Urubus, gaviões, águias, papagaios e pombas...

23/02/2016

Conta-se que um Urubu e sua família viviam na fenda de uma rocha numa montanha. Certo dia, começaram a passar mal, pois pegaram uma doença comendo carne podre. Na montanha, também, viviam outras aves. Quando o Gavião soube, foi bem crítico: É problema deles. Vivem comendo animais mortos o tempo todo. Eles nunca aprendem. Eu sabia que isto iria acontecer”. Indignado pelo estilo de vida dos Urubus, em vez de ajudá-los, advertia as outras aves a não se aproximarem do ninho deles. Já a Águia agiu de forma totalmente diferente;. Como simplesmente ignorava os Urubus, construiu outro ninho muito mais alto do que o deles (e dos outros). Ficou isolada com sua família, formando sua comunidade exclusiva, com seus próprios regulamentos. Por sua vez, o Papagaio agiu fascinado pelo estilo de vida dos Urubus. Admirava sua independência e liberdade. Mesmo sabendo dos riscos, por que também não poderia ele comer o que e quando quisesse, nem que fosse comida estragada? Assim o fez. Tornou-se como o Urubu, voou como o Urubu, comeu como o Urubu... Também, adoeceu como o Urubu. Certamente, não ajudou em nada, fora o fato de que a miséria gosta de companhia. Por fim, a Pomba e sua família resolveram ajudar. Não compartilhavam do estilo de vida dos Urubus. Embora se alimentassem apenas de sementes, passaram a lhes levar carne sadia e lhes ensinaram bons hábitos de higiene. Em poucas semanas, a família de Urubus voltou a ter saúde e, além de mudar seu estilo de vida, ganharam a amizade das Pombas.

No Sermão do Monte, Jesus aproxima seus ouvintes da prática da Palavra de Deus; Ele associou o Antigo Testamento (a Bíblia a qual tinham acesso) – com suas leis e orientações – ao cotidiano. Deu exemplos bem práticos de como viver o amor a Deus e ao próximo. Mais do que religiosidade bem observada – como muitos dos mestres ensinavam em Israel – Jesus queria levar seus ouvintes à vivência da fé marcada pelo amor. Uma fé autêntica de pecadores agraciados. Parte deste Sermão, lemos em Lucas 6.32-38:

Que mérito vocês terão, se amarem aos que os amam? Até os ‘pecadores’ amam aos que os amam.
E que mérito terão, se fizerem o bem àqueles que são bons para com vocês? Até os ‘pecadores’ agem assim.
E que mérito terão, se emprestarem a pessoas de quem esperam devolução? Até os ‘pecadores’ emprestam a ‘pecadores’, esperando receber devolução integral.
Amem, porém, os seus inimigos, façam-lhes o bem e emprestem a eles, sem esperar receber nada de volta. Então, a recompensa que terão será grande e vocês serão filhos do Altíssimo, porque ele é bondoso para com os ingratos e maus.
Sejam misericordiosos, assim como o Pai de vocês é misericordioso.
Não julguem, e vocês não serão julgados. Não condenem, e não serão condenados. Perdoem, e serão perdoados.
Deem, e lhes será dado: uma boa medida, calcada, sacudida e transbordante será dada a vocês. Pois a medida que usarem, também será usada para medir vocês.

Gente que crê precisa ter algo mais do que os descrentes. Amar, todo mundo é capaz de amar. Mas Jesus é bem direto: amar a quem não nos ama, fazer o bem a quem não merece ou a quem nos fez o mal, ajudar mesmo estando sujeitos a não receber de volta ou a sofrermos calote... Isso tem uma razão que jamais será compreendida a partir do nosso ponto de vista. Deus ama a todos, mesmo os que não lhe amam. Por amar, Ele é misericordioso e cheio de compaixão. E como estas pessoas serão agraciados com o seu amor? Através de quem crê e ama a Jesus Cristo! Esta é a razão. Deus escolheu agir e demonstrar seu amor através de mim, de você e de todas as pessoas que declaram a fé em Cristo.

Nesta direção, Paulo escreve em Gálatas 6.7-10:

Não se deixem enganar: de Deus não se zomba. Pois o que o ser humano semear, isso também colherá.
Quem semeia para a sua carne, da carne colherá destruição; mas quem semeia para o Espírito, do Espírito colherá a vida eterna.
E não nos cansemos de fazer o bem, pois no tempo próprio colheremos, se não desanimarmos.
Portanto, enquanto temos oportunidade, façamos o bem a todos, especialmente aos da família da fé.

