Viver de maneira cristã?

Há UM padrão definido como aceito?

23/08/2020

Romanos 12.1-8 NVI

1 Portanto, irmãos, rogo-lhes pelas misericórdias de Deus que se ofereçam em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus; este é o culto racional de vocês.
2 Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.
3 Pois pela graça que me foi dada digo a todos vocês: ninguém tenha de si mesmo um conceito mais elevado do que deve ter; mas, pelo contrário, tenha um conceito equilibrado, de acordo com a medida da fé que Deus lhe concedeu.
4 Assim como cada um de nós tem um corpo com muitos membros e esses membros não exercem todos a mesma função,
5 assim também em Cristo nós, que somos muitos, formamos um corpo, e cada membro está ligado a todos os outros.
6 Temos diferentes dons, de acordo com a graça que nos foi dada. Se alguém tem o dom de profetizar, use-o na proporção da sua fé.
7 Se o seu dom é servir, sirva; se é ensinar, ensine;
8 se é dar ânimo, que assim faça; se é contribuir, que contribua generosamente; se é exercer liderança, que a exerça com zelo; se é mostrar misericórdia, que o faça com alegria.

VIVER de maneira cristã?

Muitas vezes já aconteceu de pessoas visitarem nosso templo e comentarem sua beleza; a beleza que está na sua simplicidade. Nada de enfeites, só bancos na cor da madeira, paredes brancas e altar muito simples com uma cruz iluminada. Se destacam os três vitrais à luz do sol. Ao participarem de um culto, comentam: nada de volume alto, nada de instrumentos estravagantes, nada de danças litúrgicas, nada de promessas mirabolantes ou coações para ofertas. Isso traz, segundo estas pessoas, uma certa paz. Se não fossem os sinos no início e o órgão de tubos tocando, nem daria para dizer que se trata de um culto protestante. Ah, e tem a pregação da palavra. As pessoas mais racionalistas se contentam com isso. No entanto, as pessoas são cada vez mais emocionais. Algumas até entusiastas e fanáticas. Não se contentam em ouvir. Querem emoções e experimentar sensações.

Há um forma definida para expressar a piedade? O apóstolo Paulo conhece muitas mais: e sensação de falar em línguas, êxtases causadas pelas curas, a sisudez das sábias palavras, a prudência do conhecimento, a leveza da fé, a fama de praticar milagres, a autoridade da profecia, e a lista continua. E por mais que alguém, na Igreja de Cristo, queira ser alguma coisa especial, o apóstolo nos dá a lição:

Culto racional é oferecer sacrifício vivo, santo e agradável a Deus

O que Paulo quer dizer com isso? Poderia uma atitude pessoal e particular substituir o culto? É esta a lição que fica deste tempo de pandemia e necessário isolamento? Acho que ninguém entre nós está questionando que o Culto a Deus deve ter ordem e sensatez. Como escreve à Igreja em Roma, deve haver racionalidade.

Assim como nos tempos do apóstolo Paulo, hoje também se pergunta sobre formas de culto, especialmente diante da racionalidade aqui sugerida. As pessoas mais jovens se perguntam sobre formas atrativas de Culto, música renovada, quebra de isolamento responsável, iniciativas diaconais — serviço cristão —, além de inserção social e política. As pessoas mais tradicionais e antigas da comunidade se preocupam com a manutenção do pratrimônio centenário, com a manutenção da tradição doutrinária e um lugar em ordem para que os sacramentos e celebrações — batismos e casamentos — tenham continuidade.

Ao meu ver, ambas as preocupações são legítimas, mas ainda são apenas racionais. Não refletem o que é ser “vivo, santo e agradável a Deus”. Parece haver a necessidade de uma quebra de paradigmas entre o tradicional e racional e a vivacidade da santa comunhão agradável a DEUS. Quebra necessária, não para separar, mas para misturar os conceitos. Para que a razão do Culto a Deus se torne uma experiência viva de santidade agradável ao que recebe o nosso Culto de adoração: Deus.

Dádivas da misericórdia de Deus

Nas leituras bíblicas que antecederam a pregação — Salmo 138 e o Evangelho de Mateus 16.13-20 — ilustram a ação misericordiosa de Deus em favor das pessoas que nEle creem. O Salmo nos fala da bondade de Deus que vai além do que se pode imaginar. Ele ajuda, Ele é a luz do mundo e Ele mantém sua misericórdia até o fim. Já o texto do Evangelho aponta para uma caminhada que Jesus e seus discípulos deram até Cesaréia de Filipe. Ali estavam mais resguardados da opressão de fariseus e saduceus e puderam, finalmente, aprofundar a pergunta: por que vocês seguem a mim, Jesus?

De forma análoga, também nós devemos nos perguntar: por que estamos nesta igreja? Qual a nossa forma de prestar Culto a Deus? Que motivação nós temos?

Os discípulos de Jesus tinham várias outras opções para seguir a algum pregador ou doutrina. Poderiam seguir os zelotes, com sua luta política armada contra os romanos. Poderiam ser seguidores de João Batista, cujos discípulos tinham ensinamentos interessantes. Poderiam seguir os ditames do fariseus, com seu legalismo escrachado. Mas Pedro confessa a Jesus: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”. (Mt 16.16).
Ou seja, Deus é o único misericordioso. Ele tem compaixão pela situação na qual o outro se encontra. A graça de Deus é a medida através da qual ele mede nossas necessidades e as atende. Para isto, segundo Paulo, ele nos concede dons para sermos também misericordiosos com outros.

