Vivendo a terceira idade num ancionato

01/12/2000

Vivendo a terceira idade num ancionato

• Heinz Ehlert •

Se alguém se queixar daqui, é um ingrato. Esta é a opinião de um morador que se transferiu com sua esposa para o ancionato há mais de dois anos. Quando falamos à nossa família do propósito de vir para cá, todos se manifestaram contra. Acharam que não seria justo. Poderia ser interpretado como pouco caso ou falta de amor por parte deles. Mas nós argumentamos que já passamos dos oitenta anos e não poderíamos mais morar sozinhos e que eles todos tinham que cuidar de sua vida. Foi uma decisão amadurecida. Além disso, poderiam visitar-nos quando quisessem. Ficamos firmes. E não nos arrependemos. Hoje aceitaram, porque percebem como a minha esposa e eu nos sentimos bem. Aqui a gente tem de tudo que precisa. Além de um bom apartamento, comida e bebida, também encontramos lazer, temos cultos, visitas pastorais, cuidam da nossa saúde. Eu ultimamente assumi a incumbência de apresentar, na hora do café, as 'Senhas Diárias' a título de uma pequena meditação matinal. Continuamos com a convicção: foi uma decisão acertada vir para o Lar.

Uma outra moradora, bem mais nova, foi dona de casa. Depois que o marido faleceu e os filhos casaram, saindo de casa, sentiu-se muito solitária. Abriu-se a possibilidade de vir para este lar. Ainda tinha condições de ajudar nos serviços. Já está aqui há alguns anos. Sinto-me muito bem aqui. Não quero outra coisa. Tenho tudo de que preciso.

Bem diversificados foram os motivos que trouxeram os mais de oitenta moradores para este lar de idosos. Para a maioria foi uma opção consciente e voluntária de passar a última etapa da vida, o crepúsculo da vida, num ancionato, mantido por uma comunidade cristã, em companhia de tantos outros na mesma situação: casais, viúvas e viúvos. Só um(a) ou outro(a) também é solteiro(a). Às vezes, até acharam aqui um novo parceiro(a) para a vida.

A vida no Lar Ebenézer obedece a certas regras e rotinas. Tem horários fixos para as refeições e para os diferentes programas. Precisam comunicar quando desejam sair para passear, tratar de seus negócios ou visitar familiares e amigos. E anunciar a volta. Mas existe muita liberdade e oportunidade para desenvolver iniciativas próprias.

Um grupinho de cinco pessoas se reúne todos os dias, após o café, para uma hora de celebração devocional, com cânticos, leitura bíblica e orações. Um outro grupo, um pouco maior, se encontra numa das salas de estar, uma vez por semana, para um estudo bíblico, dirigido por um dos moradores. Ficam muito gratos, quando o pastor designado para a assistência espiritual aos moradores e funcionários pode estar com eles ou dirigir o estudo.

A assistência pastoral é, em geral, muito bem recebida, também pelos que não são da confissão luterana. Com o pastor podem conversar francamente, também sobre problemas pessoais. Esses problemas são de ordem física(doenças), psíquico-emocional e espiritual. Nisso se incluem problemas de relacionamento, seja com outros moradores, seja com os funcionários.

O lar procura oferecer programações e passatempos para tornar a vida dos moradores mais agradável Uma sala de TV e vídeo está à disposição, também uma sala de leitura com biblioteca, além de várias modalidades de jogos de mesa e outros. Os moradores aproveitam essas oportunidades. O tempo é utilizado também para conversas entre os moradores.

Com tempo bom, o amplo bosque convida para caminhadas. Para isso foi feito um caminho com piso pavimentado.

Entre as programações fixas merecem destaque os cultos semanais e as missas e novenas para os católicos.

Também se oferecem outras atividades, como, por exemplo, a dança sênior.

Pontos altos são, sem dúvida, as visitas de familiares e amigos. Mesmo durante a semana, mas especialmente nos finais de semana, pode-se notar uma movimentação dos moradores. Vestem-se de modo diferente e já se encaminham, antes da hora, aguardando ansiosamente os seus visitantes. Sempre alguns são levados para algum passeio fora do ancionato.

O mesmo acontece naquela quarta-feira do mês em que um dos grupos de senhoras (OASE) vem oferecer o café dos aniversariantes. Os aniversariantes do mês são homenageados, e alguma programação diferente é apresentada.

Mas a vida no lar também tem um outro lado. Com o tempo, os moradores vão se conhecendo muito bem. Como todos estão dentro de uma certa faixa etária (de 65 anos para cima), as conversas repetem-se muito. A gente já sabe sobre o que determinada pessoa vai falar, que lembranças do passado irá contar. Isso pode ser bastante chato. Tem também os que lamentam muito a doença ou o problema que têm, as decepções que sofreram na vida.

Difícil se torna, muitas vezes, a vida na velhice, quando a pessoa se torna cada vez mais dependente. Isto também vale quando se está num ancionato. A vantagem é que aqui se pode contar com o atendimento e amparo profissional de funcionários especialmente treinados, de dia e de noite.

Um serviço médico semanal (preventivo) está à disposição, e atendimentos de emergência e tratamentos específicos são facilitados pela administração.

A boa convivência torna-se possível quando a direção e os funcionários do ancionato se esforçam para manter uma atmosfera e um ambiente agradável de um verdadeiro lar. Mas para isso é indispensável a cooperação dos próprios moradores. Podem usar o seu espaço, sua imaginação para tornar a vida dentro do ancionato mais digna e alegre.

Nos últimos anos, porém, tem sido cada vez maior a procura de pessoas semi-dependentes ou totalmente dependentes. O lar ainda não está preparado para atender tamanha demanda. Precisa estruturar-se para isto. Tanto a comunidade eclesial como a sociedade civil e o poder público têm que voltar a sua atenção para o fato de que, no futuro, haverá um número cada vez maior de idosos na população, uma vez que a expectativa de vida da população, segundo estatísticas, tende a aumentar. Neste contexto, convém lembrar que o governo federal, através da Lei Nr.8.842 de 04-01-1994 e do Decreto Nr.1.948 de 03-06-1996, lançou a Política Nacional do Idoso. Precisamos ficar atentos para que seja executada.


O autor é pastor aposentado da IECLB e reside em Curitiba, PR


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Autor(a): Heinz Ehlert
Âmbito: IECLB
Área: Missão / Nível: Missão - Diaconia / Subnível: Missão - Diaconia e Pessoas Idosas (Instituições)
Título da publicação: Anuário Evangélico - 2001 / Editora: Editora Sinodal / Ano: 2000
Natureza do Texto: Artigo
ID: 32984
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