Tudo neste mundo tem seu tempo; cada coisa tem sua ocasião. Há tempo de nascer e tempo de morrer; tempo de plantar e tempo de arrancar. Há tempo de ficar triste e tempo de se alegrar; tempo de chorar e tempo de dançar; tempo de abraçar e tempo de afastar; tempo de ficar calado e tempo de falar. (Eclesiastes 3)..
O tempo de nossa vida é marcado por diferentes tempos. E a sabedoria do livro de Eclesiastes fala justamente sobre isso. Há tempos que trazem junto consigo boas experiências e boas sensações. E estes tempos são fáceis de aceitar. Há tempos que só nos trazem alegria e felicidade, risos e satisfação. Esses tempos a gente nem discute. Gostamos deles e desejamos preservá-los e perpetuá-los. Ou seja, o tempo, no singular, pode ser subdividido em muitos e diferentes tempos, no plural.
No entanto, integram este plural também aqueles tempos difíceis de engolir... Tempos e períodos do tempo de nossa vida que trazem dor e inquietação. Nem tudo no tempo de nossa vida conseguimos compreender. Mesmo que não concordemos e inclusive saibamos que precisa ser diferente, há tempos de conflitos nos quais facilmente nos vemos envolvidos contra a nossa própria vontade. Nesse sentido a sabedoria de Eclesiastes faz uma análise dura e realista da vida: há tempo para tudo, até mesmo para o que nos fere, incomoda e insatisfaz. E se há tempo para tudo, isso significa que sempre permanece em aberto a possibilidade de que o sentido da vida e seu valor sejam rasgatados: o tempo da renovação, da esperança renascida, tempo da Graça.
Convém aprender a calar quando é tempo de calar; a falar quando é tempo de falar... Convém aprender a abraçar para recuperar o carinho e deixar de abraçar quando se instala a injustiça. Isso é parte da dimensão das possibilidades humanas a partir deste texto. Mas é preciso lembrar que ele não fala apenas das possibilidades humanas. Essa é uma das dimensões. Ele fala sobretudo da realidade humana sob a direção do Senhor do Tempo... Aceitar isso mediante a fé e a confiança é tempo de sabedoria.
Deus nos oferece distintos tempos, e com eles pode nos trazer sofrimento ou realização, dor ou felicidade. E este último aspecto é central na compreensão do texto de Eclesiastes. Não há ser humano que possa dizer que nunca enfrentou ou nunca enfrentará de alguma forma um pouco do que as palavras desta sabedoria do Antigo Testamento expressa. Não há ser humano que possa dizer que tem respostas para todas as dúvidas e inquietações que enfrenta diante dos diferentes tempos do tempo da sua vida.
Se concordarmos que o tempo de nossa vida não é nosso, mas de Deus, e que se passa sob a sua graça e cuidado, não seria correto também oferecermos a ele, em sinal de gratidão, sempre renovadamente uma parcela do nosso tempo? Que mais podemos desejar senão que Deus nos ajude a compreender e a conviver com o tempo e os tempos que nos concede? Porém não como indiferentes ou alienados. Antes como seus parceiros ativos na construção de bons tempos para cada ser humano.
Manfredo Siegle
pastor da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB)
na Paróquia Cristo Bom Pastor
em Joinville - SC
Jornal ANotícia - 01/10/2004