo.
Mais tarde, quando construímos o outro templo na Av. Galdino do Valle, inaugurado em junho de 1952, mudamos definitivamente. Creio que esses são os dados essenciais ao estudo da história de nossa comunidade.
.Agora, as outras igrejas evangélicas.
- Os presbiterianos passaram para a Av.Alberto Braune e tiveram um trabalho muito abençoado. Assumiram inclusive também em parte, o prosseguimento dos diversos pontos de pregação de nossa igreja em S. José do Ribeirão, onde se estabeleceram em nosso templo. O outro foi construído pertinho de Amparo, onde duas famílias Heckert e Schuwenck ajudaram à construção daquele templo. Eu mesmo quando cheguei, ia lá uma vez por mês. Sempre tivemos um bom entendimento com as outras Igrejas Evangélicas.
Os presbiterianos têm hoje em dia diversas outras igrejas na redondeza; em Olaria, Cônego, Amparo, São José do Ribeirão e outros lugares.
Depois vieram para Friburgo, a Igreja Batista, assim como a Igreja Metodista.
É interessante saber que a Igreja Metodista veio para cá estando eu aqui. Começaram com oito pessoas e nós colocamos à disposição deles o nosso templo.
Eles realizavam seus cultos em nosso templo, até que puderam alugar um local e depois fizeram uma pequena casa de oração ali na Avenida. Quando nós construímos o nosso segundo templo, vendemos o antigo para os próprios metodistas. Já bem recentemente demoliram a construção e fizemos outra.

P:- Havia, digamos uma disputa entre católicos e presbiterianos?

R:- Sim, houve incidentes...

P:- Bem marcantes...o o senhor sabe.

R:- Sim. A Igreja Católica antigamente, não tinha muita tolerância isto já na época do pastor Sauerbronn. Ele foi ameaçado de prisão, se continuasse a dar assistência a pessoas que o procurassem e não fossem luteranos. No caso dos presbiterianos, e mesmo dos batistas, o sistema de trabalho sempre foi missionário e aqui em Friburgo também tinha de ser. Os primeiros missionários eram norte-americanos e começaram seu trabalho em oposição à Igreja Católica. Tudo era muito difícil naquela época, tudo muito fechado.
O Concílio Vaticano II fez uma grande reforma, que aproximou as Igrejas Católicas e Luterana. As missas em português, os padres não andarem de batina e muitas outras modificações, vieram facilitar o relacionamento da Igreja Católica com os outros credos. Anteriormente - eu me lembro, havia um alto falante da Igreja Presbiteriana criticando o Catolicismo e na Matriz havia outro, falando contra os protestantes.
Era um conflito permanente. Acho que também nesse ponto consegui muita coisa, e tive missão pacificadora.
Como sabem, depois da Guerra surgiu o Colégio Cêfel e nós procuramos uma colaboração com o Colégio Anchieta. Certa vez houve um conflito entre o Reitor, Padre César Dainese com o então prefeito. Nós demos nosso apoio aos jesuitas e daí surgiu uma amizade com o Padre Dainese e mais tarde, também com o Padre Pecci que ainda costuma me escrever na época do Natal. Padre Mendonça foi outro amigo, e muitos outros...
A animosidade entre evangélicos e católicos foi sendo substituída pelo respeito e até a amizade.
Devo ainda dizer, como encontrei compreensão da parte do Bispo Dom Clemente Isnard, com o qual mantenho até hoje uma amizade particular.
Em. muitos setores, colaboramos juntos.
Um deles, foi quando Heródoto assumiu a Prefeitura em 1964 e organizou a Fundação Educacional que tinha a responsabilidade de todas as Escolas em Friburgo: escolas hoje em dia municipais. D. Clemente foi convidado a ocupar a presidência da Fundação. Ele entretanto, condicionou aceitar o convite, se eu ocupasse a Vice -Presidência, alegando que eu tinha mais experiência com escolas.
Isso nos levou a um bem relacionamento. Quando D. Clemente necessitava se ausentar, até mesmo para ir a Roma, eu assumia seu lugar.
Foi bom observar, como o ecumenismo se estendeu por todo o Brasil. Acho que a primeira vez que um padre entrou em nossa Igreja, foi o próprio D. Clemente, isto no casamento de meu filho Hans. Participamos de muitos cultos ecumênicos durante todos estes anos.
D. Clemente pregou em minha Igreja, e eu, na Catedral. A res¬peito desse espírito de ecumenismo, é interessante contar um fato ocorrido em 1827.
José Bonifácio o Patriarca da Independência era amigo pessoal do primeiro pastor, Sauerbronn, e chegou a ser padrinho de um filho deste. Se, considerarmos a época, tal fato é bem importante, época em que católicos e protestantes se digladiavam. Viviam em permanente luta, pode-se dizer.

