Transformando espadas em arados

22/08/2011

“Para o monte de Sião correrão todas as nações... Pois de Sião sairá a lei e de Jerusalém, a palavra de Javé. Então ele julgará as nações e será o árbitro de povos numerosos. Eles transformarão as espadas em arados e as suas lanças em foices. Nunca mais as nações farão guerra. “ (Isaías 2: 2-4)

Os sinais em Israel eram de guerra. Os assírios – povo inimigo de Israel - tinham um exército forte e começaram a invadir o território pequeno de Israel. O que aconteceu no tempo de Israel ainda foi que o ataque dos assírios dividiu Israel. Começaram uma guerra entre si – a chamada guerra síria-efraimítica. Então o rei da Assíria tinha muita facilidade de invadir todo o Israel. O estado do Norte de Israel deixou de existir e passou a ser uma parte da Assíria.

Talvez não estejamos em guerra agora. Mas tempos tumultuados nós também conhecemos: Pensando em todos os países do Norte da Africa se levantando, reivindicando o direito à democracia. E os ditadores do Egito e agora da Síria reagindo com violência chamando o exército para bater, aprisionar e matar,... Aqui não tem guerra, nem guerra civil, mas o Brasil conhece outros conflitos internos: a luta contra a droga – sabemos quantos jovens estão viciados em craque e maconha e quantos são mortos por causa da venda de drogas. E a luta contra a corrupção. É incrível o que os políticos e empresários inventam para tirar lucros: superfaturamento de preços na construção de prédios civis, propinas de até 50 % acima do valor das coisas. O povo humilde paga os impostos e outros se enriquecem. É revoltante. Às vezes nem precisamos pensar em coisas de política. Perto de nós têm brigas nas nossas famílias, brigas no trabalho com colegas e chefes, brigas na comunidade... Como no tempo de Isaías.

Nesse tempo conflituoso Isaías coloca a visão dos povos chegando no monte de Sião. O monte de Sião é o lugar do templo em Jerusalém. Esse monte também é um lugar cheio de recordações de conflitos. Mesmo assim, esse monte sempre era símbolo da presença de Deus para o povo de Israel. Era ali onde “morava Deus”. Era ali onde ficava o templo – espaço santo para adorar.

Os povos chegam ao monte de Sião, e é então Deus do monte de Sião que chega a eles, que transforma o mundo de onde eles vêm. “Ele julgará as nações.” É preciso justiça – sem ela nunca haverá paz. Sem paz seria uma harmonia falsa que na primeira ocasião seria perturbada. São esses conflitos que não estão abertos, mas ardem em chamas debaixo do tapete. Tem que levantar o tapete e pegar o boi pelos chifres – senão toda a harmonia só vai agravar o conflito. Tem que pesquisar o que é verdade, porque se não a paz é uma paz hipócrita. Por isso Deus julgará os povos – porque não há paz sem justiça e sem a verdade.

E o que significa isso? Nós na igreja falamos muito em amor, em harmonia, em paz. Mas trabalhamos muito pouco para se conseguir isso no dia-a-dia. Num conflito ficamos perdidos nos nossos sentimentos. O que muitas vezes precisa é: primeiro tentar conhecer os fatos atrás dos argumentos. Muitas vezes os fatos são distorcidos para se tornar favorável a minha posição. Mas não há reconciliação sem a verdade. “Vocês conhecerão a verdade e a verdade vos libertará” (João 8:32)

E em segundo lugar: Para resolver o conflito tem que ouvir! É tão importante que um escuta o outro e realmente se coloca no lugar do outro tentando entender porque ele pensa assim, fala assim, sente assim. É exatamente esta a postura do amor: prestar atenção às necessidades dos outros e tentar entender. E é falta de amor quando a gente não quer ouvir, não quer entender porque isso é tão importante para o outro lado.

Então: a verdade e a justiça trazem a paz. E a partir daí que o profeta traz uma imagem muito bonita, sobre o que significa paz: “Eles transformarão as suas espadas em arados e as suas lanças em foices. Nunca mais as nações farão guerra nem se prepararão para batalhas.” Imaginem: todos os povos fariam das suas armas ferramentas para trabalhar a terra – para plantar e alimentar, em vez de destruir e matar. Imaginem se nós homens pudéssemos recolher todas as armas do mundo – metralhadoras, pistolas, tanques, navios e aviões de guerra, e destruir todas elas, fazer dos navios e aviões meios de transporte para trigo e pão? Imaginem todo esse dinheiro que todos os anos é destinado para sustentar exércitos, armas nucleares, sistemas de defesa e toda a pequisa da guerra – se todos esses recursos fossem usados para combater a fome no mundo? Seria uma revolução – uma revolução para o bem, porque sabemos: o armamento mata sem ter guerra. O armamento mata porque tira os recursos de onde seriam necessários para sustentar
vida. E a máquina da guerra é muito cara.

E nós no nosso mundo pequeno? Conseguimos forjar das espadas arados? O que fazemos com a nossa decepção e a nossa raiva quando nós entramos em conflito? Muitas vezes entramos num jogo de poder de quem é mais forte que depois vai acabar em nada. Será que nós vamos conseguir moldar essas ferramentas de guerra – as palavras que machucam, os gestos que desprezam, as ações que cobram, em ferramentas de paz: perguntas que tentam entender melhor, conversas que esclarecem, ações que reconciliam? A criatividade não tem limite. E a paz vai vencer até chegar a paz eterna que só Jesus Cristo pode dar: “Deixo com vocês a paz. É a minha paz que eu lhes dou. Não lhes dou a paz como o mundo a dá. Não fiquem aflitos, nem tenham medo.” (João 14:27)

Christine Drini, pastora da EKD
na Paróquia Martin Luther
Rio de Janeiro - RJ

 


Autor(a): Sínodo Sudeste
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste
Testamento: Antigo / Livro: Isaías / Capitulo: 2 / Versículo Inicial: 2 / Versículo Final: 4
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Meditação
ID: 7659
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Quanto mais a gente de embrenha na Criação, maiores os milagres que se descobre.
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