Uma nova posição - a propósito das eleições

Artigo

01/10/2010


Uma posição recomendada

Para vós outros, ó coríntios, abrem-se os nossos lábios, e alarga-se o nosso coração. Não tendes limites em nós; mas estais limitados em vossos próprios afetos. Ora, como justa retribuição (falo-vos como a filhos), dilatai-vos também vós. Não vos ponhais em jugo desigual com os incrédulos; porquanto que sociedade pode haver entre a justiça e a iniquidade? Ou que comunhão, da luz com as trevas? Que harmonia, entre Cristo e o Maligno? Ou que união, do crente com o incrédulo? (2Coríntios 6.11-15)

A palavra bíblica norteadora nos dá a sugestão (seria ordem?) de alargarmos o nosso coração para que possamos entender o contexto no qual vivemos como cristãos. Diante das eleições isso não é diferente. Por isso, não com o intuito de julgar, mas de olharmos para o que aconrtece ao nosso redor, lhe convido para observar o seguinte:

Algumas opiniões que circulam sobre estas eleições:

“Iniquidade é quando a gente está tão acostumado ao pecado que a gente não tem mais vergonha de cometê-lo. Passa a ser algo tremendamente natural na nossa vida. Quando a iniquidade chega... quando o coração do homem está tão endurecido por causa do pecado que não pode mais reconhecer seu pecado, isto sinaliza que é tempo de Deus julgar esta nação”.O Pe. Paulo Ricardo fala em sua homilia do Plano Nacional dos Direitos Humanos: “Nós vivemos um tempo de graves e sérias mudanças no nosso País. O decreto [do Plano Nacional dos Direitos Humanos] é muito extenso, várias páginas, o português é jurídico, difícil de leitura. Mas o que o decreto faz é o seguinte: ele cria duas categorias de cidadão (sic). Existem agora (...) dois tipos de brasileiros: aqueles que podem ser funcionários públicos e não são cristãos e aqueles que são cristãos e são cidadãos de segunda categoria. Essa é a consequência desse decreto. O decreto quer colocar algemas nos cristãos e tornar o cristianismo neste País praticamente ilegal. Porque através deste decreto nenhum funcionário público pode ser contra o aborto, nenhum funcionário público pode ser contra o casamento de pessoas do mesmo sexo, nenhum funcionário público pode ser contra invasões despropositadas de terra, nenhum funcionário público pode ser contra a lei e a política do governo de retirar de todos os lugares públicos símbolos religiosos.
Outro vídeo que circula na internet, fala em palavra de alerta por causa das muitas leis que estão na pauta do congresso e que poderão criminalizar muito daquilo que é pregado pela igreja. Diz que isso não é motivo de pavor, mas exige atenção do povo cristão. Fala em palavra de posicionamento, onde convoca o povo cristão a ter respeito pela diversidade, mas um posicionamento firme sobre o que lhe caracteriza como cristão. Por fim fala de uma palavra de confiança, citando Provérbios 29.2: Quando se multiplicam os justos, o povo se alegra, quando, porém, domina o perverso, o povo suspira.A IECLB e a IELB lançaram uma declaração conjunta. “Uma igreja não tem nem pode ter partido político; no entanto, ela não é apolítica. Todo o seu trabalho e sua atuação têm implicações políticas. Um dos papéis da igreja é justamente trabalhar para que toda a sociedade, incluindo os partidos políticos, se empenhem para que a vontade de Deus em favor das pessoas seja feita também na esfera social e política. Como cidadãos luteranos, integrantes de um país, somos pessoas politizadas. Podemos e devemos ser sal e luz no mundo (Mateus 5.13 e 14) e, diga-se de passagem, “mundo” é ali onde vivemos, em casa, na escola, no nosso trabalho, no bairro, na cidade etc. Portanto, antes de votar, ouça, pesquise, indague, questione, proponha, selecione. Escolha quem você realmente crê que irá desenvolver um bom mandato, em favor de uma vida digna para todas as pessoas, em favor de uma sociedade solidária e justa.”
A nossa ação em meio a isso tudo.

Basta dizer que devemos acionar a máquina de mudar o futuro – a urna eletrônica – e tudo estará resolvido? Jesus fala de coisas perdidas e que devem ser reencontradas. Fala mesmo que precisamos procurar pelas coisas certas e valiosas (veja as parábolas em Lucas 15). Coisas erradas, como a iniquidade, podem e devem ser extirpadas da sociedade humana e brasileira. O pecado deve ser banido, e não acobertado. Pessoas pecadoras como eu, você, políticos corruptos, além de governantes ateus, podem reencontrar seu caminho, sua condição de servidores do amor e da justiça de Deus.

