Vidas entre fronteiras

Artigo

01/10/2007

Os escritos bíblicos nos conduzem a vivências acontecidas em regiões fronteiriças. Por exemplo, Moisés, o líder em Israel, conduziu o povo eleito até a entrada a Terra Prometida. Antes, porém, de pisar o chão daquela terra ele morreu. Quando celebravam, no templo, a libertação e manifestavam a sua confiança e gratidão ao Deus-Javé, os israelitas celebrantes, em razão da Lei do templo, estavam desautorizados a se aproximar do lugar mais sagrado naquele recinto.

Jesus, o Messias de Deus, preparou-se para o exercício da missão no deserto, no limite entre a realidade da vida e o horizonte da morte. Em outro contexto, Jesus circulou em regiões limítrofes da Samaria e da Galiléia. Foi ali que o Filho de Deus curou, acompanhou pessoas, trazendo nova esperança e anunciou o Reino de Deus. Jesus Cristo foi o primeiro humano a ser ressuscitado dentre o reino dos mortos. A passagem do poder da morte para a nova realidade da vida, na perspectiva da eternidade, continua sendo determinante á fé cristã. Jesus identificado e anunciado como precursor e guia rumo ao mundo vindouro, tornou-se cidadão pioneiro da nova Cidade de Deus. Através da sua mediação aconteceu a revelação dos mistérios celestiais. A ele coube apontar aos insondáveis juízos de Deus e acompanhar os seus, através dos impenetráveis caminhos de Deus.

A sociedade moderna criou mecanismos e mantém caminhos abertos para que necessidades pessoais sejam satisfeitas, sobretudo quando a vida humana vive a realidade de limites. O transporte de uma esfera a outra é visualizado através de ritos de passagem celebrados em comunidade. Quem não os conhece? Com gratidão as famílias se lembram do batismo, da confirmação ou da crisma de adolescentes, da bênção matrimonial; no final da vida a comunidade valoriza o rito do sepultamento, sinal de misericórdia em meio ao luto. Os ritos expressam situações que transferem a pessoa humana de um estado de espírito a outro. Ritos de passagem oportunizam o confronto com um mundo novo e permitem a integração da pessoa humana no mundo sagrado. Nesse processo a Igreja de Jesus Cristo dispõe de pessoas capacitadas e ordenadas, a prestarem a sua companhia fraterna.

Avalio que no espaço das fronteiras confessionais circula a comunidade ecumênica. É ali que são armadas tendas ecumênicas, pressupondo que haja, por um lado, clareza quanto à própria identidade confessional e, por outro lado, se vivencie o mandato do Evangelho em apoio ao projeto da nidade das Igrejas. Avanços e recuos fazem parte do ideal do projeto da unidade. O ex-secretário-geral do Conselho Mundial de Igrejas, Phillip Potter, destacou: A aspiração pela unidade da Igreja encontra-se indissoluvelmente ligada à aspiração pela unidade da humanidade. E o Papa João XXIII asseverou: No juízo final não seremos perguntados se nós conseguimos realizar a unidade, mas se pela unidade oramos, trabalhamos e sofremos.

Pessoas cristãs que ousam viver entre as fronteiras confessionais e apostam no projeto da unidade, ouvem com sensibilidade a reação do Espírito Santo contra todo tipo de acomodação ou de conformismo!

Manfredo Siegle
Pastor Sinodal do Sínodo Norte-catarinense
da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB)
em Joinville - SC

Diocese Informa - 10/2007


Autor(a): Manfredo Siegle
Âmbito: IECLB / Sinodo: Norte Catarinense
Área: Publicações / Nível: Publicações - Artigoteca
Natureza do Texto: Artigo
ID: 8715
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