Transfiguração de Jesus Lc 9.28-37

Prédica em Lucas 9.28-37 autoria P. Me. Alexander R Busch

20/02/2022

 

Estimada comunidade,
Na vida existem momentos tão especiais, quando gostaríamos que aquele momento ficasse congelado no tempo. E exemplos existem muitos, tais o dia do casamento, o nascimento de uma filha ou um filho, o reencontro entre amigos que não se viam a tanto tempo. São momentos marcantes que, mesmo sendo curtidos ao máximo, chegam ao fim, e as pessoas retornam para sua vida normal do dia a dia. Momentos especiais não podem ser prolongados para sempre, mas certamente ficam na memória.

Na história do evangelho encontramos Jesus e seu grupo caminhando em direção à cidade de Jerusalém, onde Jesus vai ser elevado na cruz no alto de um monte como sinal do amor e da redenção de Deus. Mas isto os discípulos de Jesus ainda não sabem e nós também não precisamos nos adiantar com a história. Na história de hoje Jesus ainda está no caminho, no caminho para sua cruz.

E no caminho, quando chegam perto de um monte, Jesus decide subir ao seu topo para orar, levando consigo três discípulos, Pedro, Tiago e João. Na tradição bíblica, o alto de um monte é o local onde muitas vezes onde Deus revela sua vontade. E é isto que de fato acontece. Quando chegaram ao topo, Pedro, Tiago e João, que estavam dormindo enquanto Jesus orava, tiveram uma experiência difícil de descrever com palavras. Talvez a luz brilhante os tenha acordado, assim como nós, quando dormindo e alguém acende a luz do quarto, somos despertados do sono. Ao acordar, Pedro, Tiago e João viram a aparência de Jesus em glória e viram os dois homens que acompanhavam Jesus. O texto nos diz que enquanto orava, Jesus mudou de aparência e sua roupa ficou muito clara e brilhante, e Moisés e Elias se aproximaram de Jesus. Era um momento especial, extraordinário, fora do comum. O que os discípulos estavam vivenciando era muito mais bonito do que o horizonte que se podia avistar do alto do monte. Naquele momento e local, os companheiros de Jesus estavam enxergando além do horizonte. Eles estão enxergando a eternidade, admirando a luz e glória que brilha em Jesus. É uma experiência além da compreensão e palavras humanas. É uma experiência para ser acolhida na fé, na confiança de que Deus está se manifestando neste momento.

Foi quando Pedro teve a ideia e disse para Jesus, “Mestre, como é bom estarmos aqui! Vamos armar três barracas: uma para o senhor, outra para Moisés e outra para Elias”. Pedro queria que aquele momento ficasse congelado no tempo e no espaço para ele poder curtir aquela visão bonita e cheia de vida. Eles estão vivenciando uma experiência marcante. Até mesmo Moisés e Elias estão presentes nesta visão da eternidade. Lembrando que Deus se revelou a Moisés no alto de uma montanha, lhe dando as tábuas dos X mandamentos para entregar ao povo de Israel. E Elias, por sua vez, é aquele profeta, que, segundo o livro de 1Reis, estava bastante deprimido, escondido em uma caverna no alto do monte Sinai, quando Deus levantou Elias de sua depressão e o enviou de volta ao povo para continuar sua missão como profeta.

Moisés e Elias, duas figuras importantes da história do povo de Israel, e Jesus, envolto em glória e luz, uma visão da eternidade preparada por Deus para seu povo. Podemos imaginar porque Pedro, Tiago e João querem permanecer no alto do monte? Podemos compreender seus sentimentos e desejo de ficar ao lado de Jesus no topo da montanha, longe das tarefas e dificuldades lá de baixo? Para que retornar ao pé da montanha, ao mundo com todas suas dificuldades e desafios? Não é muito melhor ficar aqui no alto do monte, com Jesus em glória?

Mas aqui vem uma pergunta importante: Não é este também o risco para a igreja, olhar para Jesus e esquecer o mundo, olhar para Jesus e ignorar as tarefas e dificuldades que existem lá embaixo? Não é verdade que é mais fácil dizer e cantar no culto que nós amamos Jesus, mas ao descer do monte, ao retornar ao mundo, temos dificuldade com a tarefa de amar as pessoas? Como igreja, será que não corremos o risco de separar em duas partes o amar a Deus e o amar as pessoas, como se uma não estivesse ligada à outra?

