Temos necessidade de cuidados

Palavra profética contra as pessoas que se mostram "maus pastores".

22/07/2018

Jeremias 23.1-6
“— Ai dos pastores que destroem e dispersam as ovelhas do meu pasto! — diz o Senhor. Portanto, assim diz o Senhor, o Deus de Israel, a respeito dos pastores que apascentam o meu povo: “Vocês dispersaram as minhas ovelhas e as afugentaram, e não cuidaram delas. Mas eu tratarei de castigar vocês por causa das maldades que praticaram, diz o Senhor. Eu mesmo recolherei o remanescente das minhas ovelhas, de todas as terras para onde as tiver dispersado, e as farei voltar aos seus apriscos; serão fecundas e se multiplicarão. Porei sobre elas pastores que as apascentem, e elas jamais terão medo, nem ficarão assustadas; nem uma delas faltará, diz o Senhor.” — Eis que vêm dias, diz o Senhor, em que levantarei a Davi um Renovo justo; e, como rei que é, reinará, agirá com sabedoria e executará o juízo e a justiça na terra. Nos seus dias, Judá será salvo, e Israel habitará seguro. E este será o nome pelo qual será chamado: “Senhor, Justiça Nossa”.” (‭NAA‬‬)


INTRODUÇÃO
Nas últimas semanas temos sido lembrados, por diversos textos bíblicos desta época litúrgica, a respeito da ação de profetas. Jeremias é mais um destes que precisa fazer uso de palavras duras contra o povo de Israel. De maneira obscena e indecente o povo de Deus se prostituiu, ou seja, buscou auxílio de outras formas que não as que Deus havia determinado para os que são seus.

O povo passou a servir a outros deuses que, além de serem inúteis quanto ao auxílio que poderiam proporcionar a esta gente toda, eram promotores da desgraça profética que sobreviria (e sobreveio!) sobre quem deveria evitar contato e dependência de outras divindades. É inevitável que a rebelião entre sacerdotes, profetas, líderes e povo em geral criasse dimensões absurdas, onde ninguém mais era capaz de discernir entre o que é bom e o que é mau, entre justo e não justo.

Jeremias abriu, finalmente, a boca para declarar com todas as letras: “Ai dos pastores que destroem e dispersam as ovelhas do meu pasto!” “Vocês dispersaram as minhas ovelhas e as afugentaram, e não cuidaram delas. Mas eu tratarei de castigar vocês por causa das maldades que praticaram, diz o Senhor.”

Vou me referir às palavras e ensinamentos do profeta fazendo uso de quatro “retalhos” de pensamentos que foram compartilhados comigo nesta semana.

1.
A TRAGÉDIA DAS OVELHAS

O povo de Deus é comparado a um rebanho de ovelhas. Tanto no Antigo quanto no Novo Testamento esta comparação fica evidente quanto ao seu significado de proteção e cuidado. Ovelhas precisam de pastor. Precisam de guias. Tanto assim que os reis se consideravam pastores. O Salmo 23 aponta para Deus como o Pastor, e quem se apropria do texto é Davi, o rei e protetor de seu povo. É então que acontece a tragédia – Davi também não foi santo – quando mandantes se entendem como protetores de ovelhas acima de qualquer suspeita.

A Vera compartilhou uma citação do Frei Edilson Yoshimura Bezerra e que vai ao encontro deste pensamento. O autor inclui o filósofo Nietsche nesta reflexão. Uma vez reduzida a humanidade a rebanho, só lhe resta um desejo: achar a ovelha-guia. Nunca essa observação de Nietzsche pareceu tão atual. O trágico é que a ovelha-líder, por via de regra, é um lobo travestido de ovelha. Isso vale para púlpitos e palanques. Nestes e naqueles, a retórica lupina é um canto de sereias que hipnotiza as ovelhas estúpidas.

Sim, a tragédia das ovelhas acontece quando elas simplesmente reproduzem ações que a ovelha-guia faz (saltos, guinadas, corridas...) sem se perguntar os por quês e para quês. 

Não sejamos a parcela da humanidade reduzida a um rebanho. Busquemos comunhão onde encontramos bons e justos pastores. “Porei sobre elas pastores que as apascentem, e elas jamais terão medo, nem ficarão assustadas; nem uma delas faltará, diz o Senhor” anuncia o profeta.


2.
O QUE OVELHAS NOS ENSINAM.

O século XVI foi tempo de grandes mudanças. Além das descobertas de novos continentes, avanços na ciência e medicina, também aconteceu a reforma da Igreja. Entre outras muitas coisas, este tempo fez surgir importantes artistas dos pinceis. Para o tema de hoje, destaco Pieter Bruegel (1525-1569), um pintor de multidões e de cenas populares, com uma vitalidade que transborda facilmente do quadro. Nasceu pobre em lugar humilde, integrante de família de pequenos agricultores. Digo tudo isso porque quando alcançou a fama, teriam lhe perguntado: “Não lhe incomoda o fato de ter sido, por tantos anos, pobre, um mero pastor de ovelhas que não falam, não ensinam nada, que são tolinhas?” O artista encarou seu interlocutor e prontamente respondeu: “O sr. sabe? Com as ovelhas se aprende sobre a vida, e sobretudo se reconhece qual dentre elas é apenas uma ovelha estúpida e qual é sagaz. Basta um só olhar.”