P:- Sr. Pastor, poderia me dizer da importância das indústrias e dos industriais de Nova Friburgo, na comunidade luterana?

R:- Sim. A importância é porém recíproca.
Friburgo era uma pequena cidade de veraneio, quando o Conselheiro Julius Arp, adquiriu aqui a Companhia de Eletricidade a fim de garantir a energia para a Fábrica de Rendas.
No ano seguinte com seu amigo Maximilian Falck, fundou a Fábrica Ypú.
Ambos eram evangélicos. Os técnicos trazidos da .Alemanha, também o eram, o que deu grande impulso à Comunidade Luterana. Além do mais, esses industriais interferiram junto ao Pastor Luterano do Rio de Janeiro, que vinha a Friburgo para que houvesse maior
intercâmbio cultural e religioso.
Falck e Arp, financiavam a Sociedade já citada por mim, mas faltava ainda a criação de uma escola, que pudesse atender aos filhos dos alemães. Eles vinham trabalhar nas empresas, não conheciam a língua portuguesa e as crianças tinham dificuldades iniciais.
Além de Falck e Arp, apareceu Otto Siems que fundou a Fábrica de Filó.
A ajuda para as reformas do templo, e do cemitério, desse grupo de industriais foi muito importante, para o desenvolvimento da comunidade luterana. Apareceu ainda Hans Gaiser que veio como construtor fundando depois a HAGA. Juntou-se então ao grupo, e todos procuraram melhorar as condições da comunidade.
O cemitério sofreu uma grande reforma, além da duplicação de seu espaço, assim como a pavimentação do acesso ao mesmo.
Foram obras necessárias e que tiveram o apoio de todos. A aquisição da residência pastoral foi outra meta alcançada. É interessante notar, que havia uma divisão de grupos. Católicos eram em sua maioria os operários; os mestres e técnicos já pertenciam a igreja luterana. Assim mesmo, sendo evangélicos, os industriais dedicaram esforços e apoiaram a Igreja Católica. Houve sempre da parte deles, a preservação das tradições culturais.

P:- Sr. Pastor, o senhor poderia nos dizer também, quais os reflexos da II Guerra na Comunidade Alemã em Nova Priburgo?

R:- Comunidade alemã?

P:- Digo, Comunidade Luterana.

R:- Realmente a nossa comunidade relegiosa chamava-se Deutsche Evangelische Lutherische Gemeinde, e a Comunidade Alemã comporta todos os alemães. Para evitar confusões, mudamos para Comunidade Evangélica Luterana.
Voltando ao assunto, o reflexo da guerra foi muito grande. Em Niterói havia um Delegado da Ordem Política-Social, Ramos de Freitas - muitos ainda se lembram dele; ele era uma pessoa difícil, com ideias peculiares e muito intransigente. Quando o Brasil entrou na guerra, grande parte dos alemães foi presa e levada para Niterói. Pode-se avaliar, o que tais fatos trouxeram para a nossa comunidade que passou por uma época difícil.
Não podíamos realizar o que precisávamos e só depois da guerra foi possível recomeçar, e assim mesmo, dentro de grandes dificuldades.

P:- No período da guerra, os cultos eram feitos em português?

R:- Não, não havia nem cultos. Eles foram proibidos. O direito de reunião estava abolido.

P:- Nem com uma licença?

R:- Em casos especiais, havia uma licença, isto apesar de grande parte dos luteranos ser brasileira...

P:- Como então eram realizados casamentos, batizados, etc. ?

