Um Conto de Natal
Anamaria Kovács
Era véspera de Natal. Estava tudo muito quieto, e a lua cheia brilhava no céu sem nuvens. Na sala de estar da casa, o pinheiro refletia os raios prateados; cada enfeite, cada pequena lâmpada reluzia.
De repente, a estrela dourada no alto do pinheiro brilhou mais forte, espalhando sua luz por toda a árvore.
— Como estás linda! — exclamou admirado o pequeno limpador de chaminés, pendurado logo abaixo dela.
— Preciso mostrar a todos o caminho para Belém! — respondeu a estrela.
— Nós também fazemos isso! — disse uma das pequenas lâmpadas pisca-pisca.
— Sim, mas eu brilho aqui em cima há muitos anos. Vocês chegaram há pouco tempo. Antigamente, eram as velas que iluminavam a noite de Natal. Mas aconteceram muitos acidentes, os pinheiros pegavam fogo com facilidade. Por isso, os homens trocaram as velas por vocês —explicou a estrela.
Um sininho prateado tilintou suavemente.
— Eu também estou aqui há muito tempo! Lembro às pessoas a alegria pelo nascimento de Jesus! Também conheci as velas de parafina e as bolas de vidro. Tenho saudade delas. Eram tão bonitas...
— Sininho, nós podemos não ser tão bonitas quanto elas, mas temos o mesmo sentido: também representamos as boas ações das pessoas! — reclamou uma linda bola vermelha.
— Isso mesmo! — apoiou uma bola dourada — Representamos o amor, a paciência, a fé, a alegria... E não quebramos quando nos deixam cair no chão!
O pequeno limpador de chaminés ficou triste. Todos têm uma mensagem para os homens, menos eu... O que é que eu represento? Em certos países, nem existem chaminés para limpar...
A estrela adivinhou os pensamentos do limpador de chaminés. Envolveu-o carinhosamente em sua luz dourada e disse:
— Antigamente, as pessoas acreditavam que você, ao limpar a sujeira da chaminé, levava embora todas as coisas ruins da casa. Diziam que você trazia boa sorte. É somente uma tradição, mas você pode se orgulhar dela. Vocês, limpadores de chaminés, são importantes!
— Obrigado... — murmurou o limpador.
— Ho,ho,ho! — ecoou a voz grave do Papaia Noel, lá de trás da árvore — Veja, limpador de chaminés, como você é importante: se eu entrar numa casa onde você não esteve, vou sair dali todo sujo de fuligem!
— É verdade! — concordou o limpador, mais animado.
— Noite Feliz... — começaram a cantar todos os anjinhos espalhados pelos ramos da árvore. O maior de todos, vestido com uma linda roupa branca bordada com pérolas e fios dourados, fora colocado perto do presépio, ao pé do pinheirinho.
— Eu represento Gabriel — informou ele —O anjo que anunciou a Maria que ela seria a mãe do Menino Jesus. Ele também contou a boa nova aos pastores nos campos.
— Você é muito bonito... e importante, também — observou o limpador de chaminés.
— Os anjos são os mensageiros de Deus —explicou Gabriel. — Por isso, as pessoas colocam figuras de anjos na árvore de Natal.
Uma voz suave e profunda ecoou então pela sala.
— E eu, que trago todos vocês sobre os meus galhos?
Era o pinheiro quem falava.
A Estrela sabia a resposta:
— Você, meu amigo, representa a fidelidade de Deus; quer dizer que Ele nunca se esquece de seus filhos e filhas, que está sempre ao lado deles... Você foi escolhido há muitos anos, por Martim Lutero, que morava na Alemanha. Ele percebeu que só você continua com suas folhas verdes durante o inverno, que lá é muito frio. As outras árvores perdem suas folhas, mas mesmo quando a neve cai e cobre tudo com seu manto gelado, você continua verdinho. Assim, mesmo quando alguém passa por momentos muito difíceis na vida — como uma espécie de inverno — Deus continua ao seu lado. Ele é fiel, e é isso que você representa.
Nesse instante, ouviu-se um ruído atrás da porta fechada da sala. Alguém ia entrar! A estrela apagou a sua luz; todos os enfeites ficaram quietinhos. Mas o limpador de chaminés, acariciado pelos raios do luar, continuou brilhando na escuridão...
A autora é jornalista e professora emérita, reside em Blumenau/SC
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