O apóstolo aconselha as pessoas cristãs a levarem a sério seu ralacionamento com Deus. Religiosidade vazia e fé sem amor são desmascarados por Ele. Levar Deus a sério é continuamente semear o bem (8-9). Quem tem o “coração” transformado pelo Espírito Santo age deste modo. Se for semear a partir de sua natureza humana, deixará de fazer a vontade de Deus. É preciso amor para semear. E este amor me leva a querer fazer o bem continuamente, sem me deixar vencer por cansaço, desânimo e indiferença, dando desculpas do tipo: “Este mundo não tem jeito”, “Do que adianta, se muitos não estão nem aí?”, “Se os meus estão bem, por que me preocupar com os outros?” A promessa de Deus, que Paulo reafirma, é que haverá colheita. Assim como um agricultor ou agricultora não deve desistir, por mais difícil que seja fazer o seu trabalho e aguardar o resultado deste, também quem crê em Jesus precisa continuamente, por amor, a semear o bem. Embora se diga ali que é principalmente aos da família da fé, também em relação a todos (10). Justamente, como Jesus disse no Sermão do Monte.

Dizem que, de boas intenções, o inferno está cheio... Então, como gente que crê, não podemos ficar só nas boas intenções. A fé nos leva a agir em amor e a sempre fazer o bem, independente para quem seja. Mesmo se for alguém que não goste de nós, ou que nos fez mal, ou que, do nosso ponto de vista, não mereça. E aí entra aquela historinha do início. Quem é quem nela? a) Urubu = quem não confia em Cristo e vive só para seus desejos, correndo o risco de se contaminar e adoecer. São aqueles que não creem ou não levam Deus a sério. Podem ser nossos parentes, vizinhos, amigos, colegas de trabalho ou estudo. b) Gavião = quem se declara cristão ou cristã, mas só critica, ataca e julga (conforme Lucas 6.37-38). Jesus não disse que devemos concordar com o pecado dos outros, mas disse para agir em amor para com os pecadores. Quem julga é Deus. O Gavião é como o fariseu, que Jesus tanto confrontou: zeloso das coisas de Deus, mas sem amor. c) Águia = quem se declara cristão ou cristã, mas se julga melhor, se isola e é indiferente. Basta o bem-estar das pessoas mais próximas. Pensa que é mais santo e mais próximo de Deus. d) Papagaio = quem se declara cristão ou cristã, mas inveja e, fora da Igreja, imita o estilo de vida dos urubus. Pensa que não faz mal e que nada vai acontecer, mas acabará se contaminando com a vida de pecado. e) Pomba = quem se declara cristão ou cristã e se aproxima com compaixão dos urubus. Mistura-se a eles, mas não age como eles. Leva-lhes alimento sadio (Evangelho) e bons hábitos (ética), como pecador agraciado ou pecaora agraciada com o perdão divino. Desta forma, deseja que os urubus conheçam o amor de Jesus Cristo e sejam transformados.

Posso tentar me iludir e achar que sou sempre Pomba (cheio de compaixão)... Mas quantas vezes não me comporto como Gavião (em constante julgamento), Águia (indiferença aos demais) ou Papagaio (imitação dos urubus)? Tenho feito o bem por amor? Procuro ver as pessoas sob o ponto de vista da misericórdia de Deus ou da minha natureza humana? Quanto menos eu fizer o bem, é como se mais um foco de luz se apagasse na escuridão deste mundo.

Quaresma nos oportuniza refletir: o que Cristo faria? E o que eu tenho feito? Pense nisso...
 


Autor(a): P. Alexandre Fernandes Francisco
Âmbito: IECLB / Sinodo: Norte Catarinense / Paróquia: Joinville - São Mateus
Testamento: Novo / Livro: Lucas / Capitulo: 6 / Versículo Inicial: 32 / Versículo Final: 38
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Meditação
ID: 36880
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Façam todo o possível para juntar a bondade à fé que vocês têm. À bondade, juntem o conhecimento e, ao conhecimento, o domínio próprio. Ao domínio próprio, juntem a perseverança e, à perseverança, a devoção a Deus. A essa devoção, juntem a amizade cristã e, à amizade cristã, juntem o amor.
2Pedro 1.5-7
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