Qual o caminho? O da reconciliação. Como? Através do perdão. Onde isso vai dar? Na transformação – individual e social. Através de um coração limpo que permite ver a justiça que emana de Deus, conforme Jesus afirma no Sermão do Monte.

Escreve C.S.Lewis (CONTRACULTURA CRISTÃ – Direitos reservados pela ABU Editora S/C — S. Paulo — SP — 1981): “Fica imediatamente óbvio que as palavras 'de coração' indicam a que espécie de pureza Jesus se refere (...). De quem, então, os ‘limpos de coração’ estão sendo distinguidos? A interpretação popular considera a pureza de coração como uma expressão de pureza interior, a qualidade daqueles que foram purificados da imundície moral (...). Para assumir o cargo de Rei da nação, sabia-se no AT que o candidato precisava apresentar-se ‘limpo de mãos e puro de coração’. Por isso Davi, consciente de que o seu Senhor desejava ‘a verdade no íntimo’, orou: ‘Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova dentro em mim um espírito inabalável'. Jesus adotou este tema na sua controvérsia com os fariseus e queixou-se da obsessão deles pelo exte­rior e pela pureza cerimonial: ‘Vós, fariseus, limpais o exterior do copo e do prato; mas o vosso interior está cheio de rapina e perversidade’. Eles eram como ‘sepulcros caiados, que por fora se mostram belos, mas interiormente estão cheios de hipocrisia e de iniqüidade’.

É aqui que nós, cristãos, luteranos ou não, nos encontramos muitas vezes. Queremos posturas justas e puras dos outros mas, em nosso interior, existe o mesmo que existia nos fariseus.

“Lutero deu a esta diferença entre a pureza interior e a exterior uma interpretação caracteristicamente natural, contrastando a pureza de coração não só com a contaminação cerimonial, mas também com a simples sujeira física. ‘Cristo . . . quer um co­ração limpo, embora exteriormente a pessoa possa estar con­finada à cozinha encardida e cheia de fuligem, fazendo toda espécie de trabalho sujo.’ E novamente: ‘Embora um traba­lhador comum, um sapateiro ou um ferreiro possa estar sujo e cheio de fuligem ou mesmo cheirar mal porque está coberto de pó e piche, . . . e embora cheire mal externamente, no interior é puro incenso diante de Deus’ porque, em seu coração, medita na palavra do Senhor e lhe obedece.”

Continua o filósofo cristão C.S.Lewis: “Contudo, como são poucos os que, dentre nós, vivem uma vida aberta! Somos tentados a usar uma máscara diferente e a representar um papel diferente, de acordo com cada ocasião. Isto não é realidade, mas representação, que é a essência da hipocrisia. Algumas pessoas tecem à sua volta um tal emara­nhado de mentiras que já não conseguem mais dizer qual a parte real e qual a criada pela imaginação. Só Jesus Cristo, entre os homens, foi absolutamente limpo de coração, foi inteiramente sem malícia.”

Jesus, ao alertar seus seguidores todos a ter uma postura contundente, clara e objetiva nesta sociedade, alerta: Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus. Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor! porventura, não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então lhes direi explicitamente: Nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniquidade.

Professar Jesus precisa ser ato público e notório para que o público possa analisar a pureza de coração – está ela presente ou não? Não pode ser uma confissão apenas verbal. Precisa ser de coração. Quem vai julgar? Nós? Fariseus? Quem pode apresentar sua ficha política limpa e apresentar uma ética social condizente com os valores cristãos? Quem pode dar um basta? Profetas somos! Como profetas, vivamos na retidão, denunciemos toda e qualquer possibilidade e intenção de corrupção, injustiça e tolhimento da verdade, e anunciemos o perdão e a reconciliação em Jesus.

Para as pessoas que costumam pautar suas ações sociais e políticas pelos princípios da autoridade bíblica, fica o desafio paulino (veja acima) de alargar o coração com aquilo que é verdadeiro e justo. As ações políticas de pessoas comprometidas com Jesus Cristo haverão de ser condizentes com um só peso e uma só medida: justiça, luz, Cristo. Mas há muitos que preferem o caminho largo do poder excercido com iniqüidade, nas trevas, comprometidos com o Maligno.

Penso que não estamos autorizados a julgar, mas sim, convocados a ser diferentes!

P. Rolf Rieck
Setembro/ 2010

 

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