R:- Para casamentos, nós pedíamos uma autorização especial, só para aquela cerimônia.
Depois em fins de 1942, o Delegado Ramos de Freitas entrou em férias e assumiu o Coronel Barcelos, não recordo o nome próprio e houve modificações. O templo foi aberto e os cultos realizados em ambas as línguas para atander aos que tinham dificuldades em entender o português.
Isto faz parte de nossa Igreja: dar assistência religiosa a cada um, na língua que entenda melhor.
Por exemplo, em São Paulo, temos cultos em castelhano, escandinavo, japonês, alemão e naturalmente em português. Aos poucos percebemos que os filhos de alemães ou de outra ascendência se integravam mais rapidamente na sociedade brasileira se os cultos fossem em português.
Desse modo fomos abolindo as outras línguas. Entretanto, durante anos usamos o inglês rotineiramente.

P:- Sabemos de sua ação comunitária. Pediríamos que o Sr. falasse sobre a atuação no campo educacional, clubes de serviço, enfim áreas não ligadas à religião.

R:- Vamos começar com os clubes sociais.
Primeiro temos a Sociedade, hoje Sociedade Esportiva, onde participei até a IIa Guerra, desde a construção de sua primitiva sede.
Por volta de 1957 - o César Guinle resolveu parcelar uma parte do Parque S. Clemente um lindo lugar. Nós tínhamos adquirido uma propriedade no loteamento aberto e assim, participamos do início do Nova Friburgo Country Club.
Inicialmente, o clube foi planejado só para os condôminos, mas verificou-se que se não abrissem para outras pessoas, nada se podia fazer. Os próprios condôminos, tinham mais terrenos que residências e também vinham pouco a Friburgo, só mesmo no verão. Também participei do Clube de Xadrez como sócio e colaborei no Centro de Arte, hoje Porão da Arte, mas primeiro foi Centro Cultural Maria Thereza, não é?
Sempre colaborei com o Centro de Arte, trazendo artistas a Nova Friburgo.
Tivemos também uma Associação que já morreu há muito tempo, para cultivar as línguas clássicas latinas. P residi até a inauguração na Praça de um busto de Virgílio. A associação não durou muito, mas fica aqui a importância da colônia alemã e de seus descendentes, para a difusão da língua e cultura alemãs e de seu apoio a todos os eventos culturais. Sempre fui solicitado e sempre colaborei com todos os prefeitos, sem posições partidárias. Autoridade e autoridade, acima de posições político-partidárias. Existe uma lei que dá a cidadania friburguense a todos os embaixadores alemães. Assim, em todas as oportunidades que tive, trouxe embaixadores e outras autoridades consulares, aumentando o intercâmbio entre os dois povos.
Muitas vezes, minha participação ligou-se ao Colégio Cêfel. Como já expliquei, encontrei ao chegar uma escola alemã, que foi transformada em Escola Paroquial. Os descendentes dos alemães deveriam entrar para o ensino oficial e participar da realidade brasileira, segundo meu ponto de vista. Após o término da Guerra, fundamos o Colégio Cêfel, com essa finalidade.
Acredito, continuando o relato, que um dos momentos mais importantes de todas as atividades tenha sido o sesquicentenário da Imigração Alemã, quando houve grandes festas. Isto em 1974.

P- E os clubes de Serviço, Sr. Pastor?

R:- Entrei como sócio do Rotary Club, onde estou até hoje.

P:- Sr. foi fundador?

R:- Não, não fui.
Estive presente à fundação. Entretanto atendendo ao pedido de companheiros como Otto Siems, Richard Ihns, Max Cleff e outros, não entrei no Rotary logo de início.
A intenção, era para que o Rotary não assumisse uma posição ligada à Igreja Evangélica isto é: que as pessoas pensassem assim.
Veja bem, o mesmo cuidado referia-se ao catolicismo; o Rotary não possui comprometimento religioso. Hoje em dia, esse receio não ocorreria, mas na ocasião foi necessário tal cuidado.
A minha presença poderia impedir a entrada de católicos... Era uma época diferente e a mentalidade era essa.
Quando a Comunidade e o próprio Rotary estavam preparados, após essa fase inicial, eu entrei.
Tem sido um período ativo, convivendo com bons amigos e líderes comunitários; Richard Ihns, Walter Soares da Cunha, Frederico Sichel, Heródoto Bento de Mello. Foi para mim felicidade a entrada de meu filho Hans, já tendo sido ele próprio presidente. Tantos outros, até ex-alunos acabaram meus companheiros rotários. No
movimento para reiniciar as relações culturais entre Friburgo e Fribourg na Suíça, me engajei logo de início. Inicialmente ajudando a organizar aqui a recepção aos suíços que visitaram Nova Friburgo. Depois, estive várias vezes em Fribourg mantendo contatos com Martin Nicolin.
Particularmente ou oficiosamente, procurei ajudar a preparar a viagem, embora não pudesse participar da mesma.

