Viver o batismo é trocar de roupa - Mateus 22.1-14

Autoria P. Me. Alexander Busch

11/10/2020

 

Prezada comunidade,

Quando uma família organiza uma festa a expectativa é que as pessoas convidadas possam atender ao convite e se fazerem presentes para esta ocasião especial. No mundo antigo tal expectativa não era diferente. Jesus, portanto, nos conta uma parábola usando a imagem da festa de casamento do rei para nos falar sobre o chamado, o convite de Deus para as pessoas adentrarem e participarem no reino de Deus, um reino de comunhão e partilha. Assim como uma família espera que as pessoas digam “sim” ao convite, também Deus espera pelo nosso “sim” para o convite.

Nesta comparação de Jesus – a palavra parábola significa comparação – infelizmente as pessoas recusam o convite para a festa. E, segundo Jesus, não se trata de uma festa qualquer. É a festa de casamento que o rei preparou para seu filho. Recusar o convite do rei é uma atitude ofensiva. Algumas pessoas, entretanto, por motivos particulares – administrar a fazenda ou cuidar do armazém – recusam o convite. Outros agem de maneira pior, agarrando os empregados do rei, batem neles e os matam. Diante de uma ofensa de tal magnitude, o rei ficou furioso e mandou matar aqueles assassinos e queimar a cidade deles.

Como são duras estas palavras de Jesus - uma história marcada por tanta violência!!! Mas aqui é preciso lembrar que Jesus diz estas palavras no templo de Jerusalém. Conforme o capítulo anterior, Mateus 21, Jesus entrou no templo no templo para anunciar o Reino de Deus, quando as autoridades do templo, os chefes dos sacerdotes se aproximaram de Jesus para protestar seu ensino, “Com que autoridade você faz estas coisas? Quem lhe deu esta autoridade?” (Mt 21.23). A parábola do casamento é parte da resposta de Jesus às lideranças do templo que questionavam o projeto do Reino de Deus anunciado por Jesus. Ou seja, esta conversa entre Jesus e os chefes dos sacerdotes é uma conversa carregada de conflito e desconfiança. O pano de fundo desta parábola de Jesus é um conflito crescente. Os chefes dos sacerdotes desprezam Jesus, sua mensagem e suas ações. Assim podemos compreender as duras palavras de Jesus contadas nesta parábola como palavras de advertência, palavras de alerta para não desprezar Jesus e o anúncio do Reino de Deus.

Mas antes de pensar que estas palavras duras de Jesus valem somente para as autoridades do templo, as outras pessoas, pergunto se nós, você e eu, também não precisamos ouvir estas palavras de advertência e alerta? Será quem, às vezes, nós preferimos atender aos nossos projetos particulares ao invés de acolher o convite para adentrar o Reino de Deus? Será que, às vezes, nós também temos as nossas desculpas, sendo indiferentes e até mesmo desprezando o chamado de Deus? Não é indiferença quando as pessoas escutam a Palavra de Jesus, mas pensam “isto é algo que meu vizinho precisa ouvir”? Não é desprezo quando Jesus nos chama para anunciar e praticar a reconciliação, mas nosso coração endurecido se recusa a ser transformado? Não é um assassinato da Palavra quando a Palavra nos chama, nos revelando claramente a vontade de Deus e desprezamos o chamado de Deus? Estamos livres destes riscos e perigos?

A parábola, porém, não termina aqui. Jesus continua falando da atitude generosa e expansiva do rei. Visto que as pessoas convidadas anteriormente recusaram o convite, o rei pede aos empregados a saírem pelas ruas e convidarem todas as pessoas que eles encontrarem. E assim eles os fazem. Toda e qualquer pessoa é chamada. São pessoas das ruas, dos vilarejos, das aldeias próximas que não tem como retribuir ao convite do rei, mas que são honradas com o convite de participar da festa de casamento do filho do rei. O convite não é merecimento. O banquete não é recompensa. A comida não é prêmio. O convite parte do rei que quer generosamente e expansivamente encher o salão. E de fato, o salão de festas está repleto de pessoas. Não há mais lugar disponível. Está tudo preparado e a festa pode começar.

