Um barco carregado vem com precioso dom: Traz o Senhor amado, traz graça e salvação
Este é um dos mais antigos hinos em nosso hinário. A tradução se baseia numa versão alemã feita em 1626 pelo pastor e educador Daniel Sudermann (1550-1631) em Estrassburgo, um precursor do pietismo e afeiçoado colecionador de antigos manuscritos de conteúdo místico. Ele havia encontrado um manuscrito (de 1450), cujo conteúdo ele supôs ser da autoria de Johannes Tauler (1300-1361). A respeito de sua adaptação, Sudermann escreveu: Um antiqüíssimo cântico, que foi encontrado entre os escritos do Sr.Tauler, atualizado para melhor ser entendido. - A melodia é de autor desconhecido, encontrada no Andernacher Gesangbuch de 1608.
1.- Um barco carregado vem. Ninguém está sendo consolado com vãs promessas como Paciência, o barco virá. O barco vem. Ele já está chegando. Abre os olhos. No horizonte já se vê surgindo o barco natalino. Abre o coração. Enquanto no porto movimentado muitos estão correndo e trabalhando, vendendo e comprando – pare e olhe! Um barco vem. Natal está próximo.
Um barco carregado vem com precioso dom. Que carga traz este barco? Tesouros de outros continentes? Especiarias, tecidos ou até armas? E que pessoas se encontram a bordo? – Barcos unem as pessoas. Tripulantes e passageiros se tornam amigos. Barcos diminuem a distância entre pessoas e entre países. Os antigos cristãos usaram a imagem do barco para ilustrar a comunhão dos membros da igreja. Todos estamos no mesmo barco. Há diferenças entre nós. Mas um só é o Senhor.
O barco traz o Senhor amado. Desde a antiguidade o barco também é símbolo para uma mulher grávida. No caso do nosso hino o barco representa Maria, a mãe de Jesus. O verbo carregar, ferre em latim, também tem o significado de estar grávida. E o verbo latim gestare (= trazer) contém a raiz para gestante, gestação. Maria traz o Senhor amado. O precioso dom, que ela traz, é um sinal de vida nova, é o Filho de Deus. - Por isso o mais antigo manuscrito deste hino acrescenta, após cada estrofe, um estribilho em homenagem a Maria: Maria, mãe de Deus, / louvor seja dado a ti! / Tu nobre rainha, / de brilho angelical. Daniel Sudermann, na sua versão de 1626, omitiu este estribilho, e colocou no centro do hino o Senhor amado que traz graça e salvação.
2.- O barco vai suave, em meiga e santa luz. Não é qual outra nave, pois vem trazer Jesus. Sem grande alarido o barco se aproxima. Não se tocam buzinas, nem se soltam foguetes. Suave, em silêncio, sem gritaria ele vem. Poucos notam sua chegada. Pois 'trevas cobrem a terra e a escuridão os povos'. Mas a meiga e santa luz do barco acende nova esperança de dias melhores. O barco é bem diferente de outras naves. Não é como os navios mercantes que vem para fazer negócios, nem como um transatlântico onde os turistas se possam divertir. Pois vem trazer Jesus , o Salvador dos pecadores, o consolo para os entristecidos, a paz para os corações aflitos.
3.- O mastro altivo e forte é o Consolador, o Espírito Divino. A vela é o amor. A terceira estrofe faz referência à Triunidade divina. O amor de Deus empurra o barco em direção à terra. Pois: A vela é o amor. Esta vela esta fixada num mastro especial, alto e forte, que é o Espírito Santo. O vento sopra contra a vela. Mas o mastro forte garante a firmeza. O barco pode seguir seu caminho, mesmo em dias de tempestades, nas inquietações, nos altos e baixos da vida.
4.- O barco toca a terra – mistério celestial! O santo Deus encerra, que fez-se nosso igual. Finalmente o barco chega a terra e lança a âncora. Aconteceu o milagre de Natal. Maria deu à luz o seu filho primogênito. O resumo de tudo é: Deus se tornou pessoa humana, fez-se nosso igual. Ou, como o evangelista João o expressa: O Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade (João 1,14) – O hino nos ensina: a preciosa carga do barco destina-se, hoje e aqui, a todas as pessoas que lhe abrem seu coração.
5.- Menino Deus amado, nascido no desdém, serás à cruz pregado, sofrendo em nosso bem. A quinta estrofe fala da finalidade do nascimento de Jesus. A história do Natal é muito bonitinha. Uma criança recém-nascida sempre é algo comovente. Mas o destino de Jesus foi a morte na cruz. Um conto natalino relata que Maria, ao arrumar a manjedoura, machucou seus dedos num ramo de espinhos que se encontrava misturado entre palha e feno. Porém, a estrela acima do presépio lhe abriu os olhos para o mistério de Deus: o sofrimento de Jesus será para o bem da humanidade.
6.- Parece que as duas últimas estrofes foam influenciadas pelos distúrbios da Guerra dos 30 Anos (que havia iniciada em 1618). Elas nos ajudam a tirar conclusões para nossa vida cristã. Quem aceita a Jesus como Salvador aprende a levar humildemente cruz e sofrimentos desta vida. Pois ele prometeu estar conosco todos os dias. Enquanto o Emanuel = Deus conosco estiver ao nosso lado, cada dia da nossa vida pode ser um dia de Natal, dia de festa e alegria. E até podemos enfrentar morte e inferno, quando firmamos nossa fé em Jesus Cristo. Pois como ele venceu a morte, ressuscitando no terceiro dia, assim nós também podemos ser herdeiros de vida eterna e luz.
Fonte: Es kommt ein Schiff geladen - ein Lied macht Geschichte de Günter Ruddat, Bochum, 2007