Vidas Secas

13/10/2014

O romance Vidas Secas, de Graciliano Ramos, consegue a proeza de apresentar de maneira resumida uma visão da sociedade brasileira em seus níveis mais profundos. Há a dimensão social da exploração e da opressão política. Há a dimensão psicológica da repressão, fazendo surgir indivíduos marcados pela introspecção. E há, por fim, a dimensão natural da seca, flagelo nordestino. Para quem ainda não o leu fica aqui uma excelente indicação.

Esta meditação poderia basear-se apenas no romance Vidas Secas, mas confesso que o título surgiu a partir de um olhar apreensivo sobre a realidade dos últimos dias, que por coincidência encontra semelhanças no livro de Graciliano Ramos.

Vivo e atuo como pastor na cidade de São Paulo, que enfrenta uma grave crise hídrica. Falta água! Por mais que as autoridades insistam em negar, claramente com fins eleitoreiros. Mas basta morar na periferia para constatar que falta água durante várias horas por dia. A seca também se faz sentir nas atitudes e falas das pessoas. Trata-se de outro tipo de seca, a seca que atinge o amor. E nestes dias de eleições parece que ela, (a seca do amor) se intensifica.

A chuva é sinal de esperança. A seca é seu contrário, é o que desanima o que produz tristeza. Acompanhei nestas eleições, que ainda não terminaram, a disseminação da intolerância, do ódio, a discriminação de minorias e isto por parte de quem se dispõem a exercer a representação política. Mas não só, também as pessoas/eleitores não conseguem conversar com quem tem uma postura política diferente. Parece que não há sede de justiça, mas sede de vingança. A discordância deixou de ser algo salutar, que ajuda a construir uma democracia mais sólida, e consequentemente pessoas equilibradas, para ser tornar fonte de discriminação e violência. Tudo isso produz tristeza e desanimo.

Por falta de esperança experimentamos:

          a seca da compreensão;

          a seca do respeito;

          a seca da compaixão;

          a seca do diálogo;

          e também a seca do amor ao próximo.

Ao olhar para a realidade e constatar a seca, elevamos nossos corações a Deus e pedimos a sua ajuda. E graças a misericórdia que Ele tem por nós, o profeta Isaías nos anuncia: “Digam aos desanimados: “Não tenham medo; animem-se, pois o nosso Deus está aqui. Ele vem para nos salvar, ele vem para castigar os nossos inimigos.” Então os cegos verão, e os surdos ouvirão; os aleijados pularão e dançarão, e os mudos cantarão de alegria. Pois fontes brotarão no deserto, e rios correrão pelas terras secas. A areia quente do deserto virará um lago, e haverá muitas fontes nas terras secas. Os lugares onde agora vivem os animais do deserto virarão brejos onde crescerão taboas e juncos.”( Is 35.4-7)

Que nossa esperança de transformação repouse somente no Senhor. Amém.

 


Autor(a): P. Carlos Alberto Radinz
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Meditação
ID: 30225
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