Uma terra chamada Felicidade
Inês de França Bento
Há muito tempo, existiu um lugar chamado Felicidade.
Neste lugar, havia muita terra. Ninguém tinha um papel que dizia ser sua aquela terra, e assim todos podiam cultivá-la e produzir muitos frutos saborosos para saciar a fome. Havia uma infinidade imensa de plantas, pássaros de todas as cores, animais pequenos e grandes, montanhas, rios, mares, estrelas, lua, sol, pôr-do-sol, para embelezar a alma.
E tudo era muito lindo. As pessoas cuidavam desse lugar com tanto carinho como cuidavam das suas casas modestas, confortáveis e belas... com quintais e jardim com muitas flores, (amores-perfeitos e muitos girassóis). As pessoas mais felizes plantavam tulipas, e elas floresciam...
Havia homens, mulheres, moços, moças, crianças, idosos e todos se entendiam, se respeitavam e eram solidários uns com os outros...
Ninguém prestava atenção se eram gordos, magros, baixinhos, vermelhos, amarelos, roxos, listrados... isso não tinha importância.
Os idosos eram considerados sábios. Eram tratados com especial carinho. Ouviam-se atentamente seus conselhos e suas brincadeiras os identificavam com as crianças com quem se entendiam melhor.., não se sabe bem o porquê.
As crianças gostavam muito das escolas. Elas eram alegres, pintadas com cores animadas. Eram divertidas e ensinavam coisas muito interessantes através de jogos, esportes, teatro, dança, música, dinâmicas, filmes e ótimas bibliotecas. Muitos livros: de literatura, de matemática, ciências. Os livros eram tão belos, que os professores eram apaixonados por eles. Motivo da facilidade com que os alunos se encantavam com o aprendizado.
Nesse lugar, as crianças não ficavam nas sinaleiras e nas ruas. Outras famílias cuidavam delas, se os pais não pudessem.
Havia uns lugares belíssimos, com árvores, rios, construções simples, belas e confortáveis, convidativas ao estudo e à reflexão. Chamavam-se universidades. Espaços para aperfeiçoar o conhecimento. A pesquisa era de muito valor, pois entendia-se que sabiam pouco e queriam aperfeiçoar-se. Não havia diferença entre faxineiros e doutores. Todos sabiam que eram diferentes, e a diferença os tornava especiais. Chamavam-se doutores pela capacidade que possuíam em transformar o conhecimento em felicidade. Assim o conhecimento tornava aquela sociedade mais feliz.
Havia trabalho para todos os adultos, e as profissões eram escolhidas com alegria e prazer. Havia pessoas com várias profissões, porque gostavam de aprender e mudar sempre.
Os salários eram equivalentes, e não havia diferença entre eles. Assim todos faziam bem, tudo! As pessoas ofereciam o melhor de si, eram tratadas com dignidade e a sociedade lhes proporcionava o que possuía de melhor.
Não havia muitos hospitais e os que havia eram muito especializados: em competência, carinho, sabedoria... afinal, quase não havia doentes. Onde há felicidade, há alegria, e estas não combinam com doença.
O atendimento público era especial. As pessoas se interessavam pelos assuntos e problemas dos outros e colocavam a técnica a serviço do povo.
Não havia presídios, cadeias, delegacias...
Havia justiça, bondade, misericórdia, fraternidade.
Quando alguém feria alguém, ou interrompia o processo da felicidade (ambição, traição, furto), ele mesmo solicitava ajuda, pois sabia que precisava ser curado. Para tais assuntos eram convocados os grandes mestres e sábios, os que possuíam muita sabedoria e jeito de dialogar com as pessoas.
Os homens e as mulheres sabiam de suas diferenças. Isto não os tornava inferiores e nem inseguros, ao contrário: somavam suas riquezas e com isso eram mais felizes.
Nessa terra chamada Felicidade, havia partilha de serviços.
Os serviços chamados administrativos eram feitos por rodízio e por afinidade.
Havia um lugar público com uma mesa redonda onde reuniam-se os Conselheiros da Felicidade, que eram indicados nas bases e eleitos por todos. Os critérios para a escolha eram: atitudes de bondade, de serviço à comunidade, senso de justiça e sobretudo pela sabedoria que possuíam. O Conselho era renovado anualmente, para que esse processo fosse socializado. (Colaborações especiais para este processo: a imprensa).
Nota: não havia guerras. Não havia limites entre nações, nem fronteiras. Todos cuidavam de tudo e de todos. Esse lugar existiu e sempre existirá no coração do ser humano que busca essa terra chamada Felicidade!
Era para falar do ano 2000. Então, imaginei que pediram um artigo para o autor da estória do Jardim da Felicidade e foi assim que comecei.
Sonhei que deixamos as coisas velhas deste milênio e inauguramos um novo tempo nesta virada de século!
E Deus sonhou, e ao acordar, havia um universo...
A autora é doutoranda em Filosofia da Religião na Unicamp e coordena o CEBEP (Centro Evangélico Bras. de Estudos Pastorais), em Campinas, SP
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