P:- O Sr. poderia nos dizer alguma coisa sobre sua família?

R:- Meus filhos nasceram: o mais velho no Rio - é carioca, o Fritz. O outro mais novo já nasceu aqui, é o Hans. Ambos estão muito integrados em Nova Friburgo, principalmente pela atuação no Colégio Cêfel, onde assumiram a direção, após o meu afastamento. Hans é advogado e diretor. É interessante observar que na Alemanha os pastores têm sempre um status especial. Eles podem dar atestados, reconhecidos pelo Estado, como ocorre aqui nos cartórios. Colaboram com as embaixadas da Alemanha,Áustria e Suíça, já que estas embaixadas, foram inicialmente as nações a que pertenciam os congregados da nossa comunidade.
Meu filho Hans é advogado de confiança da Embaixada da .Alemanha. Hans e Fritz são rotarianos e engajados em todas as atividades e movimentos culturais e assistenciais de Nova Friburgo.
Fritz é um entusiasta do esporte, trabalha aqui com vocês na Prefeitura e continua no Colégio Cêfel.

P:- Sr. Pastor, voltando à sua interferência em tantos casos, poderíamos lhe dar o título de Pacificador?

R:- Realmente, isto foi sempre minha função aqui em Friburgo, pacificar.

P:- Mas e agoras o Sr. deixou Friburgo?

R:- Praticamente não deixei Friburgo, porque continuei com minha residência aqui, onde tenho minhas raízes, minha família, meus amigos e um trabalho realizado.
Quando me aposentei, veio meu sucessor o Pastor Falck, que assumiu a paróquia da comunidade. Eu fui solicitado a ficar em Brasília por um mês.
Haviam dificuldades entre o Pastor e a comunidade de lá. A fim de contornar situações, ele foi para a Alemanha fazer um pós-graduação e me pediu para durante um mês substituí-lo, até possivelmente chegar alguém que o fizesse em definitivo. Isto foi difícil e eu tive que assumir a comunidade da paróquia de Brasília durante 16 meses, até que conseguimos um pastor. Brasília é a capital do país e os problemas convergem para lá.
O pastor que assumiu, o fez com a condição de que eu permanecesse como representante da Igreja Evangélica da Comunidade Luterana no Brasil, atuando junto às autoridades do Governo Federal e até junto às Embaixadas.
Não considero que deixei Friburgo. Sempre que posso venho para cá. Entretanto, ainda tenho lá mais uma tarefa entre tantas.
É a obra do Centro Social, numa cidade satélite de Brasília chamada Ceilândia, onde nós temos uma creche com 315 crianças carentes. Não é muito fácil a manutenção de todas essas crianças, e grande parte da ajuda advém de padrinhos estrangeiros.
Assim eu fui eleito dirigente dessa obra social.
Além disso, ainda coordeno um movimento nascido há 25 anos na América e que se expandiu por diversos lugares.
Aqui no Brasil, temos três grupos que se reúnem as terças, quartas e quintas na hora do almoço.
São grupos de parlamentares, empresários, enfim, pessoas que mostram interesse em estudos bíblicos, orações, debates atuais.
Além de representantes de todos os partidos até do PT, também temos diversos Ministros do Tribunal de Contas da União, Tribunal Eleitoral, Judiciário, Tribunal do Trabalho, etc. Como vocês percebem é um trabalho muito interessante.

P:- Ainda há alguma coisa para lembrar?

R:- Sim, talvez recordando que nos últimos 25 anos, passados aqui, participei muito na área da Educação - no Colégio Cêfel. É com alegria, que encontro muitos ex-alunos, alguns em posições elevadas, com destaque.