A história do evangelho continua falando que Pedro não sabia o que ele estava dizendo. Pedro ainda estava falando, quando é interrompido por uma voz que diz, “este é o meu Filho, o meu escolhido. Escutem o que ele diz!’” (Mt 17.5). Escutem o que Jesus Cristo diz. É a voz de Deus dizendo para os discípulos, dizendo para nós: Jesus o Messias é maior do a lei do Antigo Testamento representado por Moisés; Jesus o Messias é maior do que a mensagem dos profetas representado por Elias. Jesus é o ápice, o topo da revelação de Deus. Jesus é o eterno Filho querido de Deus. “Escutem o que ele diz”. Deus revela Jesus como Senhor e mestre. É ele a quem devemos ouvir. É Jesus quem demarca o caminho que devemos percorrer. É ele quem define a vida que devemos viver. “Escutem o que ele diz”.

A partir deste instante, os discípulos ficaram calados. Sim, é necessário se calar, silenciar, para ouvir o que Jesus tem para nos dizer. E Jesus fala através de um gesto de uma ação. Diz o texto, “no dia seguinte, Jesus e os discípulos desceram do monte, e uma grande multidão veio se encontrar com Jesus”. Ou seja, Jesus não seguiu adiante com a proposta de Pedro em armar três barracas no alto do monte. E aquele momento especial, com Jesus, Moisés e Elias, por mais especial e marcante, não pode ser prolongado para sempre. Certamente ficou na memória de Pedro, Tiago e João que relataram esta experiência a outras pessoas e eventualmente este momento marcante foi registrado por Lucas neste livro que ele escreveu sobre Jesus. O momento marcante passou e Pedro, João, Tiago e Jesus desceram do monte para se encontrar com a multidão.

Pois a intenção do Filho escolhido por Deus não é permanecer no topo. Ainda há trabalho a fazer. Ainda existe uma missão a cumprir. É preciso descer do monte para amar a Deus e amar as pessoas onde elas estão, neste mundo, neste chão e neste tempo onde nós também nos encontramos.

Sobre isto o pastor luterano Bonhoeffer certa vez escreveu, “No caminho para a eternidade, a pessoa cristã não tem uma rota de escape das tarefas e dificuldades terrenas, mas, como Jesus Cristo, tem que beber do copo da vida terrena até a última gota, para morrer e ser ressuscitado com Cristo” (D. Bonhoeffer Cartas da Prisão, 27 de junho, 1944).

Assim sendo, os discípulos, incluindo você e eu, nós estamos no caminho com Jesus. É preciso retornar ao mundo das tarefas e dificuldades terrenas. É necessário descer o monte e retornar para as pessoas que ficaram lá em baixo. A voz de Deus diz, “Este é o meu filho. Escutem o que ele diz!” E o que Jesus nos diz é que amar a Deus inclui momentos marcantes de comunhão com Deus, mas não somente isso. O que Jesus nos diz é que amar a Deus inclui amar as pessoas. Não é possível separar o que não pode ser separado, o amor a Deus e o amar as pessoas estão entrelaçados, ligados um com outro.

Tal verdade nos é revelada no próprio Jesus, filho de Deus, que desce de sua glória, do monte assim por dizer, para se fazer gente e caminhar entre nós, neste mundo com todas suas tarefas e dificuldades. É por amor às pessoas que Jesus nos revela o amor de Deus. Queira Deus abrir nossos ouvidos para escutar a voz de Jesus, que nos chama para amar a Deus e amar as pessoas. Amém.



 


Autor(a): P. Me. Alexander Busch
Âmbito: IECLB / Sinodo: Rio Paraná / Paróquia: Maripá (PR)
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Testamento: Novo / Livro: Lucas / Capitulo: 9 / Versículo Inicial: 28 / Versículo Final: 37
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 66147
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Nenhum pecado merece maior castigo do que o que cometemos contra as crianças, quando não as educamos.
Martim Lutero
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