Venha o teu reino!
“Venha o teu reino.” Esta é a prece central do primeiro conjunto de preces do Pai Nosso – que trata da causa de Deus no mundo: teu nome, teu reino, tua vontade. Ela é, na origem, uma prece política. Diante do fracasso de todas as conhecidas formas de gover- no humano, as esperanças dirigem-se, já no Antigo Testamento, a um futuro em que o próprio Deus governará o seu povo. Ambos os Testamentos são pródigos em imagens que buscam descrever essa época de justiça, de paz e ausência de violência, de dor, de opressão, de fome e discriminação (cf., p. ex., Isaías 11.6-9; Apocalipse 21.1-5). Ao lado dessa compreensão temporal futura, encontra-se, no Novo Testamento, também a convicção de que, com a atuação de Jesus, já “é chegado o reino de Deus sobre vós” (Lucas 11.20). As curas realizadas por Jesus são entendidas como sinais da irrupção da época da salvação (Lucas 7.22; Marcos 7.37). É chegada a hora da misericórdia de Deus (Lucas 15.4-7). E o que foi iniciado com Jesus será concluído, no futuro, por Deus. A parábola do grão de mostarda (Marcos 4.30-32) o expressa assim: o grão já foi semeado, mas a planta ainda vai crescer.
A segunda prece pressupõe que o reino de Deus ainda não é fato totalmente presente. Pedimos que ele “venha”. Isso, no entanto, não significa que devamos esperar de braços cruzados até a vinda do reino. Quando o evangelista Marcos (1.15) resume a mensagem de Jesus na frase: “O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo”, ele, de imediato, acrescenta dois imperativos: “arrependei-vos e crede no Evangelho”. A vinda do reino implica uma decisão inadiável de nossa parte. Necessária é uma mudança de mentalidade: importantes não são os nossos conceitos de reino – como felicidade pessoal, sucesso profissional, constante progresso ou desenvolvimento econômico ilimitado. Decisivo é que Deus “governe” nossas vidas e nossa sociedade.
A prece “Venha o teu reino” também pressupõe que as pessoas não conseguem “construir” o reino de Deus. Todas as possíveis formas de sociedade que a humanidade construiu no passado ou ainda instituir no futuro certamente não podem ser identificadas com o reino de Deus. Isso, no entanto, não deve ser um estímulo ao fatalismo e à inatividade. “Crer no Evangelho” também não significa crer que a vida plena somente existirá após a nossa morte. A fé cristã se dirige contra a fatalidade: as coisas “podem” mudar. Ainda que não possamos construir o reino de Deus, a segunda prece nos urge a colocar sinais de nossa esperança nesse reino. Em outras palavras: quem ora “venha o teu reino” compromete-se a plantar sementes da vida plena para todas as pessoas e toda a criação.
P. Dr. Nelson Kilpp - Kassel / Alemanha
Oração:
Pai misericordioso faça de nós testemunhas do teu reino! Faze com que possamos ser instrumentos de reconciliação e paz, promotores de relações justas e fraternas entre as pessoas e multiplicadores da alegria que nasce da certeza de sermos tuas filhas e teus filhos amados. Amém!
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