P:- É o caso do Zuenir Ventura, que foi seu aluno e hoje é um jornalista famoso.

R:- É verdade. É um grande jornalista brasileiro.
O Luiz Carlos Chaves, que também foi mau aluno e tem uma posição destacada no Senado.
Hoje está nos Estados Unidos e muito bem visto; existe um outro que veio a ser professor da Universidade de Estocolmo.
Outras áreas de participação foram as Feiras da Bondade, edição municipal da Feira da Providência, que reúne pessoas e grupos. Enfim, é um encontro de amigos.

P:- O Sr. falou em Ceilândia e aqui em Friburgo, qual foi sua ação no campo da Assistência Social?

R:- Nós trabalhamos no morro do Cordoeira, onde conseguimos construir uns barracos e sempre procuramos dar assistência espiritual numa escola dominical, além da distribuição de cobertores e agasalhos.
Outra oportunidade foi em 1978/1979, a época das enchentes. Ajudamos muito, e ainda padeci com a força das águas. Minha biblioteca que estava no Colégio Cêfel, sofreu muito, mas todos sofreram de alguma maneira.
Outro fato a recordar, é a fundação da AFAPE. D. Olga Bastos tem estado sempre a frente dessa associação. Eles precisavam de dinheiro e nós organizamos um jogo de futebol, para angariar recursos. O jogo era entre Professores e Advogados. Fui convidado a jogar e o Reitor do Colégio Anchieta me perguntou, se eu jogaria. Como confirmei que o faria, ele também aceitou participar e até indagou - mas vamos de calção? Se o senhor for, eu também vou.
Ganhamos o jogo por 5X1 ou 6X1 nem me lembro, mas foi dito que vencemos, por termos um padre jesuíta, um pastor luterano e um pastor batista, logo Deus estaria do nosso lado... A renda foi bem grande; alunos dos dois colégios participaram, além do público em geral.

P:- Existe mais algum fato importante?

R:- Sim, pelo menos para mim. (Mas antes quero mais uma vez me referir a Brigitte, companheira de quase 50 anos, grande incentivadora na minha vida de trabalho, assim como grande colaboradora no colégio Cêfel, onde foi secretária e professora durante 25 anos). Foi conferido o Título de Cidadão Friburguense ao Embaixador da Alemanha e Presidente da Igreja Luterana no Brasil, por ocasião do Sesquicentenário. Ao serem recebidos na Câmara Municipal, o Presidente da mesma que era Alencar Barroso, me convidou para dirigir os trabalhos, o que muito me honrou.

P:- O Sr. recebeu o título de cidadão Friburguense, nessa ocasião?

R:- Não, sinceramente não me lembro da data, mas nesse dia não foi. Também, recebi a Ordem do Mérito Republicano Federal da Alemanha pelo meu empenho em preservar e estimular as relações culturais Brasil-.Alemanha. O título de cidadão friburguense é importante, mas eu me considero friburguense de todos os modos, já que aqui passei a maior parte de minha vida.

ENCERRAMENTO
Maria Suzel Coutinho Soares da Cunha
Gostaríamos de agradecer sua presença e sua boa vontade em nos ceder este depoimento. Como o Sr. sabe, este é o Projeto de Memória Oral. Ele procura preservar através da entrevista, todo o acervo que é mantido na memória humana, o mais precioso dos computadores.
A sua entrevista não está encerrada. Como todo o projeto social, continuamos em aberto para acrescentar outros dados, ampliar informações, dar novo enfoque, a uma vida tão rica em atividades comunitárias e voltada para o bom comum.

Gratos por sua presença.

Fonte: Memória Oral. Depoimentos-Entrevistas. Volume 1, Cadernos de Cultura, Série 3, Secretaria de Educação e Cultura, Prefeitura de Nova Friburgo-RJ, p. 34-57

Veja também: Memorial Pastor Johannes Edward Schlupp

 


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Ainda não somos o que devemos ser, mas em tal seremos transformados. Nem tudo já aconteceu e nem tudo já foi feito, mas está em andamento. A vida cristã não é o fim, mas o caminho. Ainda nem tudo está luzindo e brilhando, mas tudo está melhorando.
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