Solus Christus – Somente Cristo

01/12/2014

Solus Christus
– Somente Cristo –

P. Dr. Emílio Voigt

Em uma construção, as paredes, as aberturas e o telhado são as partes que mais aparecem. Mas o fundamento, que nem sempre é visível, é essencial para que uma casa ou edifício se mantenha em pé. Toda construção precisa ser edificada sobre um bom fundamento, como nos diz uma história contada por Jesus há quase dois mil anos:

Todo aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as pratica será comparado a um homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha; e caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram com ímpeto contra aquela casa, que não caiu, porque fora edificada sobre a rocha (Mateus 7.24s).

Assim como uma casa e como a vida cristã, também a igreja precisa estar fundamentada em um alicerce seguro. A igreja luterana é, antes de tudo, uma igreja cristã. Como tal, ela está fundamentada na palavra de Deus. Mesmo assim, as igrejas não são iguais. Há características que as diferenciam. Quais seriam as características de uma igreja cristã que se diz luterana?

Martim Lutero apontou para quatro princípios que não definem apenas as características da igreja, mas que servem como base para a vida de cada pessoa. Esses princípios são conhecidos também como pilares da reforma protestante. São eles: Somente Cristo, Somente a Graça, Somente a Fé e Somente a Escritura (Bíblia).

O princípio “Somente Cristo” foi decisivo para desencadear o Movimento da Reforma. Por muito tempo, Lutero viveu angustiado com a pergunta: Como encontrar um Deus misericordioso? Para nós, essa pergunta pode parecer estranha e até banal. Na época de Lutero, era uma questão que afligia muita gente. Deus era compreendido como um ser terrível, que punia as pessoas em vida e as enviava ao purgatório e ao inferno após a morte.

A ideia de um Deus castigador estava baseada em uma compreensão errada da justiça de Deus. Justiça de Deus era compreendida pelo princípio de dar a cada qual o que lhe é devido. Ou seja, a pessoa recebe o que merece. Se for uma pessoa justa, deve receber a devida recompensa. Se ela comete pecado, merece castigo. Acontece que ninguém consegue chegar diante de Deus sem pecado. Logo, ninguém escaparia do castigo divino.

Esta compreensão da justiça de Deus marcou a vida de Lutero por muito tempo. Ele procurava de todas as maneiras, agradar a Deus e tornar-se justo. Mas por mais que se esforçasse em orações, meditações, penitências e boas obras, percebia que não conseguia fazer o suficiente. Quanto mais procurava se aproximar de Deus, sentia que mais se afastava Dele. Chegou a odiar a Deus, por ver em Deus somente a face do juízo.

A vida de Lutero mudou quando ele compreendeu a justiça de Deus de forma diferente. Não se trata de justiça através da qual Deus pune, mas da justiça que Deus concede, perdoando os pecados. Deus não quer a condenação, mas a salvação das pessoas. Essa justiça de Deus se revelou em Jesus Cristo. Em Cristo, Deus não impõe condições para a acolhida e para o perdão. Por isso Lutero pode dizer que justiça é o conhecimento de Cristo.

Lutero descobriu o lado amoroso de Deus, que se revelou na vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo. A partir daí compreendeu que nada precisava, aliás, nada podia fazer para sua justificação. Tudo já havia sido feito por Cristo. É isso o que significa “somente Cristo”. A pessoa não depende de méritos e qualidades para ser aceita por Deus. Somente Cristo basta.

A vida e a obra de Jesus Cristo demonstram que o fundamento da justiça divina é a compaixão. Ela é diferente do nosso senso de justiça, que muitas vezes se baseia na aparência, no mérito, na intolerância, no pré-julgamento. Em Jesus Cristo Deus se revela na miséria, na fraqueza, na dor, no sofrimento. O poder de Deus não se manifesta em riqueza, pompa e majestade, mas na cruz. Na cruz encontramos um Deus misericordioso e solidário com o sofrimento humano. Com o poder do amor, vence a injustiça, a violência e a morte.

Assim testemunha o apóstolo Paulo: Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores (Romanos 5.8).

O autor é Pastor da IECLB;
atua na Assessoria de Formação do
Sínodo Vale do Itajaí e reside
em Blumenau/SC

O texto acima, que faz parte da Série: Fundamentos da Teologia Luterana também pode ser solicitado em forma de Folheto Evangelístico por E-mail: folhetos@centrodeliteratura-ieclb.com.br .


Voltar para índice Anuário Evangélico 2015


Autor(a): Emílio Voigt
Âmbito: IECLB
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Luteranos em Contexto
Título da publicação: Anuário Evangélico - 2015 / Editora: Editora Otto Kuhr / Ano: 2014
Natureza do Texto: Artigo
ID: 35025
REDE DE RECURSOS
+
Não somos nós que podemos preservar a Igreja, também não o foram os nossos ancestrais e a nossa posteridade também não o será, mas foi, é e será aquele que diz: Eu estou convosco até o fim do mundo (Mateus 28.20).
Martim Lutero
© Copyright 2024 - Todos os Direitos Reservados - IECLB - Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil - Portal Luteranos - www.luteranos.com.br