Você confiou demais?

07/10/2005

 

Talvez nos decepcionemos tanto porque depositamos em algo ou alguém uma confiança excessiva, esquecendo as limitações próprias a tudo o que é humano.

Com muita freqüência tenho ouvido e lido sobre um sentimento que parece se instalar e alastrar em muitos níveis de nossa existência: o sentimento de desconfiança, em geral acompanhado pelo sentimento de desolação e desesperança. Os acontecimentos na política nacional, os fenômenos da natureza, como os furacões e enchentes no sul dos Estados Unidos, o tsunami na Ásia, entre outros episódios de menor repercussão pública, têm sido apontados como razão desse sentimento de desconfiança e desesperança. Algumas personalidades afirmam que estes fatos reforçam o sentimento de desolação e “desmapeamento” que caracteriza o ser humano contemporâneo. Não existem mais grandes certezas, nem utopias...

É muito complicado viver sem poder confiar. É muito bom poder confiar em alguém. Isso nos dá contenção, nos permite relaxar e usar nossa criatividade para sonhar e planejar. Para viver, necessariamente, precisamos ter uma confiança em algo ou alguém, senão nos desesperamos.

Porém, por isso mesmo, muitas vezes sofremos muito. Pessoas ou instituições sobre as quais depositamos nossa confiança podem nos decepcionar. Isso também é inevitável. Geralmente esquecemos disso, ou não queremos sabêlo. Penso que talvez nos decepcionemos tanto porque confiamos demais. Depositamos em algo ou alguém uma confiança excessiva, esquecendo as limitações que são próprias a tudo o que é humano. E isso é uma projeção, uma fantasia que ninguém pode, nem precisa, sustentar.

Vejo com freqüência que quando algo errado acontece e nos decepcionamos, nos sentimos vítimas: as coisas não dão certo porque o outro falhou! E disso o ser humano gosta: queixar-se do outro, como o grande responsável pelas suas próprias limitações e faltas. Isso é uma atitude infantilizada. Nos eximimos de nossa própria responsabilidade. Gostaríamos que outros fossem para nós como os pais são para uma criança. (In)felizmente crescemos e a vida nos mostra que nossos pais também são apenas um homem e uma mulher. Que saudade dos tempos em que alguém prometia nos proteger... A vontade de acreditar nisso ainda é muito grande na maioria das pessoas.

Dietrich Bonhoeffer, o teólogo da resistência morto pelo sistema nazista, afirmou certa vez: “Temos que viver como se Deus estivesse morto”. Com isso queria dizer: não adianta apenas se lamentar e esperar que outro faça o que achamos que deve ser feito. Muitos cristãos esperam que Deus faça aquilo que cabe a nós fazer. Confiar em Deus ou em outra pessoa nunca deve nos dispensar de nossa própria responsabilidade para com aquilo que nós mesmos podemos e devemos fazer.


 



Autor(a): P. Victor Linn
Âmbito: IECLB
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Meditação
ID: 7566
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