A VERDADEIRA LIBERDADE
Êxodo 20.1-17, especialmente vers. 7 (Leitura: Salmo 119.1-12)
«Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão, porque o Senhor não terá por inocente aquele que tomar o seu nome em vão.»
Os mandamentos de Deus: Eu sou o Senhor teu Deus; não terás outros deuses além de mim, não fazendo deles nenhuma imagem ou escultura; não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão; santificarás o dia de descanso («sábado» significa descanso); honrarás o teu pai e a tua mãe; não matarás; não adulterarás; não furtarás; não dirás falso testemunho contra o teu próximo; não cobiçarás casa, bens ou pessoas relacionadas a teu próximo: — Há muitas pessoas que vêem nestes mandamentos uma espécie de prisão, algo como um curral rodeado por uma cerca alta que não permite escape: «Farás isso, não farás aquilo!» Não é evidente que os mandamentos querem limitar a liberdade das pessoas, que querem mantê-las na linha, bem comportadas e submissas? Se alguma vez você teve ideias semelhantes, então preciso lhe dizer que esta compreensão dos mandamentos é totalmente errônea. Os mandamentos não são nem prisão nem curral. Você vê: É muito fácil transgredir os mandamentos. É fácil ignorá-los, fazer de conta que não existem, Deus não colocou os seus filhos em nenhuma prisão. Esta ideia, o diabo deve ter inventado. Na casa de Deus há liberdade. Não a assim chamada liberdade, mas liberdade verdadeira.
Este é o ponto decisivo: O descrente acha que «fora da prisão» dos mandamentos de Deus há liberdade e que «dentro da prisão» há escravidão. Ele não sabe que os mandamentos foram dados para proteger a verdadeira liberdade do homem, para não permitir que ele caísse nas mãos de tiranos que o escravizem e torturem. Veja a história do filho pródigo: Este moço achou que a vida na casa paterna era uma espécie de escravidão e que a liberdade o esperava lá fora. E que aconteceu com ele? Ele caiu nas mãos de aproveitadores, de exploradores, e a sua falsa liberdade o levou a encostar-se em um homem que o mandou guardar porcos, sem lhe dar nem o suficiente para saciar a fome.
Você está lembrado das palavras que antecedem os mandamentos propriamente ditos, na Bíblia? Será bom, verificar na própria Escritura Sagrada, da qual o catecismo de Lutero resumiu os mandamentos que nós temos aprendido: Em Êxodo 20,2 diz: «Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão.» Então o Deus que nos deu os mandamentos, nos tirou da casa da servidão! Que Deus seria este, que tirasse as pessoas da casa da servidão para colocá-las em outra prisão, talvez ainda mais desumana!
Estas palavras: Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei da casa da servidão — são a chave para a compreensão correta de todos os mandamentos. Quem lê por cima deste versículo, ele não poderá nem compreender nem aceitar nenhum dos mandamentos que seguem. Ele precisa incomodar-se com todos eles. Ele necessariamente se sente aborrecido por todos, desde o primeiro até o décimo. Só quando uma pessoa descobre aquele fato felicitante: Deus é nosso Senhor, que nos libertou da escravidão de tiranos sem compaixão nem misericórdia, só então ela poderá entender, aceitar e amar os mandamentos.
Você conhece sinaleiras e outros sinais de tráfego. De certo modo, estes sinais limitam a liberdade dos motoristas. Luz vermelha: Não avance o sinal! — Cuidado, curva perigosa! — Não ultrapasse com a faixa amarela contínua! — Mas imagine o que seria o tráfego sem estes sinais! Seria uma confusão medonha, uma liberdade infernal de avançar, de ferir, de matar. Você entende: Os sinais dizem: Aqui vai a estrada. Esta estrada leva a um destino. Se você quer chegar a este destino, vai querer também seguir a estrada que leva a ele. Vai querer evitar choques e acidentes, não vai querer impedir o progresso de outros viajantes que seguem pela mesma estrada. Quem colocou os sinais, quis proteger a vida e a liberdade de viajar de todos que se acham a caminho. Deus diz: Honrarás os teus pais, não matarás, não furtarás -- porque ama você e porque quer que você não perca o rumo com fé e confiança para estes sinais de Deus! Se assim o fizer, saberá agradecer-lhe por todos os avisos, por todos os sinais que saberás agradecer-lhe por todos os avisos, por todos os sinais que ele puser ao lado da estrada de sua vida.
Hoje queremos ressaltar um sinal específico. Um sinal que poderá ser de importância decisiva em nossa vida. É o segundo mandamento (para algumas igrejas, que seguem outra contagem, é o terceiro): Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão, por-que o Senhor não terá por inocente aquele que tomar o seu nome em vão». — Tomar o nome de Deus em vão: Isso tem alguma coisa a ver com nossa oração, com nossa religião, com nossos cultos, com nossa vida cristã. O que é «em vão»? «Vão» significa vazio. É o nada, é a falta de conteúdo. Usar em vão isso é fazer de conta, aparentar alguma coisa que bem por dentro não se leva a sério. Tomar o nome de Deus em vão é como pronunciar o nome de uma pessoa, e quando esta pessoa nos atende, dizer que não queremos nada dela. Tomar o nome de Deus em vão, é orar em vão. É usar as palavras corretas, mas usá-las de forma vã, vazia, porque o coração daquele que ora não participa. Tal oração é um diálogo fictício com Deus. Ele não muda nada na vida daquele que ora. É como um motor que funciona em ponto morto, que não põe o carro em movimento, porque não se acha engrenado em nenhuma marcha. É como uma atafona de cujas mós se movem, mas não sai farinha, porque não há milho a moer.
