
Graças a Deus que nos dá a vitória!
“Ó vinde todos e folgai/,
é páscoa! páscoa! jubilai!”
O apóstolo Paulo compôs uma sátira à morte. Nela ele convida os cristãos a escarnecerem da morte, a zombarem dela em face da ressurreição de Jesus: “Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão?” (1 Coríntios 15.55) E um inspirado poeta transformou o texto do apóstolo Paulo em poesia: “Cadê, ó morte, o aguilhão? / inferno, as tuas glórias?” (HPD 1, 58,1). E o reformador Martinho Lutero chamou essa passagem de 1 Coríntios 15 de “canção de zombaria da morte”.
Será que é possível um cristão chegar a tanto? Eu pessoalmente tenho cá as minhas dificuldades. O apóstolo vai ainda mais longe naquele mesmo capítulo de 1 Coríntios: “Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens” (cap. 15.19) – homens sem futuro, sem esperança. Pode haver maior infelicidade? E diz já anteriormente que sem a esperança da ressurreição “é vã a vossa fé” – todo nosso falar de Cristo, de amor e de perdão, a pregação, as orações, os cantos, todos os nossos rituais eclesiásticos, toda essa instituição igreja é coisa vã, pura balela, mera hipocrisia. Somente a fé na ressurreição, a fé pascoal dá sentido a tudo isso, confere sentido à vida do ser humano.
Tenho por mim que há muita coisa duvidosa naquilo que chamamos de Igreja, de vida de fé. Tenho por mim que nossos cantos de Páscoa são apenas “da boca pra fora”. Se não, por que então não explodimos em júbilo diante da mensagem pascoal? “Ó vinde todos e folgai, / é páscoa! páscoa! jubilai!”
Onde se mostra o poder da ressurreição em minha vida? Não dizem as Escrituras que “morrer é lucro”? Quando de notas de falecimento, também nos cultos, só ouço falar de pesar e tristeza, de perda e jamais de lucro.
Os cemitérios das colônias alemãs do sul são, em geral, um singelo e vivo testemunho de fé na ressurreição: quase todos eles são organizados de tal maneira que todas as sepulturas estejam orientadas para o sol nascente, “para o Sol nascente das alturas, para iluminar os que jazem nas trevas e na sombra da morte” (Lucas 1.78s.).
Que transformação seria se eu conhecesse o “poder da ressurreição” (Filipenses 3.10), o poder que transforma pessoas sem esperança em pessoas que conhecem a “viva esperança”, para a qual Deus nos regenerou “mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos” (1 Pedro 1.3). Conhecer “o poder da ressurreição” inverte todos os valores, diz o apóstolo: ele, quando conheceu “o poder da ressurreição”, “o que para mim era lucro, isto considerei perda” “e as considero como refugo”, confessa ele (Filipenses 3.7-10).
Num hino da época da Reforma encontro um pensamento surpreendente. Numa tradução mais literal da segunda estrofe do hino 294, no HPD 1, a versão seria:
“Alegre, em paz partir eu vou, / pois sempre filho dele sou.
À morte devo grato ser, / por ela a glória hei de ver.”
Eis um exemplo de total confiança na mensagem da ressurreição. Quem me dera poder crer nela desse modo.
São Leopoldo, Páscoa 2008
P. em Ilson Kayser