Uma criança nasce

Meditação

24/12/2004


Porque Deus amou o mundo. Quem formula uma frase assim parece ter um conteúdo extremamente importante a repartir. A conjunção afirmativa porque indica para um fato ao qual não se impõem restrições ou condições. Sucedeu algo humanamente inconcebível. O amor de Deus tem como destinatário o mundo que vive à margem da vontade de Deus, e que, em conseqüência, agiliza a sua autodestruição. Mas é precisamente este mundo rebelde, em busca da sua total autonomia e de liberdade, que experimenta o amor de Deus. Dá-se início a uma das páginas mais fantásticas da história humana e universal. Apesar das iniciativas interesseiras das privatizações dos meios que sustentam a vida e o convívio das pessoas, apesar da secularização promotora da desconfiança em relação a Deus, ainda que a comercialização das expectativas natalinas desvirtue o conteúdo do Natal, o anúncio da mensagem do nascimento do Salvador é de uma importância universal, sem igual. A grande reviravolta na humanidade acontece sendo obra do amor de Deus..

Este amor vale para todas as pessoas, independente da disposição de levar uma vida carregada por emoções piedosas. O céu e a terra se encontram em Belém. O mundo pode renascer, porque uma criança nasceu, um menino se nos deu. Neste mundo de Deus, ninguém mais pode ser taxado como pessoa perdida. Se aceitarmos este milagre em meio à cultura promovida pelos sentimentos passageiros e pela especulação comercial do Natal, é outro detalhe. As muitas formas que a sociedade humana desenvolveu para criar a sua cultura do Natal, na sociedade de consumo, indicam que algo de muito especial aconteceu. Uma grande parcela do nosso povo desconhece o verdadeiro sentido do Natal. As nossas cidades atraem turistas para o Natal-luz. O entusiasmo comercial antecipa, de forma apressada, o evento festivo do Natal e lembra das grandes vantagens de fazermos as compras dos presentes já em outubro ou em novembro. A montagem do cenário da grande festa da cristandade é feita com muita competência, mas com pouco conteúdo. O nascimento humilde ocorrido em Belém foi substituído pelo Natal-ceia, Natal-cartão, Natal-e-mail. O Natal de Jesus Cristo contradiz o circo natalino.

Quando Deus criou este mundo, ao término de cada dia, Ele descobria que a criação era de uma beleza ímpar e muito boa. Este mesmo Deus que criou tudo, com tamanha competência e beleza, é também aquele que dá uma nova chance a Caim, o matador do seu irmão. O mesmo Deus que é incansável em oferecer novas oportunidades às criaturas, e que, sempre de novo, abre portas quando a vida se encontra em becos obscuros, sem rumo, continua presente no mundo moderno. Juízo e amor andam lado a lado e fazem parte da ação soberana de Deus. Apesar de todas as contradições, o amor de Deus continua presente e jamais perde a sua atualidade. A pedagogia prioritária de Deus obedece a uma estratégia bem particular: oferecer o seu imensurável amor. As pessoas que seguem nos passos da criança nascida em Belém andam de olhos abertos; elas não são vítimas nem da própria ingenuidade e tampouco realizam aventuras cegas.

A encarnação do amor de Deus dá início a uma nova página da história. Em meio ao mundo onde transparece tanta mediocridade, o amor de Deus traz novo alento e nova esperança.

A história da salvação começa pelo lado avesso. Este milagre que nos torna mais humanos principia na manjedoura em Belém. Trata-se de uma história silenciosa.. A história da salvação começa com a disposição de Maria, aquela menina-moça, talvez 16 anos. Mas ela é a escolhida para dar carne à promessa de Deus. Renasce o mundo, é Natal. Esta Boa Notícia precisa ser festejada a cada dia. É por sua causa que vale a pena empenhar toda a vida!

Manfredo Siegle
pastor sinodal do Sínodo Norte-catarinense
da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB)
em Joinville - SC

Jornal ANotícia - 24/12/2004

 


Autor(a): Manfredo Siegle
Âmbito: IECLB / Sinodo: Norte Catarinense
Área: Celebração / Nível: Celebração - Ano Eclesiástico / Subnível: Celebração - Ano Eclesiástico - Ciclo do Natal
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Meditação
ID: 7448
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