E não se trata só de usar o nome de Deus impensadamente, como é uso em nossa terra, onde tantos, sem pensar, exclamam: Santo Deus! Meu Senhor! A transgressão do segundo mandamento é coisa muito mais séria. O abuso do nome de Deus, com o correr do tempo, torna o homem incapaz de usá-lo como convém, de orar em Espírito e Verdade. O homem que se acostumar a usar o nome de Deus em vão, ele não toma a sério nem a Deus, nem a si mesmo. Não se enxerga mais no espelho da palavra de Deus, não é mais honesto consigo mesmo, abafa a sua consciência. Já não vive mais na luz da verdade, com a qual o verdadeiro Deus ilumina a vida de seus filhos. Passa a viver num mundo onde reina a dúvida, a incerteza, a mentira. Deus não terá por inocente aquele que abusar do seu nome. Por ser o Deus da verdade, ele não pode fazer de conta que o abuso de seu nome não seja nada, Não é assim que fulminasse o homem abusador com o raio — o homem que vai ao benzedor, ao macumbeiro, ao médium espírita. Deus não impede o homem de entrar naquele mundo onde se abusa seu nome, mundo de medo, de desconfiança, de magia, de feitiçaria, Mas ele faz com que a própria transgressão, de seu mandamento seja o castigo da transgressão: O homem usou o nome de Deus em vão — usou-o até para amaldiçoar, usou-o como instrumento do ódio. Agora, ele passa a viver em vão, num mundo em que não há comunhão com Deus, em que reinam deuses vãos: despachos, maldição, mau olhar, superstição. Não admira que tantas pessoas que se entregam a formas grosseiras ou refinadas de feitiçaria acabem sofrendo até das faculdades mentais, passem a viver amedrontadas pelos maus espíritos, pelos deuses falsos e vãos em que se encostaram. Deus não terá por inocentes os que abusam seu nome.
Mas não pensemos que o abuso do nome de Deus seja somente uma questão de feitiçaria, uma questão de macumbeiros e de benzedores que trabalham com fórmulas secretas, com magias e com despachos. Na própria igreja cristã, no culto dominical, na confissão, nos hinos, nas orações pode haver abuso do nome de Deus. Na oração pessoal pode haver o mesmo abuso. Sempre que você canta «aleluia» (louvai ao Senhor!) ou diz «amém» (assim seja), poderá estar usando em vão o nome de Deus. O profeta Isaías diz (Is. 29,13): «Este povo me honra com sua boca e com os seus lábios, mas o seu coração está longe de mim.» Este é o Ponto, O coração deve participar da adoração de Deus. O coração deve mover os lábios, as mãos, os pés e tudo. O coração, não como o entendem os poetas, mas o coração como a Bíblia o entende: O lugar onde eu sou eu mesmo, onde é o centro de comando de minha vida, onde minha vontade se forma, onde minhas decisões são tomadas. É o coração vencido e convertido pelo Deus da verdade. Este é o coração capaz de adorar a Deus, sem usar o seu nome em vão.
Jesus chama tal culto em que o coração do homem se entrega a Deus, sem reserva de domínio, de «adoração em Espírito e Verdade» (João 4,23). E é em Jesus que encontramos o segredo deste culto. O nome «Jesus» significa: Deus ajuda, Deus salva, A vida toda de Jesus foi uma única adoração. Foi uma pregação onde não havia nenhum tom falso, nenhuma contradição. Ele honrou o nome de Deus, seguindo o caminho da obediência, Ele viveu o seu nome: «Deus salva». Viveu sua pregação. Sua oração engrenou com sua vida — até sua morte na cruz.
Há pouco nós dissemos que a gente só entende bem os mandamentos, se não ler por cima das palavras: «Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirou... da casa da servidão.» São justamente estas palavras que em Jesus Cristo se cumpriram. Nós não fomos salvos da escravidão de Faraó, do Egito. Fomos salvos de um tirano muito pior, muito mais poderoso: do mau inimigo, do demônio, que nos quer escravizar, mantendo-nos afastados de Deus. E nós não fomos salvos pelo derramamento de sangue de cordeiros, como os israelitas, quando foram libertados da tirania de Faraó. Deus mostrou que ele é o Senhor, nosso Deus, dando o seu próprio Filho por nós, o cordeiro que carrega os pecados do mundo. Jesus derramou o seu sangue por ti e por mim. A cruz é o mais claro sinal do amor de Deus, à beira da estrada de nossa vida. Este sinal diz: Eu sou teu Salvador. Eu te amo. Olha para mim, e cumprirás a vontade de teu Deus.
Se você entender esta mensagem escrita com sangue, se você não ler por cima dela, entenderá o que são os mandamentos, o que é obediência, o que é perdão e reconciliação. Entenderá que todos os mandamentos se cumprem pelo amor — pelo amor de Deus e pelo amor com o qual nós lhe respondemos.
Oremos: Deus misericordioso, Pai querido. Nós te confessamos que muitas vezes temos usado o teu nome em vão. Tu conheces os nossos corações e sabes todas as coisas escuras de nossa vida. Muitas vezes temos cantado aleluia e depois falamos mal dos outros. Muitas vezes oramos o Pai Nosso, mas não quisemos perdoar nossos devedores. Perdoa-nos, Senhor. Ensina-nos a orar e a viver. Faze-nos compreender que tu és o nosso Deus, que pelo sacrifício de Jesus nos libertou e que apesar de nossa culpa não deixas de nos amar. Amém.
Veja:
Lindolfo Weingärtner
Lançarei as redes - Sermonário para o lar cristão
Editora Sinodal
São Leopoldo - RS