Surge aqui, porém, mais uma palavra de alerta e advertência de Jesus. Quando o rei entrou para ver os convidados, notou um homem que não estava usando roupas de festa. Ao lhe perguntar como ele havia entrada sem roupas de festa, o homem não consegue responder e é expulso.

Sobre isto é preciso lembrar que, mesmo as pessoas mais humildes no tempo de Jesus, ao serem convidadas para uma festa, se esforçavam para colocar sua melhor roupa. Não uma roupa suja e suada de um dia de trabalho, mas sim uma roupa lavada e limpa. Esta palavra de Jesus, portanto, nos serve como mais um alerta e advertência, não basta entra na casa e sentar-se à mesa; é necessário trocar a roupa. Não basta imaginar que porque as autoridades do templo, os chefes dos sacerdotes ficaram de foram, nós podemos entrar no Reino de Deus e aqui permanecer de qualquer jeito. Não basta imaginar que porque estamos na casa de Deus ouvindo a Palavra de Jesus que isto nos é suficiente: é necessário trocar a roupa.

Para tanto gostaria de compartilhar com vocês uma ilustração. Preciso de uma pessoa voluntária. (Ilustração da barra de chocolate que é dada como presente à pessoa voluntária). Imaginem que a pessoa leva o chocolate para casa, mas acaba perdendo o chocolate. O chocolate cai atrás do criado-mudo e somente dois anos mais tarde a pessoa encontra o chocolate. Agora, porém, o chocolate derreteu com o calor e o prazo de validade está vencido. O chocolate era para ser repartido com a família e degustado, mas infelizmente esta pessoa perdeu a sua oportunidade de comer o gostoso chocolate recebeu de presente.

Podemos comparar este presente, este chocolate, ao batismo – o tema do ano da IECLB. O batismo é um presente de Deus, um ato visível unido à promessa de Deus de nos acolher na sua comunidade. E por aqui muitas pessoas se satisfazem e param. Sou batizado. Sou batizada. Sou membro da Comunidade Evangélica. Sou membro da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil. Esta é uma fé estagnada, paralisada e inútil – receberam o chocolate, mas não abrem o pacote para comer e degustar o chocolate. O chocolate existe para ser alimento, comido e saboreado. Deixar de comer o chocolate é como entrar no salão de festas do rei, mas não trocar de roupa. Assim como o chocolate, o batismo é para ser vivido, saboreado e aproveitado.

Este trocar de roupa é viver o batismo, é mudança de mente e atitude a partir de Jesus Cristo. É confessar que nenhuma pessoa é digna e merecedora de fazer parte da comunidade de Jesus. Todos e todas nós precisamos do perdão restaurador e transformador de Deus. Trocar de roupa é se deixar revestir das qualidades do próprio Cristo, como nos escreve Paulo em Gálatas, “vocês foram batizados para ficarem unidos com Cristo e assim se revestiram com as qualidades do próprio Cristo” (Gl 3.27). Trocar a roupa é ser conduzido/a pelo Espírito Santo para refletir nas nossas vidas as qualidades de Cristo, praticando o amor, exercendo a paciência e misericórdia, promovendo a paz e a bondade, caminhando em fidelidade, humildade e o domínio próprio. Viver o batismo é trocar a roupa suja e suado pela roupa limpa e lavada - é Deus nos (re)vestindo com Jesus Cristo. Este trocar de roupa, viver o Batismo é dizer sim ao convite e chamado de Deus para seguir Jesus e se deixar conduzir por sua Palavra no poder do Espírito Santo. Amém.
 


Autor(a): P. Me. Alexander R. Busch
Âmbito: IECLB / Sinodo: Rio Paraná / Paróquia: Maripá (PR)
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Testamento: Novo / Livro: Mateus / Capitulo: 22 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 14
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 59393
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Cristo, juntamente com todos os santos, assume a nossa forma pelo seu amor, luta ao nosso lado contra o pecado, a morte e todo o mal. Em consequência, inflamados de amor, nós assumimos a sua forma, confiamos em sua justiça, vida e bem-aventurança.
Martim Lutero
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