Nossa oferta viva, santa e agradável.

A Igreja de Cristo é um organismo vivo e atuante. Ela é viva porque nós, seus membros, estamos vivos. Nos posicionamos. Nos fazemos perguntas. Nos alegramos ou irritamos com coisas que vemos na Igreja. Na Igreja de Cristo saudamos a vida, atuamos em favor da vida, tomamos decisões que promovem vida. Aqui agradecemos pela vida e lutamos pela vida.

Na Igreja, Corpo de Cristo, quebramos com os ditâmes da morte, da injustiça, da solidão e isolamento. Na Igreja encontramos lugar para dar sentido à vida: do nosso próximo e nossa própria. Na Igreja não falamos de altruísmo ou de fazer um favor ao ajudarmos alguém; Igreja é lugar de sacrifício. (Θυσια - fazer algo de bom em favor de Deus — especificamente em Rm 12, uma forma espiritual de reinterpretar o procedimento sacrificial do AT.) O termo sacrifício aqui não deve ser uma amenização do conceito de sangue derramado. Sacrifício não é cada um do seu jeito, de acordo com sua vontade e para satisfazer os seus interesses particulares. Sacrifício é em favor do Corpo de Cristo.

O organismo vivo a serviço de todas as pessoas.

Em boa medida, a Igreja cristã virou uma utopia. Ou seja, a Igreja deixou de ser um lugar seguro, um farol que ilumina a escuridão deste mundo. Na maioria das vezes se limita a ser uma ideia, um imaginário de uma organização perfeita e que está além da compreensão normal e nisto é apenas uma fantasia na vida da maioria das pessoas.

A Igreja só serve para alguma coisa hoje, se ela serve. Igreja que serve, serve. Servir é uma das manifestação de vida saudável de uma Igreja. Paulo o afirma com todas as letras: se o seu dom é servir, sirva”. Se esta é a sua forma de mostrar que está vivo na Igreja, faça. E continua: se é ensinar, ensine; se é dar ânimo, que assim faça; se é contribuir, que contribua generosamente; se é exercer liderança, que a exerça com zelo; se é mostrar misericórdia, que o faça com alegria.

Vida na Igreja. o privilégio de ser Corpo de Cristo.

A Igreja deixa de ser assim, definitivamente, o lugar dos ritos repetitivos — sejam eles litúrgicos ou ideológicos — e “é organismo vivo a serviço diaconal de todas as pessoas. Perde o status de mantenedora e propagadora de ritos seculares e se torna ativa como sal e luz neste mundo.

Os bancos de madeira, os vitrais, o órgão, os sinos, os documentos históricos, as ofertas para manter as contas em dia, tudo faz parte da dinamicidade do Corpo de Cristo. Todos nós somos parte desta história, quer sejamos chegados recentemente ou de tradicionais famílias luteranas. Estarmos vivos hoje e vivermos esta igreja é, sim, privilégio.

Tudo é graça de Deus.

Não há dúvidas que vivemos uma espécie de fronteira na humanidade. Violências e intransigências aumentam. Racismo. Desigualdade social. Fanatismo. Desinformação. Em boa parte a própria Igreja de Cristo, enquanto organismo humano, é responsável por este descaminho.

No entanto, a graça de Deus é soberana. Deixemos Paulo falar mais uma vez: Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus. Pois pela graça que me foi dada digo a todos vocês: ninguém tenha de si mesmo um conceito mais elevado do que deve ter; mas, pelo contrário, tenha um conceito equilibrado, de acordo com a medida da fé que Deus lhe concedeu”.

Celebremos a vida

Estamos vivos! Hoje é dia de celebrarmos a vida e a esperança que vem da fé, e esta ninguém tira de nós. Deus é vida e o seu poder nos guia, corpo e alma. O Espírito Santo cria vida em mim, em você e, por estarmos com Deus, jamais perderemos a vida.

Acordamos. Vivos estamos. Estamos de pé. Estamos bem. Podemos servir. Agradecemos a Deus pelo dia; pela vida. Ele tem nos abençoado e, mesmo que com problemas aqui ou ali, nos mantém a esperança. Ele tem nos abençoado e nos ensina a espalhar o bem entre as pessoas. Não nos dá motivos de orgulho, mas de gratidão. Jesus é o autor da vida em nós. Celebremos a vida. Viver com Jesus é ser santo e agradável a Deus.

AMÉM! 


Autor(a): Pr. Rolf Rieck
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Rio de Janeiro - Martin Luther (Centro-RJ)
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Testamento: Novo / Livro: Romanos / Capitulo: 12 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 8
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 58536
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Fé e amor perfazem a natureza do cristão. A fé recebe, o amor dá. A fé leva a pessoa a Deus e o amor a aproxima das demais. Por meio da fé, ela aceita os benefícios de Deus. Por meio do amor, ela beneficia os seus semelhantes
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