Provavelmente todos os animais levam vantagem sobre a ovelha. O leão é valente. O cavalo é veloz. O pássaro busca sua comida em qualquer lugar. Mas a ovelha leva a vantagem de ter ao seu lado um pastor. A ovelha não precisa se defender; ela é cuidada e tratada por seu pastor. O pastor conhece cada uma de suas ovelhas. Carrega as pequenas e tange as maiores. Trata das doentes e poupa as cansadas. Feliz da ovelha que tem um pastor dedicado!

Sem querer reduzir a humanidade a um rebanho de ovelhas indefesas, vale o cuidado: a arrogância de certas pessoas que se dispõe a pastorear rebanhos de qualquer jeito, é profundamente danosa para a vida. Encontrar alguém que seja “pastor” cuidadoso e íntegro é um desafio para cada pessoa. Já encontrou o seu?

Jesus diz: “Eu sou o bom pastor. Conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem.” João‬ ‭10.14‬ (‭NAA)

‬‬
3.
A REVOLUÇÃO DAS OVELHAS

O povo que tem pastores condizentes com sua função cuidadora e protetiva, sabe que pode mais. Não vive de susto em susto. Mesmo que entre dificuldades, sabe que 99 poderão ser deixadas de lado, em segurança, para que aquela uma ovelha seja resgatada de sua perdição (Lucas 15). Saber-se cuidada, traz a sensação de plenitude e confiança que ovelhas do rebanho cristão humano precisam para fazer frente a situações que geram dor e tristeza, também social.

Lembrei do filme “A fuga das galinhas” que bem poderia ter uma versão “A revolução das ovelhas”. Quando descobrem seu potencial, estes “animais sagazes” podem promover uma transformação radical do estado das coisas. Ah, como se faz necessária uma revolução destas.

O Clóvis compartilhou um texto do Pastor Glenn Wagner (Charlotte, Carolina do Norte, USA). Eu penso que uma igreja liderada por pastores que cuidam do rebanho provocaria uma visão da vida humana tão radicalmente atraente que nossa sociedade secular não teria outra opção senão clamar para entrar nela”. 

Sim, isto seria sensacional. O problema da falta de pastoreio estaria resolvido. O Pastor continua: “Poderia Deus estar retendo a mão do reavivamento até que nossas igrejas sejam agraciadas com pastores de ovelhas? Creio que este poderia ser o caso e esta é outra razão por que estou tão apaixonado em descobrir a sabedoria do modelo divino do pastor. 

Quem sabe a revolução ainda esteja longe de acontecer – revolução pacífica a partir do entendimento do amor divino – porque lobos estão travestidos de ovelhinhas. Que a Igreja – especialmente a nossa – tome cuidado para não ser a causa da decepção e desilusão de tanta gente, cada vez mais gente, a procura de um pasto verdejante e águas puras para sua sobrevivência. Qual o nosso modelo de pastoreio?


4.
O PASTOR QUE AS OVELHAS QUEREM

Este quarto retalho se refere a um dos textos litúrgicos indicados para o dia.

Poderia ter escrito “o pastor que as ovelhas precisam”, mas nem sempre estamos de acordo com o que cada pessoa precisa. Posso pensar que você precisa tomar determinada atitude, mas você não quer nem saber disso. O que eu acho necessário, você pode pensar não ser necessário, e todos podemos ter razão.

Mas todos queremos que boas coisas aconteçam em nossa vida. Todos queremos que o bem sobressaia na vida da comunidade e na sociedade. E Jesus sabe disso. Ele quer isso. Por isso não se isola das pessoas. Vai ao encontro delas e sabe exatamente do que necessitam. O texto nos é compartilhado pelo Marcos, o primeiro evangelista:

“Ao desembarcar, Jesus viu uma grande multidão e compadeceu-se dela, porque eram como ovelhas que não têm pastor. E começou a ensinar-lhes muitas coisas.” (Marcos‬ ‭6.34‬ ‭NAA‬‬‬‬‬‬)

Quero e preciso de um pastor que cuide de mim e me dê a segurança de que “nada me faltará”. Você quer e precisa também desse Jesus que, pelo seu ensino e testemunho, nos faz viver em rebanho. Não um rebanho de ovelhas estúpidas, mas daquelas que se sentem seguras para seguir e agir de acordo com o Bom Pastor.

CONCLUSÃO
É impossível dar a correta direção para compreender a profecia de Jeremias sem levar em conta seu clímax: o Renovo. Jesus é o crivo pelo qual precisa passar todo pastor, todo governante, todo líder, toda autoridade. O juízo e a justiça não é mais, em última palavra, resultado da ação de “pastores”, sejam bons ou não. O que é justo resulta da ação do Renovo de Davi, Jesus, o Senhor e Salvador.

Jesus não é mais um pastor na lista dos mandantes, mas é a justiça que se torna carne e habita entre nós cheio de graça e verdade.
Somente Jesus pode ser a concretização da esperança para a Igreja que se ocupa com o justo e correto pastoreio de seu rebanho. Você se relaciona como com este Jesus Pastor?

Amém.
 


Autor(a): Pr. Rolf Rieck
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Rio de Janeiro - Martin Luther (Centro-RJ)
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Testamento: Antigo / Livro: Jeremias / Capitulo: 23 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 6
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 48045
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